Cap II - A tona

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Riki Miyako

O ronco da minha Harley Davidson chamava atenção por onde eu passava, enquanto eu acelerava para longe da mansão Nákata. Yuri vinha logo atrás de mim.

          O templo da NaKa Tokyo era visível, e alguns membros estavam na porta, apenas nos esperando.
          Conforme passamos por eles, os mesmos faziam um corredor, se curvando em nossa direção. As imensas escadas e o pátio de reunião estavam lotados pelos membros da NaKa. Era incrível como essa gangue, até hoje, nunca perdeu seu poder.
Era impossível vê-la sem que tivesse pelo menos quatrocentos e cinquenta, ou quinhentos membros.
          — Riki, está estressado? — Yuri provoca. Eu já estava à flor da pele, e ele continuava me estressando. Se alguém um dia me perguntasse qual o chefe mais insuportável que eu já conheci, eu sem dúvidas apontaria para o Yuri. — Coma um pouco, às vezes é fome.
          — Miguel, o que está fazendo aqui? — Eu pergunto, minha voz mostrando confusão enquanto eu encarava um dos membros, que utilizavam a farda dos fundadores. Esse era o Miguel, seu pai britânico e sua mãe japonesa, um dos primeiros membros, e fundador da NaKa, junto a mim, Yuri e mais cinco. Ele ficava acentuado em Shibuya, e dificilmente vinha a Tokyo. — Pelo que eu saiba, não te chamamos para nada. Algo está errado?
          — Ah, não. Não há nada de errado, apenas uma visita — Ele se curva em direção ao Yuri, que não lhe dá nenhuma atenção. Ele estava comendo, sentado em um dos degraus da escada. Como sempre. — Na verdade, há algo de “errado” sim. Não sei se você se lembra de uma garota chamada Katrícia, a Portuguesa.
          Meus músculos automaticamente tensionam. Meu maxilar cerra e eu olho para ele, pedindo que continue.
          — Ela voltou à Tokyo. Nem mesmo eu acreditei, mas aí eu a vi com meus próprios olhos. Na casa do chefe Yuri.
          Eu escuto o homem se engasgar atrás de mim e me viro. Ele estava com o cenho franzido, encarando Miguel, tão confuso quanto eu.
          — Katrícia? — Eu tenho êxito em continuar a conversa, mas pergunto. — O que ela faria aqui, em Tokyo depois de tanto tempo? — Eu faço a pergunta mais para mim mesmo. Não esperava vê-la novamente depois de tantos anos, ainda mais pessoalmente.
          — Parece que ela voltou para valer — Ele solta uma risada sarcástica. — Ela se reencontrou com Yuna, Mizune, María e Airi algumas horas atrás, e atualmente está na casa do Yuri. Estão dormindo na sala de estar — Miguel ficava por conta da segurança do Yuri e de toda a gangue. Era um ótimo hacker e cuidava de todas as câmeras que ficavam na área da NaKa. Ou seja, em quase toda Tokyo e uma parte de Shibuya.
          — Foi só isso que viu — Yuri o encara. — certo? — Apesar de ser um dos fundadores da NaKa, e amigo de Yuri, ele não confiava que um homem estivesse vendo quatro garotas sozinhas, sem querer mais ninguém esteja o vendo, e principalmente sua irmã mais nova. Nem mesmo eu confiaria.
          — Está desconfiando de mim, chefe? Eu não sou um tarado, é claro que foi só isso. Nem câmeras no banheiro tem, apenas na porta  apontando para baixo — Ele fala olhando ao redor. Receio de alguém ter escutado, talvez.
         
           A reunião começou faz horas, mas minha mente vagava até a casa de Yuri. Ela estava mesmo lá?
          Katrícia foi embora anos atrás, sem nem mesmo uma despedida ou uma desculpa pelo que fez, durante todos esses anos e agora resolveu voltar, como se nada tivesse acontecido? Se eu fosse ela, esqueceria que o Japão existe.
          Meu rosto estava formando uma carranca de raiva, mesmo não estando verdadeiramente com raiva. Eu não queria vê-la, nunca mais, mas ela tinha que vir para a porra do Japão, justo em Tokyo e na casa da porra do meu chefe.
          Ela, com certeza, não estaria lá se não fosse pela Yuna, mas ainda sim.
          Continuo vagando pelos meus pensamentos, e me xingando pelo mesmo motivo. Eu não sentia saudades, eu sentia raiva e continuava me perguntando, como eu sempre fiz nesses últimos anos, qual o motivo pelo qual ela sumiria por dez anos?
          — Está pensativo. Está pensando na Katy? — Miguel provoca. Eu não estava mais tão estressado como estava há algumas horas atrás, mas Miguel, com uma simples frase me fez puto novamente.
          — Vai procurar um pau para sentar, Miguel — Eu franzo o cenho novamente, quase juntando minhas sobrancelhas.
          — Ficou com raiva? Mas eu não falei nada demais — Ele passa seu braço ao redor do meu pescoço, me puxando para perto. — Ou ainda não superou? — Miguel encara minha face, se afastando e rindo da minha cara. Eu superei, eu só não queria vê-la.
          — Vai para o inferno, Miguel — Eu reviro os olhos, cruzando meus braços e voltando a prestar a atenção na reunião, que eu quase esqueci que acontecia.

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⏰ Última atualização: Nov 09, 2024 ⏰

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