Beatriz Alves
Enquanto dirigia de volta para casa com Camilo, uma mistura de emoções dançava dentro de mim. Ele estava tão próximo, tão intoxicante, mas à medida que o caminho se estendia à minha frente, não pude deixar de sentir um peso esmagador sobre meus ombros. A imagem de Bianca, minha irmã, doente e vulnerável, surgiu em minha mente como um lembrete constante da realidade que eu não podia ignorar.
Ao chegarmos, Camilo parou o carro e olhou para mim, a intensidade em seus olhos refletindo a paixão e a complexidade do momento. Mas minha mente estava longe dele, imersa nas preocupações que sempre carregava. Como eu poderia me permitir sentir algo tão profundo por alguém como ele, um homem envolvido em um mundo de sombras e perigos, quando minha vida era uma luta constante pela sobrevivência de minha família?
— Beatriz, você está bem? — a voz de Camilo trouxe-me de volta à realidade.
— Sim, só estou pensando em... — Hesitei, as palavras falhando enquanto tentava encontrar uma maneira de explicar. — Minha irmã, ela precisa de mim.
Camilo franziu a testa, e pude ver a compreensão em seu olhar.
— Eu sei que você tem responsabilidades, e quero que saiba que não vou interferir nisso. — Ele falou com firmeza, mas havia uma preocupação em seu tom que me fez sentir um pouco mais segura.
Nos dias seguintes, nossa conexão se aprofundou, e os encontros que tivemos se tornaram um refúgio para mim, uma pausa das preocupações e obrigações. A cada risada compartilhada e cada conversa noturna, o mundo parecia mais leve. Mas mesmo assim, o peso das minhas responsabilidades sempre pairava sobre mim como uma sombra.
E então, um dia, enquanto estava no trabalho, um pensamento perturbador me atingiu. O tratamento de Bianca era caro e complicado, e as dificuldades financeiras da minha família estavam aumentando. Lembrar de como minha mãe lutava para cuidar dela e de mim me fez sentir culpada por até considerar me distrair com Camilo. E se algo acontecesse com Bianca enquanto eu estava ocupada demais vivendo esse novo capítulo da minha vida?
Enquanto eu ponderava sobre essas coisas, Camilo parecia perceber a minha inquietação.
Ele me observava, sempre atento, sempre tentando entender as nuances do que eu sentia. Mas o que ele não sabia era que meu coração estava dividido. A conexão entre nós era inegável, mas a realidade da minha vida era um muro que me impedia de me entregar completamente.
Uma noite, enquanto conversávamos em seu apartamento, Camilo mencionou casualmente que estava investigando um possível doador de medula óssea para mim. Fiquei surpresa e assustada. Como ele poderia saber da condição de Bianca? Ele tinha se mostrado tão interessado em mim, mas não sabia nada sobre minha vida pessoal.
— Beatriz, eu sou o Don da Cosa Nostra. — Ele sorriu, mas o olhar era sério. — Posso encontrar qualquer um. Se houver uma chance de ajudar sua irmã, vou fazer isso.
Naquele momento, o calor de sua oferta me envolveu. Era um gesto tão generoso, tão inesperado. Mas também havia uma escuridão nesse gesto que eu não conseguia ignorar. O que ele queria em troca? O que significava para ele se envolver assim na minha vida?
Com o passar dos dias, eu vi Camilo se dedicando a encontrar um doador, um gesto que me tocava profundamente. O amor que ele mostrava por mim se manifestava em sua preocupação com Bianca. Mas, ao mesmo tempo, eu estava cada vez mais consciente de que o dia 8 de novembro se aproximava. Era o dia em que Camilo tinha que voltar para a Itália, e eu não tinha ideia de como lidaria com a sua partida.
Quando o dia finalmente chegou, um nó se formou no meu estômago. Eu queria que ele ficasse, mas também sabia que era uma impossibilidade. Camilo havia mencionado algo sobre uma promessa que tinha feito, uma noiva que o esperava. Eu não sabia se ele tinha planos de falar comigo sobre isso, mas a expectativa de que tudo mudaria após a sua partida me deixou inquieta.
Na manhã do dia 8, tudo parecia calmo. Mas assim que Camilo e eu nos encontramos, o clima mudou. Ele estava tenso, seus olhos escaneando o ambiente com uma intensidade que me deixou nervosa.
— Beatriz, precisamos conversar. — A voz dele era grave, e eu sabia que algo estava errado.
Ele me levou para um lugar mais reservado, longe dos olhares curiosos, e me contou que o cartel Los Anjos tinha sido alvo de um roubo por uma máfia rival. A urgência em seu tom me fez sentir o peso do mundo sobre os nossos ombros. Ele precisava ficar para ajudar sua família e proteger o que tinha construído.
— Camilo, você não pode deixar isso te consumir. — Eu disse, a preocupação me invadindo. — Você precisa voltar para sua vida.
— E deixar você e sua irmã desprotegidas? Não posso fazer isso. — A determinação em sua voz era firme, mas eu não sabia como isso afetaria nossas vidas.
Ficamos ali, a realidade da situação nos cercando. As promessas e os planos que fazíamos estavam se desfazendo, e a possibilidade de um futuro juntos parecia distante.
Com o passar das semanas, enquanto Camilo se envolvia em conflitos e lutas, eu comecei a perceber que o que ele fez por Bianca era um reflexo de algo muito mais profundo. Ele estava se comprometendo, não apenas como um amante, mas como um homem que queria cuidar de mim e de minha família. Mas o peso da escolha que eu teria que fazer se aproximava a passos largos.
E assim, passei um mês ao lado dele, mergulhada em sentimentos conflitantes, entre a devoção que começava a crescer e as responsabilidades que nunca deixariam de existir. O tempo voava, mas as decisões não se tornavam mais fáceis.
Enquanto a máfia rival continuava a se mover nas sombras, minha vida girava em torno da incerteza. Camilo, o homem que havia roubado meu coração, estava lutando contra o próprio destino. E eu, perdida em um mar de sentimentos, sabia que teria que enfrentar a realidade em algum momento.
O dia 8 de dezembro se aproximava, e o que isso significava para nós dois continuava a ser um mistério.
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Corações em Fúria
RomanceCamilo Bellini, herdeiro da Cosa Nostra, está prestes a embarcar para o Brasil. Sua missão? Fechar um negócio importante com Leandro Romano, o chefe do Cartel Los Anjos. Mas quem disse que sua chegada seria tranquila? Logo ao desembarcar, o destino...