Além De Nós Duas

No Limite Do Silêncio

POV NARRADOR*

Gab sentiu que precisava de um momento de pausa. A festa estava animada, e, embora gostasse de ver Vitor e os amigos, ela se sentiu distraída, com os pensamentos girando em uma direção inesperada. Após mais um gole de vinho, decidi sair por uma porta lateral que levava ao pequeno jardim da casa, procurando um pouco de ar fresco.

Ela mal havia se encostado no nível da varanda e respirado fundo, quando ouviu passos suaves atrás de si. Virando-se, deparou-se com Natália, que parecia surpresa, mas encantada ao encontra-la ali. Os olhos de Natália encontraram os de Gab novamente, como antes, mas dessa vez havia uma proximidade maior, um silêncio ainda mais denso.

- Precisava fugir um pouco do barulho também? - Gab corta o silêncio, tentando mascarar a intensidade do momento com um leve sorriso.

Natália deu um pequeno riso e acenou com a cabeça. - Acho que sim. A cidade e... a festa, tudo é tão... intenso. - Ela se mudou, ficando lado a lado com Gab, ambos olhando para o céu de Nova York.

Gab deu uma olhada rápida para Natália, notando o jeito casual e natural com que ela observava o céu. Era quase cativante ver como Natália parecia tão confortável em um novo lugar, em uma nova cidade.

- Então... é a sua primeira vez em Nova York? - Gab disse, genuinamente interessada.

Natália concordou, ainda olhando para o horizonte. - Primeira vez, sim. Sempre quis vir, mas nunca encontrei o momento certo... ou talvez nunca tenha feito questão de achar um. - Ela virou-se para Gab, com um olhar que dizia mais do que as palavras. - E você? Já vive aqui há muito tempo?

Gab sorriu levemente. - Faz alguns anos. Vim a trabalho, acabei de gostando e ficando... Agora estou de licença, então, ironicamente, estou com mais tempo do que nunca pra aproveitar a cidade.

Natália pareceu interessada. - E você trabalha com o quê? - Disse, inclinando um pouco a cabeça, como se cada detalhe sobre Gab fosse digno de atenção.

- Eu sou do exército, mas... - Gab deu de ombros, tentando não parecer rígida ou séria demais. - A verdade é que é um trabalho que exige muito, e eu sou uma pessoa meio apegada à rotina, sabe? Agora, com a licença, sinto que estou tentando descobrir o que fazer com tanto tempo livre.

Natália soltou um pequeno sorriso, relaxado, como se fosse a resposta de Gab a ter tentado de um jeito bom. - Engraçado... Eu sou o oposto. Detesto rotina. - E riu, encolhendo os ombros. - Acho que a vida na arte me acostumou a buscar o novo. O imprevisível sempre me pareceu mais interessante.

Gab sorriu, observando-a, admirada pela leveza que Natália exalava. - É... acho que esse é o tipo de equilíbrio que a gente passa a vida tentando encontrar, né? Entre o novo e o conhecido.

Houve uma pausa, com ambas absorvendo as palavras, cada uma vendo algo na outra que talvez estivesse faltando em si mesma.

Natália Corta o silêncio. - E o que você gosta de fazer quando não está seguindo essa sua rotina? - perguntou, com uma ponta de curiosidade óbvia.

Gab hesitou, depois deu um sorriso sincero. - Eu gosto de coisas simples... Correr, tomar um bom café, observar as pessoas. Acho que é isso. Às vezes me perco nesses detalhes, e sinto que vejo o mundo de um jeito só meu.

Natália concordou, absorvendo cada palavra, percebendo uma compreensão inesperada surgindo entre elas. - Acho que é aí que está o segredo, né? Se perder não é simples. Talvez a vida seja isso.

Gab estava prestes a responder, mas o som de passos rápidos foi interrompido no momento. Vitor apareceu no jardim, com um sorriso travesso e uma energia que parecia não caber nele.