Prólogo II - A Princesa

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Ela estava acorrentada. Correntes pesadas e inflexíveis cortavam sua pele, marcando-a como prisioneira, como escrava, deles. Mas ela não cedeu, não lutou ou gritou. Ela simplesmente aceitou ━━ aceitou quando a vendaram, quando a silenciaram com a escuridão, quando a arrastaram para um lugar que ela não conseguia imaginar, talvez um lugar além do fim do mundo.

Porque ela não sabia onde estava. Só sabia que era pior do que qualquer abismo. Aldric tinha se certificado disso; ele tinha garantido que ela nunca seria encontrada. Ela não ouvia nada ━━ nenhum sussurro de pássaros, nenhum murmúrio de água, nenhum sopro de vida. Apenas, às vezes, um vento uivante e sobrenatural que rasgava sua cela como um fantasma. O frio ali penetrava em seus ossos, mais profundo do que mero frio, mordendo cruelmente sua pele, um tormento especial para alguém cujo sangue pulsava quente, aquecido pelo poder em suas veias que agora parecia mais desperto do que nunca.

Talvez estivesse no próprio inferno, e a chama dentro dela houvesse despertado em reconhecimento ao que moldava aquele lugar.

Ela havia escondido seu poder por tanto tempo, como um gigante adormecido, que talvez agora ele se revoltasse, pronto para emergir. Talvez ele tentasse destruí-la também, como o inimigo estava fazendo. Mas ela sabia, tudo em seu sangue sussurrava, que aquele lugar era um lugar esquecido. Ancestral.

Talvez ela logo fosse esquecida em breve também.

Brynna uma vez lhe dissera que quando o fogo parava de queimar, tudo o que restava eram cinzas. Ali, naquela cela silenciosa e gélida, ela sentiu que seu fogo estava morrendo. Logo ela também poderia ser nada além de cinzas, espalhadas no esquecimento por aquele vento fantasmagórico. E de alguma forma, esse pensamento lhe deu conforto.

Ela preferiria ser esquecida do que lembrada por sua fraqueza, seu fracasso. Se é que alguém ao menos se lembraria dela. Talvez Aldric a apagasse completamente da existência, e alguma parte distorcida dela queria isso. Cada dia ali parecia uma eternidade. Eram dias que ela nem sequer tentava contar; o tempo não existia naquele lugar esquecido, onde ninguém poderia ouvir seus gritos ou testemunhar as formas diversas de dor que exploravam em seu corpo.

Uma princesa nascida e forjada em chamas para salvar ━━ mas nunca para ser salva. Esse era seu destino, seu preço.

Quando criança, ela acreditava que as chamas falavam com ela, sussurros que ela mencionava ansiosamente para sua mãe. Levou muito tempo para ela entender que essas vozes não eram apenas frutos de sua imaginação. Elas eram os Deuses ━━ não os Antigos ou os Novos, mas aqueles do antigo Fogo Selvagem de Valíria. Estavam falando com ela, pressionando em seu jovem coração a lembrança de seu propósito, o fardo de seu destino, o dever de evitar as tragédias que ela vislumbrava em suas visões: os destinos de sua família, de sua Casa, encharcados em sangue e traição.

Suas mãos estavam destinadas a limpar aquele sangue.

Sua vida tinha sido moldada por esses Deuses e seus lembretes constantes de seu papel: uma vida que não era sua, um futuro que ela era forçada a lutar. Eles lhe mostravam, repetidamente, uma linha do tempo já escrita, mas que ela havia nascido para alterar. E ela obedeceu, embora mal entendesse.

As visões vinham lentamente no início, apenas lampejos de sonhos estranhos. Mas conforme ela crescia, elas também cresciam, até que ela mal conseguia distinguir a diferença entre realidade e profecia. Às vezes, quando olhava para sua mãe, ela via a morte agarrada a ela como uma sombra, via sangue que poderia ser derramado ━━ se ela não o impedisse.

Ela já havia falhado com o avô. Tentara tanto, chegara tão perto, salvando-o de uma doença mortal, apenas para que ele fosse morto por Aldric.

Mas ela não permitiria que o mesmo destino recaísse sobre o resto de sua família. Ou sobre Aemond.

𝗞𝗜𝗡𝗚𝗗𝗢𝗠 𝗢𝗙 𝗔𝗦𝗛 ☄Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora