Capítulo 5: Um Dia no Vilarejo
O sol já estava alto no céu quando Hope acordou, o peso do dia anterior ainda pesando sobre seus ombros. O corte no seu braço estava bandageado e doía a cada movimento, mas o pior não era a dor física. Era a frustração que ela sentia por não ter sido capaz de acompanhar as guerreiras, por não ter cumprido suas próprias expectativas.
Ao sair da tenda, ela encontrou Ayathzla esperando, com uma expressão mais suave do que o normal, e uma leve risada no rosto ao ver a expressão de Hope.
- Hoje, vamos dar um descanso para os músculos. - Ayathzla disse, seus olhos mais calorosos do que o habitual. - Vamos ao vilarejo.
Hope olhou para ela, surpresa.
- Vilarejo? Mas... e o treino?
- O treinamento não é só físico. Você vai precisar aprender a sobreviver de outras maneiras, também. E para atravessar o abismo, vai precisar entender que nem sempre há espaço para batalhas. Às vezes, você vai ter que aprender a fazer pausas, a se cuidar. Hoje, vamos focar em algo mais simples.
Hope ficou um pouco confusa, mas aceitou sem questionar. As três guerreiras já estavam a caminho, se preparando para a jornada até o vilarejo local. O local ficava perto da base do abismo, uma pequena comunidade onde as guerreiras poderiam comprar mantimentos, trocar histórias e, principalmente, se abastecer para a longa travessia que estavam planejando.
Quando chegaram, Hope ficou fascinada pela calma do lugar. O vilarejo era simples, com pequenas cabanas de madeira e um mercado ao ar livre onde os habitantes vendiam de tudo: frutas, pães, carnes secas e legumes. O cheiro de comida fresca pairava no ar, e o ritmo da vida ali parecia muito mais tranquilo do que o das montanhas.
As guerreiras compraram o que precisavam para os próximos dias: grãos, frutas secas, alguns pedaços de carne curada e, claro, ervas e especiarias que poderiam ser usadas para temperar as refeições. Hope, por mais que estivesse habituada ao mundo mais rústico da região, nunca tinha parado para observar os pequenos detalhes da vida ali.
Depois de fazerem as compras, elas seguiram para uma clareira fora do vilarejo, onde montaram uma pequena fogueira. Hope se sentou, ainda sentindo o desconforto do treinamento de ontem, mas agora algo na tranquilidade do ambiente estava acalmando seu espírito.
- Vamos ensinar você a cozinhar. - Valkyr falou com um sorriso malicioso, olhando para Hope enquanto se agachava perto da fogueira.
Hope franziu a testa, surpresa.
- Cozinhar? Mas... eu não sei como fazer nada disso.
Eryka riu suavemente, sua voz calma e reconfortante.
- Não se preocupe. Não precisa ser uma chef. O importante é saber se virar com o que você tem. Quando atravessarmos o abismo, teremos que fazer paradas estratégicas. O objetivo é sobreviver, não fazer um banquete.
Ayathzla, com um sorriso mais discreto, se sentou ao lado de Hope e puxou uma faca para cortar algumas raízes que haviam comprado no vilarejo. Ela passou a lâmina com facilidade sobre os vegetais, a habilidade dela evidente, como se fosse uma extensão de sua própria mão.
- Você vai ver que não é difícil. - Ayathzla disse, entregando-lhe uma faca pequena. - O segredo é aproveitar o que a natureza oferece e saber usar cada recurso.
Hope olhou para a faca, depois para Ayathzla, sentindo um pequeno nó no estômago. A proximidade da guerreira a deixava nervosa, ainda mais agora, com o peso do que haviam compartilhado na noite anterior.
- Certo... - Hope disse, tentando disfarçar a ansiedade que sentia. Ela pegou a faca e começou a cortar as raízes de maneira desajeitada, enquanto Ayathzla observava, sempre com um olhar atento.
- Lembre-se, não precisa ser perfeito. Só precisa ser prático. - Ayathzla disse, sua voz baixa e suave.
Valkyr estava mexendo uma panela com água e carne, e Eryka estava picando alguns temperos com uma precisão quase meditativa. O ambiente estava tranquilo, e Hope, aos poucos, começou a se sentir mais à vontade, a calma da situação contrastando com o turbilhão de pensamentos e emoções que ela carregava.
Enquanto Hope continuava a preparar os ingredientes, Ayathzla ficou ao seu lado, ajudando a corrigir seus movimentos. O cheiro da comida começava a invadir o ar, uma mistura de ervas frescas, carne seca e os vegetais que haviam sido preparados. O fogo estalava suavemente, criando uma atmosfera aconchegante.
Após alguns minutos de silêncio, Ayathzla olhou para Hope e, com um sorriso discreto, comentou:
- Não está tão ruim. A comida vai ficar boa. - Ela fez uma pausa antes de adicionar, com um tom mais baixo. - E você... está começando a entender o que eu quis dizer ontem. A força não está em acertar cada golpe, mas em saber o que fazer quando as coisas não saem como planejado.
Hope ergueu os olhos para ela, sentindo uma mistura de gratidão e algo mais. Ela sabia que Ayathzla estava sendo mais do que uma instrutora; ela estava tentando transmitir algo profundo, algo que Hope ainda não conseguia completamente entender.
- Eu... eu realmente pensei que só conseguiria ser útil se fosse uma guerreira. Mas... talvez eu tenha me enganado. - Hope disse, com um sorriso tímido.
Ayathzla sorriu de volta, de maneira quase imperceptível, mas com algo no olhar que Hope não conseguiu desvendar completamente.
- Você ainda tem muito a aprender. Mas você vai encontrar o seu lugar. Não se preocupe com isso. - Ayathzla respondeu, seus olhos suaves, mas firmes.
Nesse momento, as outras duas guerreiras se aproximaram com os utensílios prontos, e logo começaram a colocar a comida na panela. O cheiro estava delicioso, e Hope se sentiu mais à vontade. Havia algo de reconfortante na simplicidade da situação. Para ela, esse momento não era apenas sobre aprender a cozinhar, mas sobre entender que a vida na jornada não seria apenas luta e resistência. Havia momentos de tranquilidade, momentos que exigiam outra força: a paciência e a adaptabilidade.
Enquanto as guerreiras terminavam de preparar a refeição, Hope se sentou à beira da fogueira, observando Ayathzla, Eryka e Valkyr com um novo olhar. Elas não eram apenas guerreiras, mas mulheres com histórias e sabedoria, prontas para compartilhar, se você estivesse disposta a aprender.
E naquele momento, Hope sabia que sua jornada estava apenas começando, e que cada passo, cada aprendizado, a levaria mais perto do abismo - não apenas fisicamente, mas espiritualmente.
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O Abismo que nos Separa⛰️
Fantasy~Onde em um mundo que homens e mulheres vivem separados por um Abismo, Hope se vê separada de seu irmão Lukas aos 6 anos de idade . Anos depois , Hope decide ir atrás de seu irmão, aconteça o que acontecer. -Alguns Avisos- •Nossa personagem principa...