Entre estrelas e Lágrimas.

Chapter 2 - Um novo encontro(?)

Shelly se afastou rapidamente, com os passos firmes e o coração em pedaços. A dor em seu pulso era quase insignificante perto do que sentia no peito. Aquele gesto brusco, mesmo que sem intenção, parecia ter aberto um abismo entre eles, e ela não sabia como ou se seria possível atravessá-lo.

Ela chegou em casa e se jogou na cama, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto enquanto o peso de tudo o que vivera com Astro parecia desmoronar sobre ela. Shelly tentou buscar alguma explicação que aliviasse a culpa que sentia por se afastar, mas, pela primeira vez, não encontrou conforto em nada. Apenas a amarga sensação de que talvez tivesse colocado expectativa demais no amor deles.

Naquela mesma noite, Astro ficou sozinho no campo, ainda em choque com o que tinha feito. Ele ficou olhando para suas próprias mãos, as mesmas mãos que, por um impulso, haviam machucado a pessoa que mais amava. A culpa o corroía, e ele sabia que o medo que tinha de se tornar como seu pai, alguém que machucava as pessoas ao redor, havia se realizado.

Astro passou horas ali, tentando reunir coragem para procurar Shelly. Ele ensaiava mil formas de pedir desculpas, mas o pavor de perder a confiança dela o paralisava. Já era de madrugada quando ele finalmente se levantou, decidido a procurar uma forma de consertar o que fizera, mesmo que achasse ser impossível.

Na manhã seguinte, Shelly recebeu uma mensagem de Astro, cheia de arrependimento e pedidos de desculpas. Ele insistia que não queria machucá-la, que perder o controle tinha sido um acidente, e que, se ela permitisse, ele estava disposto a fazer o que fosse necessário para provar que aquilo nunca aconteceria de novo.

Apesar da dor que ainda sentia, Shelly respondeu. Ela queria entender o que realmente havia acontecido com ele naquela noite, e, no fundo, ainda nutria um carinho profundo que a impedia de virar as costas. Eles marcaram de se encontrar em um café próximo à cidade, num ambiente público e mais neutro, onde ambos poderiam conversar sem se perder nas emoções.

Ao vê-la entrar no café, Astro levantou-se de imediato. Estava visivelmente mais magro, como se o peso da culpa tivesse sugado sua vitalidade. Ele tentou sorrir para Shelly, mas logo abaixou o olhar, tomado pela vergonha.

"Shelly, eu... não sei nem como começar. Não existe desculpa para o que fiz, mas queria te explicar... se você ainda tiver vontade de ouvir."

Shelly assentiu, mantendo a expressão firme. "Eu quero ouvir, Astro. Acho que precisamos entender o que aconteceu para decidirmos se ainda faz sentido continuar."

Ele respirou fundo, os olhos refletindo a dor e o arrependimento. "Shelly, eu nunca quis machucar você. A última coisa que quero é te fazer sofrer. Mas... naquela noite, senti todo o medo que carrego dentro de mim explodir, e, por um segundo, perdi o controle. Eu estou em conflito com tudo o que sou, com as marcas que meu passado deixou, e a verdade é que... me apavoro quando alguém se aproxima demais."

Ela o olhou em silêncio, absorvendo as palavras e tentando manter a calma. "Mas então por que me deixou entrar na sua vida, Astro, se sentia tudo isso? Por que me fazer acreditar que a gente poderia dar certo?"

"Porque... eu te amo, Shelly," ele sussurrou, a voz carregada de emoção. "Eu nunca tinha sentido isso antes, e você trouxe luz para uma parte de mim que eu nem sabia que existia. Mas talvez eu esteja quebrado demais, e tenho medo de te arrastar para esse caos que sou."

Shelly sentiu o coração apertar ao ouvir o desespero em sua voz. A parte dela que o amava queria abraçá-lo, dizer que ficaria tudo bem, mas sabia que não poderia ignorar o que aconteceu. "Astro, eu também te amo. Mas eu não posso aceitar que você me machuque, nem mesmo por acidente. Isso não é algo que eu posso permitir."

Ele assentiu, com lágrimas escorrendo silenciosamente pelo rosto. "Eu sei, Shelly. Não quero que você se machuque por minha causa. E talvez seja melhor... se a gente se afastar."