"Até logo, paulista"

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Naquela noite, depois de um dia cheio de idas e vindas, Sandro e Ricardo estavam sentados na beira da praia. As ondas quebravam suavemente na areia, o céu tingido por tons alaranjados anunciava o fim de mais um dia. Mas, naquele silêncio, uma decisão se formava.

— Tá olhando o quê? — Ricardo perguntou, jogando uma pedrinha na água, tentando desviar do clima pesado que já começava a surgir.

Sandro deu um leve sorriso, encarando o mar. — Tô só… pensando.

— No quê? — Ricardo ergueu uma sobrancelha, sem deixar o tom provocador, mas com os olhos curiosos.

— Que eu preciso voltar pra São Paulo — Sandro respondeu, a voz quase sussurrada, como se as palavras ainda estivessem pesando.

Ricardo ficou em silêncio, o sorriso brincalhão esmaecendo aos poucos. Ele desviou o olhar, fingindo estar mais interessado nas ondas. Mas dava pra ver que as palavras de Sandro haviam lhe atingido.

— Achei que você tinha esquecido daquele lugarzinho chato — ele soltou, tentando soar casual, mas o tom denunciava a tristeza que ele tentava esconder. — Sei lá, achei que você fosse ficar por aqui um tempo.

Sandro riu, uma risada curta, mas melancólica. — Ah, claro… como se eu pudesse esquecer São Paulo, né?

— Até porque você é o paulista mais teimoso que eu conheço. Deve ser impossível mesmo. — Ricardo fez uma careta e deu um leve empurrão em Sandro, que revirou os olhos, mas riu da implicância.

O silêncio entre eles durou um pouco mais, até que Ricardo, com um ar de desafio, se virou de repente.

— Então, paulista, quando vai ser? Quando é que você vai me deixar pra voltar pra sua selva de pedra?

Sandro olhou para ele e suspirou. — Acho que amanhã cedo.

Essa resposta foi um balde de água fria para Ricardo, que virou o rosto rapidamente para que Sandro não percebesse o quão decepcionado ele estava. Mas Sandro percebeu. Ele conhecia aquele carioca bem demais para não ver a mudança no olhar.

— Ei… — Sandro chamou, tocando o ombro dele. — Isso não significa que…

— Tá tudo bem, paulista. — Ricardo interrompeu, dando um sorriso forçado. — Vou ficar aqui pra te encher o saco quando você voltar, beleza? Vou te dar trabalho até se arrepender.

Sandro riu e o puxou para um abraço. — Você é um idiota, sabia?

— Claro que sei. Mas sou o seu carioca favorito, admite aí! — Ricardo sorriu, já recuperando o tom provocador.

Na manhã seguinte, quando o sol ainda estava nascendo, Sandro ajeitou a mochila nos ombros e foi até a praia onde tinha combinado de se despedir de Ricardo. Quando chegou, viu que o loiro já estava lá, com as mãos nos bolsos e um sorriso meio bobo no rosto.

— E aí, paulista. Preparado pra encarar o frio e o caos de São Paulo de novo? — Ricardo o provocou, mas, ao ver o olhar de Sandro, o sorriso se suavizou. — Sabe que eu vou sentir falta de te ver todo dia, né?

Sandro abriu um sorriso pequeno, mas cheio de saudade antecipada.

— Eu também, carioca. — Ele estendeu a mão para um aperto, mas Ricardo o puxou para um abraço, apertado, como se não quisesse deixar Sandro ir.

Quando finalmente se soltaram, Ricardo deu um passo para trás e fingiu um sorriso de quem estava bem.

— Vai lá, paulista. Vai se divertir no seu trânsito infinito e no clima bipolar.

Sandro riu, acenando enquanto se afastava. Ele sabia que voltaria. Mas, mesmo assim, não conseguiu evitar de olhar para trás uma última vez e ver Ricardo parado ali, na praia, acenando com um sorriso sincero, com o mar como cenário e a amizade entre eles brilhando mais do que nunca.

— Vou sentir saudades… — Sandro disse, com a voz carregada de emoção, enquanto parava um segundo antes de entrar no aeroporto.

Ricardo, parado a poucos passos de distância, forçou um sorriso que não alcançava os olhos. Ele cruzou os braços, tentando manter o tom despreocupado que sempre teve, mas sua expressão o traía.

— Tá parecendo até que nunca mais vai voltar, paulista. É só uma viagem. — Ele tentou brincar, mas a leveza da voz estava desaparecendo.

Sandro abaixou o olhar e sorriu, meio sem jeito. — Você sabe que não é só isso, Ric. A gente se vê de novo, mas… — Ele fez uma pausa, olhando diretamente para o amigo. — As coisas vão ser diferentes, né?

Ricardo ficou em silêncio, sentindo o peso do momento. Ele queria dizer alguma coisa, fazer uma piada, talvez, ou simplesmente rir da cara de Sandro, mas nada vinha. Sabia que a ida de Sandro significava uma distância maior do que apenas os quilômetros entre o Rio e São Paulo.

— Então, não se atreve a sumir, paulista. Vou mandar mensagem até você se cansar — Ricardo finalmente disse, tentando dar um tom leve, mas com um sorriso sincero.

Sandro riu e assentiu, lutando contra o aperto no peito. Ele estendeu a mão para um último aperto, mas Ricardo puxou-o para um abraço forte, sem cerimônia.

— Vai logo, antes que eu mude de ideia e te arraste de volta. — Ricardo brincou, mas a seriedade em seu olhar ficou evidente quando se afastaram.

Sandro deu um último sorriso, um olhar que dizia mais do que as palavras. Ele respirou fundo, se virou e entrou no aeroporto, desaparecendo entre as pessoas. Do lado de fora, Ricardo permaneceu parado, observando até perder Sandro de vista. O carioca respirou fundo, sentindo o peso da saudade já se instalar, e soltou um suspiro.

— Até logo, paulista…

Continua...

"Eu sei que vc me ama" - Pauneiro Onde histórias criam vida. Descubra agora