mudanças precisam ser feitas

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Quando Jimin acordou, a sensação de desorientação foi instantânea. Sua mente buscava por respostas, mas sua garganta seca, a dor latejante em sua cabeça e o vazio em seu peito já foram respostas mais que suficientes.

Ela estava sozinha. Outra vez.

Seus olhos insistiram mais uma vez em derramar lágrimas naquela manhã. Ela se esforçou para se arrastar para fora da cama, quase tropeçou em seus próprios pés e foi ao banheiro.

Lavou o rosto, escovou os dentes e passou a encarar seu reflexo no pequeno espelho em sua frente. Encarou com desgosto o rosto pálido, quase sem vida, e as olheiras que lhe faziam companhia.

Patética. Burra. Trouxa. As palavras ecoavam na sua mente, cada uma mais dolorosa que a anterior. Mas, em algum lugar dentro de si, Jimin sabia que não estavam completamente erradas. Tinha sido ingênua, talvez.

Mas, realmente somos ingênuos e idiotas por acreditar no amor quando ele aparece em nossa vida? Deveria se arrepender de ter trocado mensagens com Minjeong a ponto do sentimento crescer, transbordar e virar um relacionamento?

Os momentos com Minjeong foram doces, apesar de situações conturbadas e com ansiedades que passaram. Só que Jimin ainda sentia aquela dor dilacerando seu peito, um pedido de socorro coberto de saudade. Mas era em vão. Seus sentimentos não mudariam a decisão de Minjeong.

Jimin estava outra vez fadada a solidão. Não sabia se seria temporário. Tinha medo de não esquecer Minjeong. Mas também tinha medo de seguir em frente e acabar com uma possibilidade de Minjeong retornar para ela.

Só que Minjeong nunca retornaria, Jimin sabia.

E isso era porque ela não era especial? Não merecia ser amada? Tinha que sempre ser o lado que mais sofria?

Medo. Jimin, uma mulher adulta, tinha esses medos, por mais bobos que parecessem ser. Medo de não ser amada. Medo de nunca conseguir esquecer Minjeong. Medo de que, se seguisse em frente, se perderia de vez. Entretanto, por mais que ela tentasse negar, sabia que esse medo não poderia ser o que a definisse. Não agora.

Ela até mesmo procurou psicólogos nos dias anteriores, para entender um pouco o que sentia. Não era dependência emocional. Foi amor. Foi um amor puro, mas não o suficiente para fazer Minjeong a escolher. Não foi o suficiente para Minjeong ficar.

Minjeong saiu de sua vida. Jimin tinha que seguir em frente, ela sabia.

Um processo doloroso a aguardava. Esperava, e desejava, que seu sofrimento não se arrastasse por meses, como foi com sua primeira namorada, Yizhuo.

Seu celular apitou em seu bolso, chamando momentaneamente sua atenção. Mais notificações, de outras garotas. Era assim desde que ficou solteira outra vez. Jimin não ligou, não precisava daquela dopamina barata no momento. E não, definitivamente não queria recorrer a ela. Por isso, arquivou as conversas e guardou o celular.

Voltou a encarar seu pobre reflexo.

Como voltaria a focar em si mesma? Como retomaria o que ela era antes de Minjeong? Certo, antes de Minjeong, ela teve Yizhuo... E como era sua vida antes de Yizhuo? O que restava de Jimin quando não estava em uma relação, e quando o vazio não era uma constante companhia? Como era sua vida antes dessas duas garotas? Fazia quanto tempo que ela tinha perdido o seu brilho natural e quase a vontade de viver?

Ok, Jimin sabia que não podia se permitir a viver daquela forma — não outra vez, se recusava a ficar desolada e a perder peso de tanto chorar mais uma vez.

Amores vem e vão. As pessoas escolhem se querem ficar na sua vida ou não. Yizhuo não quis, no passado — a magoou profundamente, deixando traumas como lembranças e alguns bons momentos. E Minjeong, mesmo dizendo que ainda a ama, tomou a decisão de também não querer permanecer em sua vida.

