Capítulo 1. Olhos azuis

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Camilo Bellini
Rio de Janeiro, Brasil
Quem imaginaria ver um mafioso italiano vagando pelo Rio de Janeiro para negociar com o chefe do cartel mais procurado do Brasil? Mas aqui estou eu, cruzando essas ruas caóticas em direção à Padaria e Confeitaria Doce Lar, onde combinei de encontrar Leandro Romano, o homem por trás do Cartel Los Anjos.
A cidade é um espetáculo de cores e caos. Enquanto guio, sinto o calor do asfalto e o sol inclemente, bem diferente das colinas da Sicília. O sinal fica verde, e acelero. Mas, de repente, uma bela ragazza surge à minha frente, inesperada como um raio. Piso no freio com força, o carro derrapando. Em um instante, meu coração dispara. Quase a atropelei. E, apesar de tudo que sou e represento, sei que nunca faria mal a um inocente – nunca a uma mulher, nunca a uma criança. Esse sempre foi o lema da Cosa Nostra, o código de honra que meu nonno defendia com convicção e que agora, como Don, eu carrego em cada decisão.
Olho para ela pelo para-brisa e vejo um par de olhos intensos, chocados e vivos, me encarando com uma expressão que eu jamais esquecerei. E, nesse momento, sinto que nada mais será o mesmo. Os olhos dela, de um azul profundo, encontraram os meus por um breve instante antes de desviar o olhar. Seus cabelos negros, em cachos delicados, emolduravam o rosto de traços suaves, e por um segundo eu fiquei preso naquela imagem. Ao reparar em seu pulso, notei uma pulseira simples, mas com um pequeno pingente em forma de coração, balançando ao ritmo de sua corrida. Eu não conseguia me mover, até que percebi o perigo que ela corria.
Corri até ela, ainda com o coração disparado.
— Oi, está tudo bem com você? Eu... eu te machuquei?
A ideia de ter ferido essa mulher – uma obra de arte, tão perfeita, parecia um crime contra algo sagrado. Ela riu, balançando as mãos com suavidade e exibindo a pulseira reluzindo sob a luz.
— Estou bem, não se preocupe – respondeu com um sorriso leve antes de voltar a correr, dizendo que estava atrasada.
Fiquei parado, vendo-a se afastar, ainda sentindo a energia daquela troca rápida e intensa. Algo nela despertava uma conexão inexplicável, como se nossos caminhos estivessem traçados para se cruzarem.
Entrei no carro, tentando afastar o que acabara de sentir. Segui em direção à padaria onde encontraria Leandro. Quando cheguei, o aroma doce de pães e bolos preenchia o ambiente, que era decorado em tons suaves de rosa, transmitindo uma sensação de tranquilidade. Quando me sentei com Leandro, alguém se aproximou para nos atender.
Levantei o olhar e, para minha surpresa, era ela novamente. A mesma pulseira e o mesmo pingente. Seus olhos azuis agora estavam a poucos centímetros de mim, e no uniforme que usava, lia-se seu nome, bordado em letras sutis: Beatriz.
Um nome que soava suave como ela e, naquele instante, eu sabia que
Beatriz seria difícil de esquecer.
Então, após a reunião com os Los Anjos, dirigi-me diretamente à Next Level, a balada que eles comandam aqui no Brasil, uma das mais badaladas e exuberantes da cidade. Ao atravessar a entrada iluminada por luzes neon, fui envolvido pelo som pulsante da música eletrônica que reverberava pelas paredes. O ambiente era uma mistura hipnotizante de cores e energia, com pessoas dançando e rindo, perdidas na euforia da noite.
Enquanto caminhava pelo salão, observei as dançarinas se movendo com graça e confiança, cada uma mais encantadora que a outra. As roupas brilhantes refletiam a luz de forma hipnotizante, e seus corpos se contorciam ao ritmo da música, criando um espetáculo que cativava todos os olhares. O ar estava carregado de excitação e uma energia quase elétrica.
Mas, em meio à multidão vibrante, meus olhos foram atraídos para uma figura em particular. Ela estava no centro do palco, dançando com uma intensidade que me fez esquecer tudo ao meu redor. A combinação de seu movimento fluido e a maneira como o vestido justo ressaltava suas curvas me deixou absorto.
Então, enquanto a música ecoava, um lampejo de reconhecimento me atingiu. Era Beatriz, a mesma mulher que quase atropelei mais cedo. O coração disparou, lembrando da pulseira com o pingente de coração. A conexão inexplicável que havia sentido antes retornou com força, como se o destino estivesse novamente unindo nossos caminhos.
Fiquei ali, imerso na música e na imagem dela, esperando o momento em que nossos olhares se cruzariam novamente.

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