Respirator | Kim Seungmin

02

Quando a segunda-feira chegou, eu senti medo. Era o meu primeiro dia em uma escola completamente diferente, e minha última experiência escolar não tinha sido das melhores.

Fui expulsa do colégio para idols onde estudava, ninguém acreditou no que eu disse quando contei sobre os abusos que sofri, e mesmo reunindo todos os professores em um conselho para decidir o meu futuro, nenhum deles ficou do meu lado. O que mais me doeu foi que eu gostava de todos eles, e sempre tive uma ótima relação com cada um naquela escola, mas pelo visto esse sentimento não era uma via de mão dupla.

Jungwon e eu nos curvamos na frente da classe e dissemos os nossos nomes. Foi um alívio quando o professor finalmente disse que podíamos sentar em qualquer carteira vaga, os olhares sobre nós me deixaram desconfortável e ansiosa.

Rapidamente, meu irmão se sentou ao lado de Seungmin. Eu não o via desde o dia da mudança, já que fiz o máximo para não sair de casa durante a última semana. Me sentei sozinha, não havia outros lugares vagos em dupla com outros alunos. Bom, aqui no fundo da sala, pelo menos serei menos encarada.

Foi o que eu pensei.

Não demorou muito para que as perguntas e os burburinhos começassem. No intervalo entre uma aula e outra, senti um pouco de raiva de Jungwon, ele podia ter sentado comigo para mostrar aos outros que eu não estava sozinha, mas é claro que ele não tinha esse tipo de sensibilidade. Os garotos são sempre idiotas imaturos.

Abaixei a cabeça, fingindo dormir enquanto o próximo professor não chegava, mas nem isso foi suficiente para me manter em paz.

— Ei, novata, é verdade?! Que você era uma trainee de k-pop? — uma voz feminina chegou aos meus ouvidos. Continuei quieta, os olhos fechados por cima dos braços apoiados na mesa.

— É óbvio que sim, você não viu o rosto dela? É praticamente um anjo! — dessa vez, um garoto disse. Escutei um riso debochado em seguida.

Minhas entranhas começaram a se revirar. Estavam falando de mim como se eu nem estivesse ali, como se eu não fosse nada.

— Anjo?! Tá mais pra demônio! Ou vocês não ouviram sobre ela dar em cima do produtor que tem idade pra ser pai dela? Aposto que é só mais uma sem talento que seduz homem casado pra debutar.

Senti meus braços começarem a molhar com minhas lágrimas. Agora eu não podia nem mesmo me levantar, se fizesse isso, todos me veriam daquela forma. Nesse momento, o som forte de um soco na mesa calou a sala inteira; o susto me fez esquecer que estava chorando antes.

— Lavem a boca suja de vocês antes de falarem da Haerin! — era a voz do meu irmão. Jungwon se levantou para me defender — Se eu ouvir qualquer um falando isso sobre ela de novo, eu não vou me importar de ser expulso por ter arrebentado a cara de um lixo como esse!

O falatório foi se encerrando aos poucos nos próximos segundos, até acabar completamente com a entrada do professor. Aproveitei o momento para ir ao banheiro me recompor, mas, mesmo que Jungwon tivesse me defendido, não consegui voltar para a sala. Só de me imaginar entrando lá e todos os olhos estarem em cima de mim novamente me dava arrepios. Que belo primeiro dia de aula.

Passei por alguns corredores, buscando algum cômodo vazio em que eu pudesse me esconder até a hora da saída, não queria ser vista por nenhum funcionário da escola. Era difícil saber bem pra onde ir, já que eu não conhecia nada ali, mas continuei em frente; andei até ver uma porta dupla no final de um corredor. Apenas dois pequenos retângulos verticais mostravam a parte de dentro, mas o melhor de tudo era que a porta estava apenas encostada, o que significava que nenhuma tranca me impediria de entrar. E foi o que fiz.

O espaço era enorme. A grande piscina me fez abrir a boca levemente; as raias coloridas reluziam na água, conforme alguns raios de sol entravam pelas frestas do lugar. Era bonito e vazio, perfeito para um esconderijo. Não deve haver treinos no horário de aula, imaginei, isso queria dizer que eu podia ficar por um tempo até o sinal tocar, depois buscar minha bolsa e então voltar pra casa e fingir que esse dia nunca aconteceu.