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Maicon's P.O.V.

Era noite na favela da Rocinha. Todos já estavam prontos para começar o Dia da Venda. O Dia da Venda era quando todos os caras saíam vendendo as novas remessas de drogas e também os compradores pagavam a remessa anterior.

- Bora, rapaziada, que demora toda é essa? - Maicon disse, entrando em outro cômodo da casa onde havia mais homens embalando as remessas.

Assim que Maicon terminou de falar, a porta foi aberta por Fio. Fio era o melhor amigo de Maicon e seu braço direito; estavam juntos desde que se entendiam por gente.

- Ai, caraí, o maluco ali embaixo tá dando a louca e disse que não vai pagar nada, não. Disse ele porque na semana retrasada veio faltando.

- Como assim, mano? Explica isso direito - disse Maicon, olhando seriamente para o amigo.

- Eu fui lá cobrar o dinheiro, falei "oi" e o mano já apelou pro meu lado. Falou assim que não ia pagar porque nós éramos safados e que da última vez veio faltando e tudo mais. Acho melhor tu ir resolver lá.

Maicon não respondeu nada e já saiu da casa no beco, descendo para a parte de baixo do morro. Passou pelos becos, apertados e escuros. Até que hoje estava calmo, não teve nenhuma briga, nenhuma troca de tiros ou coisa do tipo. Hoje tinha tudo para ser calmo, então vai e me aparece esse infeliz não querendo pagar a conta.

Fica complicado. Eu já conhecia muito bem esse homem; todo mês inventava uma desculpa e dizia que não ia pagar. No início, eu acreditava nele e entregava de graça, mas agora não, cansei disso já.

Assim que cheguei na casa dele, já fui logo entrando sem mais nem menos, o encontrei deitado na cama e já parti pra cima dele, puxando-o pela gola da camiseta. Seus olhos se arregalaram quando me viu; pude sentir seu medo aumentando.

- Qual foi, hein, cuzão? Tá metendo o louco aí por quê?

- Qual é a mentira que tu vais dar agora, hein? Já tô por aqui dos seus papos - Maicon continuou a encarar o homem, que ainda estava com os olhos arregalados.

Ele sabia que não podia mais enrolar Maicon; ele já não era o mesmo de antes que lhe deixava pegar as remessas de graça. Um breve silêncio se instalou no local; o homem já começou a suar e ficava cada vez mais nervoso.

Não tinha como ele enganar Maicon agora, então ele decidiu finalmente falar algo.

- Olha, eu... Eu juro que eu pago, mas agora eu não tenho a grana; eu prometo pagar depois.

O homem gaguejou, tentando convencer o garoto à sua frente, mas sem sucesso. A fúria de Maicon cresceu ainda mais.

- Você tá de sacanagem com a minha cara, né?

Maicon apertou ainda mais o homem e o jogou contra a parede, ameaçando-o.

- Olha aqui, seu filho da puta, ou você me paga agora, ou tu vais fazer uma visitinha pra Supreme, tá me entendendo?

Supreme nada mais era que a arma favorita do garoto; ela foi apelidada com esse nome. Fofo, né.

- Tudo bem, tudo bem, eu pago agora. Maicon afrouxou o aperto e deixou que o homem fosse pegar o dinheiro. Depois de alguns segundos, o homem voltou novamente, entregou o dinheiro ao garoto, que o encarou com um olhar raivoso.

- Essa foi a última vez que tu fazes graça. Fica esperto, hein.

Maicon saiu da casa do homem junto com Fio e outros caras. Maicon mandou que os outros homens que estavam com eles fossem terminar de vender as drogas que tinham ali. Os outros homens então saíram, restando apenas Maicon e Fio.

Os dois rapazes subiram em direção à parte de cima do morro, aproveitando para passar em outros cantos da favela para ver se tudo estava em ordem. Quando estavam passando pelo comércio local, começaram a escutar gritos vindos da casa ao lado do comércio. Os dois trataram de ir lá ver o que estava acontecendo, especialmente porque já passava das 23h da noite.

Chegaram na casinha, que era bastante bonita e um tanto pequena, com uma tinta amarela e branca, uns vasos de flores embaixo das duas janelas brancas, e até uma bicicleta jogada no chão.

Fio foi logo tocar a campainha, crendo que alguém escutaria e viria atendê-los, mas parece que ninguém escutou. Tocou de novo, e de repente a gritaria parou, e a porta foi aberta, mostrando uma senhora com uma aparência jovial, aparentando ter cerca de 50 anos.

A mulher mais velha se dirigiu até os rapazes em seu portão e sorriu antes de lhes perguntar o que eles faziam ali.

- Boa noite, rapazes! O que fazem aqui? Tá acontecendo alguma coisa?

- Oi, dona. A gente passou aqui porque escutamos uma gritaria e queríamos ver se tudo estava bem por aqui. - Diz Fio.

- Ah, sim. - A senhora soltou uma risada sem graça. -Eu estava apenas discutindo um assunto com meu filho, nada demais.

- Ah, entendo, dona, então tá tudo numa boa aí, né? - A senhora concordou, sorrindo. -Beleza, gente já vai indo então. Fica na paz aí, viu? Uma boa noite pra senhora.

Maicon disse com um sorriso e logo foi embora junto com Fio.

Os dois foram direto para suas casas descansar, já que amanhã seria um dia complicado. Era dia de baile, e a favela lotava.

[...]

Não revisado.

𝐄𝐗  157Onde histórias criam vida. Descubra agora