Jimin suspirou alto, pensativa.

A vida de Jimin era como um vagão de trem, sempre vazio. Pouquíssimas pessoas permaneciam; muitas embarcavam, mas poucas realmente chegavam a sua estação final. E ela, como sempre, permanecia sentada, olhando para a janela, sempre se perguntando se algum dia encontraria uma garota disposta a fazer aquela viagem com ela.

Só que pensar nisso fazia Jimin se culpar constantemente. Ela não era o suficiente? Ou nunca seria? Será que ela nunca seria o suficiente para alguém querer ficar ao seu lado?

No fundo, Jimin sabia que era o suficiente sim. Sempre foi verdadeira e sincera ao demonstrar seus sentimentos. E talvez, um dia, ela encontrasse alguma garota que desejasse ficar.

Mas, será que essa futura garota ficaria com alguém com um coração tão machucado e quebrado? Ela não poderia se deixar consumir por essa dúvida.

Jimin sabia que, sozinha, teria que colar pedacinho por pedacinho de seu coração quebrantado. Ela sabia que teria que seguir em frente e se permitir viver... talvez um novo romance, quem sabe, mas no futuro.

Jimin respirou fundo, como se estivesse se preparando para um novo começo. A bebida ficou para trás, ela prometeu. Com a mão ainda trêmula, abriu a portinha do espelho e retirou dali uma tesoura fina e sem graça, as lâminas quase enferrujadas de tanto tempo guardada.

Fechou a portinha e encarou seu reflexo medíocre. Mas ela não deixaria aquela versão patética durar por tanto tempo, como na última vez.

Mudanças tinham que ser feitas.

— Vamos começar por isso. — Jimin disse para si mesma, erguendo a tesoura.

Segurou um maço generoso de seu cabelo, parando um pouco acima da altura de seu ombro. Sua respiração estava quase ofegante pela pequena loucura, mas ela prosseguiu, um sorriso pequeno surgindo em seu rosto pela primeira vez desde que sua vida seguiu um rumo sem Minjeong.

Jimin sabia que o sofrimento não iria desaparecer com um simples gesto. Mas precisava de algo físico, algo mais concreto, que simbolizasse a decisão que ela já sabia que deveria tomar. E aquilo não era apenas sobre o cabelo; era sobre ela mesma, sobre a escolha de não deixar o passado governar mais sua vida.

Com firmeza, Jimin apertou a tesoura. Viu seu longo cabelo, muito bem cuidado por longos quatro anos, cair no chão, quase em câmera lenta. Se concentrou no metal frio contra sua pele e no som do cabelo sendo cortado.

Seus longos fios caíram no chão, pesados, como se estivessem carregando toda a dor que ela sentia. A sensação de alívio foi quase imediata, como se cada fio que se desprendia dela levasse embora uma parte da dor, uma parte da saudade.

Não perdeu tempo, e fez o mesmo do outro lado, os igualando. Era como se ela estivesse arrancando um pedaço de si mesma, mas era necessário. Era a única maneira.

Jimin soltou a tesoura e, sem pressa, observou seu reflexo. Os fios caídos ao seu redor eram um símbolo, talvez, de algo maior. Seu cabelo estava mais curto, mais leve... mas ainda havia muito por fazer. 

Seguir em frente não era fácil, mas era hora de mudanças. Mudanças que precisam ser feitas. Tinha que seguir em frente. Se era isso que Minjeong tanto queria, era o que ela faria então.

— Eu vou te esquecer, Minjeong. — Jimin sussurrou, sentindo a pequena adrenalina diminuindo um pouquinho de sua dor.

Jimin ia se esquecer de Minjeong... ou, ao menos, aprender a viver com essa saudade, até que ela deixasse de doer tão intensamente em seu peito vazio e solitário.

Broken | Karina (aespa)Onde histórias criam vida. Descubra agora