𝗞𝗜𝗡𝗚𝗗𝗢𝗠 𝗢𝗙 𝗔𝗦𝗛 ☄Aemond Targaryen

A Rainha Negra - Capítulo 1

Merikh percebeu que não se adaptaria tão cedo ao sol implacável do Oeste.

Talvez fosse a marca de uma estrangeira, um resquício de suas origens em Asshai ── em Essos ── que a fazia se sentir assim. A escuridão infinita de sua cidade, velada por uma névoa perpétua e fria, era incomparável à aquele reino.

Ah, o calor miserável. Parecia penetrar em todos os poros, deixando sua pele seca e coçando. Ela não conseguia entender como as nobres damas ali suportavam camadas de vestidos que cobriam sua pele tão completamente, tudo em nome da "modéstia". Deviam assar vivas.

Em Asshai, as mulheres usavam o que bem queriam, e aquelas que o faziam nunca eram taxadas como prostitutas.

De pé em uma das vastas sacadas de pedra da Fortaleza Vermelha, Merikh se mantinha introspectiva, observando o amanhecer. Tão dourado, mas tão sombrio, dados os céus opressivos dos últimos dias.

Desde o sangrento Torneio, Westeros era onde ela, Saphira, Thaelor e Miraak tinham ficado. Apenas os Anciões retornaram brevemente a Asshai ── pois tinham negócios inacabados lá. Negócios para Rhaenyra Targaryen, embora a Herdeira do Trono provavelmente não soubesse, dado seu estado devastado. Alysanne e Benjicot Blackwood também partiram, assim como Cregan Stark.

Merikh ainda não havia processado completamente como algo tão vibrante, tão esplêndido, havia se transformado tão repentinamente em ruína.

Agora, ela sabia que não demoraria muito para que as coisas piorassem ainda mais. As serpentes estavam se agitando, espreitando em cada canto de cada maldito reino. O mal estava em todos os lugares, e logo convergiria como um, um que destruiria todos eles.

E todos precisavam agir; rapidamente. Ela só conseguia se perguntar se não apenas seu deus, mas todos os Deuses, teriam a misericórdia de dar mais algum pouco de tempo o suficiente para que pudessem obter alguma vantagem naquela guerra. Para trazê-la de volta.

Ela mal conseguia pensar em Astraea sem que um tremor lhe alastrasse o corpo.

Merikh sempre achara que entendia Astraea; a princesa mesmo dissera que ela era quem a compreendia mais intensamente, que ambas eram feitas do mesmo material selvagem. Mas agora Merikh via que não a entendia mais.

Astraea parecera tão feliz no Torneio e nos últimos tempos antes de ele acontecer, ao menos pelo que lhe contara. Mas Merikh ainda captou certa estranheza, e R'hllor sussurrava sobre isso, sobre quantas sombras rodeavam a princesa ── morte, talvez. Morte de outros e dela mesma.

E, ainda assim, Astraea sorrira como nunca para todos que amava naquele dia. A sacerdotisa se perguntou se, considerando os dons estranhos da princesa, ela havia previsto o que aconteceria e, por isso, se permitira estar tão vibrante uma última vez. Rodeada daqueles que amava uma última vez.

Mesmo tendo deixado o Torneio em determinado momento, Merikh ficou sabendo de tudo o que aconteceu. Inclusive sobre Astraea e... o poder. Não pareceu tão surpresa quanto Thaelor e Miraak, mas Saphira também não demonstrou qualquer espanto. Como metamorfa, seus sentidos eram excepcionalmente aguçados, capazes de captar tanto aromas físicos quanto o próprio "cheiro" de poder.

Merikh sabia que treinamento nunca foi algo que faltasse para Astraea. Desde a infância, ela havia aprendido a arte da guerra sob a tutela de Harwin Strong ── um nome que ela sempre mencionava com admiração. Seu treinamento se tornou ainda mais intenso e implacável quando chegou ao Acampamento, onde adquiriu conhecimento bruto sobre combate e domínio da magia de sangue.

Mas, quanto àquele poder, o verdadeiro poder... era outra história. Ninguém jamais ousara guiá-la em como controlá-lo ── Merikh não sabia se fora por medo ou omissão. Nesse aspecto, Astraea era completamente carente de treinamento. E em uma escala daquela magnitude... magia de fogo, pura e ardente. Aquilo ia além de qualquer força mística conhecida naquele mundo.