03.

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Todoroki Shoto, pov
aquele que falha

a porta do elevador estava torta e chamuscada.
minha cara doendo e sangrando. aliás, poderia estar pior.

mas não era isso que me intrigava, menos ainda ter apanhado de Bakugou, já dava pra dizer que isso era rotineiro... mas sim a frase que saiu de sua boca; "você está me usando, sai da minha cabeça!"

eu poderia dizer a mesma coisa...
tem semanas que estou tendo sonhos estranhos, pesadelos pra ser mais exato. geralmente, é um grande loop. dores do meu passado e um borrão do meu futuro. algo sempre estava fora do lugar, alguma coisa sempre estava errada.
foi com esse pensamento que fui até a sala dos professores no intervalo de almoço.

-não deveria estar descansando? —isso queria dizer que ele estava em horário de descanso e eu estava atrapalhando.

-desculpe, professor Aizawa. serei rápido. —me aproximei da mesa dele. -quero pedir que não dê advertência em Bakugou.

ele me olhou, com uma sobrancelha arqueada, passando o olhar nos curativos em meu rosto.

-tem certeza disso? —balancei a cabeça.

-acho que entendi a motivação dele. está tudo bem, então por favor, não o castigue. —me curvei, ao ouvir seu suspiro desistente.

-vou ver o que posso fazer.

Bakugou não recebeu advertência alguma.
quanto mais eu pensava, mais eu me confundia.
o meu passado, sim, claro, estou acostumado a sonhar com isso. o futuro sempre com uma sensação de deja-vu, mas não, nunca desse jeito. não como se eu estivesse prevendo o futuro.
claro que isso seria impossível. tudo isso não  passa de uma ilusão.
ele me odeia e acabou de abrir três cortes na minha cara!

eu nem se sequer posso culpá-lo, estou tão confuso quanto.

nada poderia me preparar pra presença fantasmagórica de Bakugou pelos próximos dias.
é claro que ele continuaria ali, nos mesmos lugares e seguindo a mesma rotina, mas tinha uma diferença. uma diferença sutil.

por vezes, eu me distraía olhando em sua direção, sem saber o que fazer, em um misto de me culpar e culpar a ele, e então, ele me olhava.
antes, quem desviava o olhar era eu, em questão de segundos.
agora, Bakugou é quem parece desconfortável.

ele estava mais quieto, sinto que isso era a forma de ele manter sua sanidade. enquanto a minha deixou de existir. devo ter acabado com ela enquanto pensava de mais, como venho fazendo nos últimos dias...

eu me esforcei pra que ele tolerasse minha presença no passado, e parecia que eu havia conseguido.

tem que ter um jeito que acabe com isso.
nossas decisões de agora alteram um destino, em algum momento, certo?
então, evitarei Bakugou.

voltei a realidade com o sinal tocando. quando Aizawa entrou na sala, olhou para os alunos, seu rosto sério e a voz calma.

-como vocês sabem, a integração está se aproximando novamente... por isso, irão aprender algumas coisas... diferentes. —ele olhou um punhado de folhas dispostas na mesa. -primeiros socorros, desarmamento de bombas, estratégia de fuga... entre outros.

Kirishima franziu o cenho, levantando a mão com hesitação.

- Professor Aizawa... —a sala ficou em silêncio. -por que esses treinos? quero dizer, no primeiro ano focamos tanto em luta e resistência, e agora... estamos aprendendo a fugir?

todos os olhares foram direto pra Aizawa, que parou por um segundo, seus olhos se estreitaram. ele prendeu a respiração, um gesto quase imperceptível, antes de responder. o silencio rondava a sala de forma pesada.

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