Capítulo 3: O Cajado da Desolação

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Um brilho ofuscante irrompeu do cajado, cortando a escuridão como uma lâmina afiada. Era uma luz tão intensa que parecia ter vida própria, pulsando como um coração maligno. Aleena, que há muito se acostumara à penumbra que a cercava, sentiu o calor daquele brilho atravessando suas pálpebras cerradas, um farol de dor em meio ao abismo. O mundo ao seu redor explodiu em gritos — lamentos de almas perdidas, ecoando em uma sinfonia de agonia e desespero. Aqueles gritos não eram apenas sons; eram facas cravadas em seu coração, a cada nota um lembrete do sofrimento que ela estava prestes a testemunhar.

As sombras dançavam freneticamente ao redor dela, contorcendo-se como insetos queimados pelo fogo. A dor se infiltrava em sua essência, como se alguém estivesse queimando suas entranhas com ferro em brasa. No entanto, mesmo diante desse tormento insuportável, Aleena se agarrou ao cajado com uma força desesperada, como se ele fosse sua única âncora em um mar de desolação.

À medida que as almas começaram a ser reduzidas a pó sob o brilho voraz do cajado, Aleena se via consumida por uma culpa esmagadora. Cada grito que ecoava era uma faceta de sua própria dor; cada lágrima que escorria por seu rosto era uma súplica silenciosa para que tudo aquilo parasse. Mas as almas não podiam ser salvas. Elas gritavam e choravam enquanto desapareciam, deixando apenas ecos de suas existências. O cajado pulsava com uma energia insaciável, como se estivesse faminto por mais — mais almas para devorar, mais vidas para aniquilar.

O ápice do desespero chegou quando Lira, a mulher gentil que havia sido sua guia naquele lugar sombrio, começou a gritar. Seu corpo começou a se desfazer lentamente, pedaço por pedaço, enquanto ela suplicava por ajuda. As palavras dela eram um eco de dor pura: "Aleena! Por favor!" Cada sílaba era um golpe no coração da jovem.

Tentando libertar-se do cajado maligno que parecia tê-la aprisionado, Aleena lutou com todas as forças. Suas mãos estavam grudadas ao objeto como se fossem feitas de argila endurecida; qualquer tentativa de soltá-lo apenas aumentava sua agonia. E enquanto Lira desaparecia em pó diante de seus olhos aterrorizados, a sombra que antes parecia distante começou a se arrastar em direção a ela.

Aleena estava paralisada pela visão aterradora da transformação da sombra — agora grotesca e mutilada, com a pele chamuscada e os olhos brilhando com um ódio profundo. A criatura estendeu suas garras grotescas e cravou-as no tornozelo de Aleena com uma força brutal.

— Devolva... — sussurrou a sombra, sua voz rouca carregando o peso das almas perdidas.

A dor foi instantânea e cortante; Aleena gritou enquanto tentava em vão soltar o cajado que agora parecia ter vida própria. Cada movimento era como se suas entranhas fossem arrancadas junto com o desejo de escapar daquele pesadelo.

Em meio ao caos e à dor insuportável, algo dentro dela despertou — uma centelha de determinação alimentada pelo desespero. Com lágrimas escorrendo pelo rosto pálido e os gritos das almas ecoando em sua mente como um mantra trágico, Aleena canalizou toda sua energia na luz do cajado. A luz brilhou intensamente contra a sombra monstruosa que continuava a se contorcer e retorcer na tentativa de escapar daquela iluminação purificadora.

Um confronto titânico entre luz e trevas se desenrolou diante dela; cada segundo parecia uma eternidade enquanto o brilho consumia a sombra lentamente. Os gritos tornaram-se mais intensos e agonizantes até que finalmente a criatura foi reduzida a pó — assim como Lira e todas as outras almas que ela não pôde salvar.

E então tudo ficou em silêncio.

Aleena caiu no chão frio e duro, completamente exaurida. O cajado ainda estava preso às suas mãos trêmulas, mas agora não havia mais luz emanando dele; apenas um eco vazio de desespero restante na escuridão ao seu redor. Ela sentiu seu corpo desabar sob o peso da perda — das vidas que não conseguiu salvar e da dor que carregaria para sempre dentro de si.

Enquanto os ecos dos gritos desapareciam na vastidão da noite eterna, Aleena fechou os olhos e deixou-se levar pela escuridão novamente — não porque quisesse fugir, mas porque sabia que ali não havia mais nada além do vazio interminável.

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⏰ Última atualização: Nov 10 ⏰

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