Cidade dos Manes | Sope/Yoonseok

O Menino do Interior

oii, pessoal. como eu disse anteriormente, esse é um capítulo especial, por isso o nome é diferente. ele não interfere na fanfic e não faz parte da narrativa como um todo, até porque vai ser narrado pelo yoongi, mas é um ótimo complemento para quem se interessou e quer se aprofundar mais um pouco sobre a história. agora vocês poderão descansar as cabecinhas das teorias. espero que gostem :)

...

Muitas vezes eu já me peguei pensando sobre o meu lugar no mundo. Eu nunca soube, de fato, qual era, mas sempre tive a certeza de que não é nessa fazenda, muito menos nessa cidade pequena, onde todo mundo se conhece.

Essa vida enfadonha nunca me pertenceu, é como se eu estivesse preso dentro do corpo de uma outra pessoa, acorrentado a um destino que não escolhi. Meus pés estão fincados na terra e raízes formam-se em meu encalço, como um lembrete de que estou fadado a monotonia e a simplicidade. Esse sentimento me consome desde que eu era pequeno, constrangendo a minha respiração e me impedindo de sonhar, mas confesso que era muito menos torturante quando eu era criança.

Eu gostava de correr pelo campo, atraído pela falsa sensação de liberdade que o verde interminável me proporcionava. O ar puro que se infiltrava em meus cabelos, redecorava aquele cenário penoso, assim como o canto dos canários e o brilho do sol delineando a minha pele.

Certo dia, caminhando pelas redondezas, notei um movimento estranho se manifestar entre as folhas. Aproximei-me com cuidado, com um instinto curioso e pueril, e ao me ajoelhar, encontrei um passarinho com as asas quebradas, cujo os olhos pareciam implorar por ajuda.

"Você está bem, amiguinho?" Perguntei, cutucando suas penas, provocando um gesto receoso do bicho, como se estivesse com dor. "Fique calmo, eu vou te ajudar."

Sempre fui um amante dos animais e um defensor nato desses seres indefesos.

Aos seis anos, ao ver o meu pai quebrar o pescoço de uma galinha pela primeira vez, fiquei indignado com tamanha crueldade. Corri para o colo de mamãe, chorando aos prantos, enquanto uma série de questionamentos passavam pela minha cabeça. E se ela tivesse filhos? Como os pintinhos viveriam sem o aconchego da mãe? E o medo que ela deve ter sentido diante daquela situação, sabendo que não havia como escapar? E o galo, como viveria sem a sua tão amada esposa? É claro que, na época, eu não sabia que os galos precisam dar conta de, pelo menos, doze galinhas e uma a menos, provavelmente, não faria falta para ele. Mas, além de tudo isso, eu também acreditava no amor.

Depois daquele dia, decidi fazer uma rebelião, e me recusei a comer todo e qualquer tipo de carne, alegando que me tornaria vegetariano. Contudo, essa decisão não durou muito mais que dois ou três dias.

Com o passarinho nas mãos, corri para dentro de casa, e fiz de tudo para cuidar dele, desde improvisar um pequeno ninho com pedaços de pano até alimentá-lo com algumas sementes e pequenos frutos. Algumas semanas depois, as asas do passarinho começaram a cicatrizar, e com cuidado e o peito repleto de orgulho pela sua recuperação ter seguido como planejado, soltei-o em um espaço aberto. E então ele voou. Para longe. Para a natureza, lugar onde ele realmente pertencia.

Talvez isso fosse liberdade. Por um momento, eu me vi naquele pássaro. Eu gostaria de fazer o mesmo que ele, deixar o ninho, alçar o voo e ir atrás de algum lugar onde eu pudesse ser eu mesmo.

Passei um tempo encarando o mural pendurado na parede da recepção da faculdade, e algumas lembranças vieram à tona diante do anúncio sobre o desaparecimento de Jimin.

Nós não estávamos apaixonados, longe disso, nem poderíamos. Jimin tinha uma vida desejável pela maioria dos garotos da nossa cidade. O seu pai é dono de uma grande empresa de agrotóxicos e ele não se importava nenhum pouco com os estudos, pela garantia de que assumiria o seu cargo no futuro sem necessitar de muito esforço. Além disso, ele estava sempre rodeado dos amigos e da namorada. Sermos vistos juntos era quase que violar uma regra sagrada.