Entre Nós, Apenas o Silêncio

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POV NARRADOR*

Era manhã de quarta-feira, mais um dia comum em sua vida. Como sempre, Gab acordava às 4:00 da manhã, e saia para correr enquanto o silêncio ainda dominava a cidade. O frio da madrugada a acompanhava enquanto corria pelo Central Park, sentindo o ritmo de sua respiração se misturar ao som suave dos passos na calçada vazia de Nova York, ainda adormecida, oferecendo uma sensação de solidão que, de alguma forma, era reconfortante

Por ser alguém que detestava fugir da rotina, Gab sempre seguia os mesmos passos todas as manhãs. Saía para correr, com a cidade ainda mergulhada no silêncio. Após a corrida, fazia questão de parar no café local para pegar seu expresso, o único luxo que permitia a si mesma naquele horário. Caminhava de volta para casa, com os fones de ouvido ajustados para deixar a voz suave de Frank Ocean preencher o vazio. E como em todas as manhãs, ela sentava na porta de sua casa e ficava observando as pessoas passarem, cada uma vivendo sua própria rotina, como ela fazia todas as manhãs.

Gab observava as pessoas enquanto tomava o expresso, sentado na escada de casa. Era uma manhã qualquer, mas ela sempre encontrava algo de interessante nas pequenas rotinas dos outros. Ela notava o ritmo apressado de alguns, a calma de outros, como se a a cidade se dividisse entre os que estavam em movimento e os que se permitiam uma pausa. Gab não se encaixava exatamente em nenhum dos dois grupos. Era mais uma observadora, atenta aos detalhes, como se o mundo ao seu redor fosse um jogo onde ela sempre tentava antecipar os próximos passos. Não que fosse realmente importante; era apenas uma forma de se manter alerta, de não perder nada, o que sempre fazia, talvez por sua experiência no exército ou por simplesmente ser alguém que gostava de se sentir no controle da situação, mesmo que a situação fosse apenas uma rotina diária.

POV GAB*

Depois da licença do exército, tenho me esforçado para preencher os espaços vazios da minha rotina, tentando evitar o tempo ocioso. O Vitor me chamou para uma social na casa dele mais tarde, mas ainda não decidiu se vou. Ele disse que teria algo a ver com alguém que estava vindo do Brasil. Fico imaginando quem seria essa pessoa e o que ela teria de tão interessante para que uma simples reunião de amigos ganhasse esse ar de mistério.

Ainda sentada na escada, continuo observando. Talvez eu não seja a única apegada a uma rotina. Do outro lado da rua, vejo a Madison, minha vizinha, como todas as manhãs, colocando as crianças no carro. O movimento é quase mecânico: ela ajeita o cinto de segurança de um, acerta o cabelo de outro, tudo com a mesma precisão de sempre. É como se a rotina dela fosse um reflexo da minha, só que em um ritmo completamente diferente, mais acelerado, como se o tempo fosse mais urgente para ela. Eu não sou boa em seguir o fluxo das coisas, mas, de alguma forma, vejo um conforto na repetição dos outros.

Decido entrar em casa, o cheiro de café e o frescor da manhã me acompanha até a porta. Preciso tomar um banho e me ajeitar para sair, então, ao passar pela sala, falo em voz alta.

- Alexa, quais são os compromissos de hoje?

O assistente virtual responde sem hesitar:

- Hoje, na sua agenda, a senhora tem compras às 09:00 da manhã e um almoço com sua irmã às 12:30. .

Não são grandes compromissos, mas eles ajudam a manter a cabeça ocupada O relógio não para, mas ao menos a agenda parece sempre seguir seu curso. Quando saio do banho, ouço meu celular tocar. Vejo que é o Vitor ligando. Atendo com a toalha ainda enrolada ao redor de mim.

- Amiga, você vem hoje, né? - ele pergunta, já com aquele tom de quem sabe que vai me convencer.

- Eu não sei, Vitor, ainda não decidi... Não é de bom tom encher a cara em plena quarta-feira, - respondo, rindo um pouco.

Além De Nós DuasOnde histórias criam vida. Descubra agora