Prólogo I - O Príncipe

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Havia algo faltando no mundo. Algo vital.

Nas poucas vezes em que dormiu, ele acordava com a estranha e desesperada esperança de que, ao abrir os olhos, ela ainda estaria ali. Sentia que, se simplesmente saísse da cama, poderia encontrá-la ao seu lado, com aquele humor arrogante que, mesmo assim, iluminava seus dias como o mais brilhante dos sóis.

Por um breve e frágil momento, permitiu-se acreditar que, quando acordasse, seria criança novamente, e ela estaria ao seu lado, correndo pelos corredores do castelo, arrastando-o para realizar seus caprichos. Quase podia vê-los explorando aquelas terras juntos, vagando por campos brilhantes e jardins cheios de vida, onde ela buscava inspirações para sua arte com aquela paixão implacável e ardente que sempre fora dela.

Nesses sonhos acordados, quase podia ouvi-la cantando, com aquela voz angelical que tinha o poder de acalmar os demônios mais perversos... como ele.

Mas, quando despertava, tudo ainda era o mesmo vazio sombrio que o assolava desde aquele torneio sangrento. Ele continuava sozinho.

Os dias se arrastavam. Ele só sabia disso por causa da luz mudando nas paredes, marcando uma passagem de tempo que não tinha mais significado. Ele sentia o mundo continuar a girar, frio e insensível, como se ela nunca tivesse existido. Como se ela nunca tivesse vivido ali, ao seu lado, como se nunca o tivesse amado. Ele odiou o mundo por continuar, por ignorar a ausência dela, por seguir em frente quando ele não podia.

Às vezes, ele sentia que se nunca mais saísse daquela cama, talvez não precisasse suportar o vazio. Mas ele sabia que ela o teria desprezado por isso ━━ por ceder, por desistir. Foi esse pensamento que o forçou a se levantar, a continuar, embora ele não fosse nada mais do que uma alma morta dentro de um corpo vivo.

Ele lutaria. Mesmo com o peso em seus ossos, o ruído incessante e sufocante em seu sangue, ele lutaria.

Porque a possibilidade de nunca mais ver aquele sorriso, de nunca mais ouvir aquela risada, de nunca mais ouvir seu nome na voz dela ━━ a voz que significava o mundo para ele ━━ a possibilidade de nunca mais tocá-la, de nunca mais sentir como todo o seu caos desaparecia em seu toque… essa possibilidade o obrigava a lutar. E porque ele sabia que ela também lutaria.

E era isso que o aterrorizava de uma maneira que não conseguia descrever. Ele a conhecia bem demais. Sabia que, não importava o que fizessem com ela, o quanto a torturassem, o quanto tentassem quebrá-la, ela não cederia. Porque seu coração de fogo, sua devoção insana e o amor implacável por sua família, por ele ━━ tudo isso a manteria forte, a manteria inteira.

Ele odiava isso. Corria como veneno por suas veias, porque não era justo. Não era justo que ela tivesse que carregar aquele fardo sozinha, que ela tivesse que sofrer, que ela tivesse que carregar aquela cruz por eles, por ele.

Às vezes, ele queria apenas desaparecer em um mundo no qual ela não existia. Ficar ali, vendo as luzes mudarem e o mundo seguir em frente. Mas ele lembrava que ela ainda estava viva, e isso o obrigava a respirar, a continuar. Ele não deixaria de respirar enquanto ela ainda tivesse um fôlego sequer. Não deixaria de lutar.

Ele cruzaria céus e mares, desertos e florestas, montanhas e abismos, os confins do mundo, até mesmo os malditos Sete Infernos se fosse preciso.

Ele não pararia.

Aemond Targaryen não pararia até encontrá-la.

𝗞𝗜𝗡𝗚𝗗𝗢𝗠 𝗢𝗙 𝗔𝗦𝗛 ☄Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora