Os dias seguintes na escola não foram mais fáceis que o primeiro. Cada dia que passava, os rumores sobre mim se tornavam ainda mais absurdos, e eu torcia para que todos apenas se esquecessem logo da minha existência ali.
Mesmo que os comentários me fizessem mal, eu decidi não me esconder mais, pelo menos por enquanto. Tinha sido vergonhoso demais ser vista andando de quatro por Seungmin, eu não podia mais me meter em nenhum tipo de confusão como aquela.
Terminei de guardar o material e me despedi de Jungwon com um aceno. Ele tinha conseguido uma diária para trabalhar em uma festa de aniversário infantil como animador, ele fazia esse tipo de serviço de vez em quando para ganhar seu próprio dinheiro. Saí pelo corredor, era um alívio que era hora de ir embora e eu estava prestes a acelerar o passo quando uma garota me parou.
— Seu nome é Haerin, né? — me afastei um pouco para trás, assustada com a presença dela — Eu sou Minju. Jang Minju!
Pisquei algumas vezes, sem entender o motivo dela ter me parado. Na verdade, não tinha vontade de iniciar uma conversa com ninguém aqui, ainda tinha medo de que qualquer um me julgasse. Eu não conhecia a garota, entretanto, e com a minha falta de resposta ela prosseguiu:
— Eu sou representante da turma B. Você tá no segundo ano A, certo?!
— É… sim — respondi receosa. A garota tinha um semblante simpático no rosto.
— Faz tempo que tô tentando falar com você, mas nunca consigo te encontrar no intervalo. Você não gosta da comida daqui?
— Ah, não. É que…
Já fazia uma semana que meu almoço era um bolinho pronto e um suco de maçã, que eu comia dentro da sala de aula para não ter que ver outras pessoas no refeitório. Tenho tratado um transtorno de ansiedade social na terapia desde que tudo aquilo aconteceu no ano passado. Era difícil estar em multidões agora, o que também é irônico, pois não muito tempo atrás, meu sonho era me apresentar em um estádio lotado.
— Você devia vir comer com a gente! — de repente, a vi puxando um garoto para perto de nós — Esse aqui é o meu amigo, Park Gunwook! Ele é meio bobo, mas tem braços fortes, então se alguém te incomodar, você pode chamar ele na hora!
Gunwook era bem mais alto que Minju, mas ficou preso com o braço dela ao seu redor por alguns segundos, até se desvencilhar para fazer uma reverência para mim.
— Você realmente tem que dizer que sou bobo pra todo mundo? — ele lançou um olhar ameaçador para a garota, que apenas riu. Em seguida, virou-se para mim: — A parte dos braços fortes é verdade, você pode falar comigo se alguém tentar te fazer mal. Sou conhecido como o Justiceiro da Turma B.
Park levantou o braço e contraiu os músculos, exibindo seus bíceps. Mesmo com o corpo forte, seu rosto parecia jovem, era como se ele tivesse saído direto de um webtoon escolar.
— Gunwook é levantador de peso, vai pra competições e tudo mais — Minju continuou tagarelando, como se fôssemos amigas há tempos. — Bom, você parecia apressada e eu não quero te atrasar. Mas não esqueça, vamos comer juntos um dia desses!
Eu apenas acenei com a cabeça, continuando meu caminho enquanto pensava no que havia acabado de acontecer. Imaginei que Jang Minju tinha feito isso por pena, todos do nosso ano já devem ter escutado alguma coisa ruim sobre mim. Suspirei, chutando uma pedra no meio da calçada; Mokpo ainda não se parecia com um lar para mim.
Cheguei em casa e tive mais um dia comum. Minha rotina era chegar da escola, fazer o nosso jantar e deixar tudo limpo antes da minha mãe voltar do trabalho. Geralmente Jungwon faz os trabalhos pesados como lavar o banheiro, aspirar tudo e pôr o lixo pra fora, mas como ele não estava aqui hoje, eu fiz tudo sozinha. Depois de terminar as tarefas e comer, tomei um banho demorado, coloquei um moletom qualquer e fui para o meu quarto, tinha muita coisa para estudar agora que minha carreira como idol não aconteceria mais. Se eu me esforçar, talvez ainda consiga ir para uma universidade mediana. Tinha que me contentar com isso.
