Prólogo

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                                                                         ━━━━❰・❉・❱━━━━

 ✧*:.。.    Era uma tarde como todas as outras: quente, o céu azul lá fora, sem nenhuma nuvem. Estava do jeito que eu gostava, no clima perfeito para uma praia ou um dia no parque. Meus olhos rapidamente olharam ao redor do lugar em que eu acabara de adentrar. Joguei minha bolsa de treino em um dos armários, peguei minhas coisas e fui para o vestiário me trocar: meia-calça, depois o collant, a saia e, por fim, as sapatilhas. Espalhei um pouco de talco nas mãos e revesti as sapatilhas antes de colocá-las nos meus pés, amarrando as tiras em volta dos meus tornozelos.

O cheiro do estúdio era familiar, amadeirado, com um toque adocicado do perfume das outras bailarinas, algo com o que me acostumei ao longo dos anos. Pessoas diferentes, mas a mesma sensação. Olhando para o espelho, prendi meu cabelo descolorido em um coque, enfeitando-o com um laço rosa na parte de cima. Voltei para a área onde os treinamentos aconteciam e já haviam alguns colegas se aquecendo, fofocando ou mexendo no celular. Eu me sentia um peixe fora d'água; talvez essa fosse a pior parte dos recomeços. As novidades eram sempre difíceis de lidar. Fui até uma barra e comecei a me alongar. Um pico alto de energia corria pelo meu corpo e eu sentia que precisava fazer algo para não surtar de ansiedade.

Não conseguia deixar de escutar a fofoca dos outros. Muitos já se conheciam, então, eram apenas coisas básicas da faculdade. Nada muito interessante, apenas alguém do curso de medicina veterinária que tinha ficado com alguém ou o professor bonitinho do curso de programação. Nada de novo sob o sol. Mas, quando a porta se abriu e todos se viraram para ver o recém-chegado, meu pescoço se moveu involuntariamente e, quando estava no meio de um plié, eu o vi.

O cabelo negro estava mais longo, e o corpo parecia mais forte. A pele pálida era impecável, e os lábios sustentavam um sorrisinho convencido, como se ele já soubesse que era dono do lugar. Pude ouvir todas as mulheres do recinto segurarem a respiração, e uma vermelhidão subiu pelo meu rosto, a raiva começando a me dominar. O desgraçado andou com despreocupação até o armário, e os olhos de todos o acompanharam, como se ele fosse uma criatura nova a ser estudada, uma criatura bela e fascinante.

Eu mal podia acreditar. Depois de todos esses anos achando que estava livre dele, ele me aparece como uma sombra. Ou melhor, como um ponto luminoso brilhante que chamava a atenção. Ele devia ter me visto, porque, por um segundo, seu rosto demonstrou pura surpresa, depois, um sorrisinho malicioso e convencido, daqueles que ele costumava reservar só para mim, como se dissesse: "Estela, eu sou melhor do que você e você sabe disso". Eu mal podia perceber que estava morrendo de raiva, tremendo no lugar. Meus dedos apertavam a barra até os nós dos dedos ficarem brancos. Vitor Cavalcanti tinha acabado de entrar na minha vida para me atormentar, de novo. 

ESTELA E VITOROnde histórias criam vida. Descubra agora