Além De Nós Duas

Nos Limites da Calma

POV NARRADOR*

Amanhecia em Nova York, e Gab já percorrera o caminho costumeiro pelo Central Park, deixando as lembranças da noite passada para trás. O ar fresco de início de outono trazia uma tranquilidade que ela sempre buscava em suas corridas matinais. Sentia o coração bater em um ritmo constante, acompanhando o som dos passos no chão e a melodia baixa de Frank Ocean, que saía dos seus fones de ouvido.

Entretanto, a calma daquela manhã foi interrompida quando, ao virar uma curva, ela avistou alguém familiar mais à frente. Inicialmente, seus olhos demoraram alguns segundos para se ajustar à figura que caminhava na sua direção, mas logo a seguiram: Natália, distraída, também parecia absorvida pela paisagem.

Natália, então, olhou para o lado, e seus olhos se encontraram. Ela abriu um sorriso ao vê-la, e Gab, ainda sem respiração, parou ao seu lado, sentindo o inesperado calor a rotina fria daquela manhã.

POV NATÁLIA*

Acordei cedo hoje, com a cidade praticamente ainda adormecida. A empolgação de estar em Nova York me mantinha desperta, e logo peguei o celular para buscar um destino para essa energia. Como chegar ao Central Park? digitei no Google, pensando que talvez um passeio pela manhã fosse a melhor maneira de começar o dia.

Vesti uma roupa confortável, prendi o cabelo sem muita cerimônia e, sem planejar muito mais, desci do prédio rumo ao parque. Caminhei por entre as árvores, me perdendo um pouco nas trilhas, e me senti mais leve do que me lembrava há tempos. Aquele lugar era exatamente como eu imaginava e ainda mais mágico ao vivo, com o verde das árvores iluminado pela luz suave da manhã.

Foi enquanto eu seguia uma das trilhas que notei uma figura familiar entre os corredores. Aquela postura decidida, o olhar focado, o ritmo constante - só poderia ser a Gab. Ela não me viu de primeira, então aproveitei um segundo para observar. Ela corre com a concentração de quem transforma aquela atividade em algo essencial, como se estivesse vivendo um ritual. Mas, então, ela olhou para o lado, e nossos olhares se encontraram.

Naquele instante, quase sem pensar, sorri para ela.

- Você saiu sem se despedir ontem - comentei assim que Gab parou ao meu lado, ainda ofegante da corrida. Ela soltou uma risada, daquelas que revelaram um hábito já conhecido.

- Eu tenho essa péssima mania - respondeu, rindo levemente, como se isso fosse uma confissão comum.

- Não imaginei que fosse encontrar você aqui, ainda mais nesse horário - comentei, observando-a enquanto ela recuperava o fôlego.

- Surpresa? - Gab consentiu, levantando uma sobrancelha. - Eu corro aqui quase todas as manhãs. E você? Não achei que madrugadas fossem sua praia.

- Normalmente não são - confessei, rindo. - Mas, como é a minha primeira vez em Nova York, decidi explorar a cidade sem hora marcada.

Ela assentiu, com um brilho curioso no olhar.

- E o Central Park foi o primeiro lugar que veio na sua cabeça?

- É, exatamente. Tem algo meio mítico nesse lugar. Não sei, parece que as pessoas encontram o que procuram quando chegam até aqui.

- Talvez até alguém inesperado - ela respondeu, a voz suave, com um toque de provocação, enquanto eu lançava um olhar intrigante.

Por um momento, ficamos em silêncio, como se as palavras não fossem suficientes para o que estava acontecendo entre nós.

- Tô no final da corrida - ela disse, olhando rapidamente para o relógio no pulso. - Geralmente, eu passo em uma cafeteria aqui perto pra tomar um café. Quer ir?