Era por volta das nove da noite quando minha mãe enviou uma mensagem dizendo que faria horas extras no trabalho e chegaria de madrugada. Na verdade, eu já estava acostumada com isso. Desde que me lembro, minha mãe estava sempre trabalhando para sustentar nós três. Nunca cheguei a conhecer o meu pai, não sei nem que tipo de rosto ele tem, mas também nunca tive o menor interesse em conhecê-lo. O que eu sei sobre ele é o suficiente. Ele abandonou a namorada grávida de gêmeos e sumiu. Por que eu iria querer conhecer alguém assim?
Me levantei da escrivaninha e espreguicei os braços acima da cabeça. Pela janela do quarto, vi como a lua estava cheia e brilhante, a beleza dela me fez decidir dar uma volta.
Fui até o parque, que não ficava muito longe de casa, e me sentei no balanço, não tinha ninguém por perto, então me permiti balançar algumas vezes, mesmo que eu já fosse grande demais para isso. A sensação do vento batendo no meu rosto foi um dos poucos sentimentos bons que tive nos últimos tempos.
O parque estava vazio; escutei um barulho vindo de trás de um arbusto e parei o balanço, apurando os ouvidos para tentar escutar o barulho novamente. Caminhei até lá, vendo um filhote de gato escondido entre as folhas, ele era muito fofo e pequeno, apesar de parecer muito assustado. Seus pelos eram completamente brancos e os olhinhos azuis brilhavam atrás das folhas, eu já estava apaixonada por ele.
— Ei, você tá bem?
Me agachei e estendi minha mão, tentando fazê-lo se aproximar, mas ele continuou receoso, como se temesse algum mal. De repente, me virei na direção que o gatinho olhava, encontrando um grande cão na espreita, era por isso que ele estava com tanto medo. Eu me assustei quando, em menos de um segundo, o cachorro avançou em nossa direção, latindo alto sem parar. Enfiei meus braços nos arbustos e peguei o gatinho no colo, me levantando rápido para deixá-lo fora do alcance do cão.
Tentei expulsar o cachorro algumas vezes, mas ele continuou latindo para mim, eu já estava começando a ficar assustada e o filhote em meu colo chorava em miados finos e sofridos, me deixando ainda mais nervosa, quando vi o dono do cão se aproximar correndo.
— Nala! Vem aqui agora! — a cadela obedeceu no mesmo instante, indo até o garoto.
Respirei fundo, tentando ganhar alguma paciência e caminhei brava até ele. Me recusava a acreditar que outra vez tinha dado de cara com Kim Seungmin.
— Yá! Acha certo deixar um cachorro desse tamanho solto por aí?! Ele podia ter machucado alguém!
— Ela. Nala é fêmea, se você não reparou — o Kim a acariciou, como um pai permissivo que nunca dá bronca no filho. — Esse é o horário do passeio dela.
Revirei os olhos, vendo-o finalmente colocar a guia da coleira na cadela para segurá-la.
— A única coisa que eu reparei foi a sua cachorra avançando nesse filhotinho — Seungmin espiou o pequeno em meu colo, sem dar muita importância. — Eu devia te denunciar pra polícia por deixar esse bicho por aí sem coleira e focinheira!
— A Nala é uma Golden Retriever, não precisa de focinheira pra passear porque é dócil. E além disso, se você quer saber, minha Nala nunca avançou em ninguém, seja bicho ou gente!
— Pois eu acabei de ver com meus próprios olhos o gatinho sendo vítima desse seu saco de pulgas! E ela também latiu com raiva pra mim!
— Ela só queria brincar! Por que você sempre interpreta os outros mal?
Soltei um riso debochado, sem acreditar no que estava ouvindo, por dentro eu me perguntava se era possível alguém ser tão petulante quanto ele.
— É por isso que dizem que o cachorro se parece com o dono! A percepção de vocês dois sobre o que é uma brincadeira é terrível.
— Yá! O que você quer dizer com isso?!
Seungmin tinha uma expressão inconformada no rosto. Eu apenas dei de ombros, ajeitando melhor o filhote em meu colo antes de contornar o garoto e sua cadela para ir embora dali. Já de costas para ele, respondi sua pergunta:
— Quero dizer que você não parece saber respeitar limites — parei um segundo antes de completar: — E da próxima vez, vê se não deixa sua cadela solta por aí, ou vou ser obrigada a te denunciar por abandono de animais!
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Respirator | Kim Seungmin
Fiksi PenggemarEm meio às sombras da indústria do K-pop, Kang Haerin, uma garota de 17 anos, vê o sonho da sua vida desmoronar quando é expulsa da formação de seu grupo pouco antes do debut. Após denunciar abusos de seu ex-produtor, ela se torna alvo de comentári...