Capítulo 4

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Mainha deu uma risada alta, enquanto mastigava a cenoura e eu não a via tão feliz daquela maneira há tempos. Era como se tivesse vendo minha mãe novamente, a mesma a me receber com beijinhos quando voltava da escola, ou aprontava a lancheira com comidas gostosas. Sentia muita falta daquela mãe — daquela a me colocar como sua prioridade.

Quando fui lhe visitar na enfermaria, já não estava amarrada e o médico de plantão afirmou que mainha havia tido uma recuperação muito boa e já se alimentava com comidas sólidas. Queria gritar de felicidade, então apenas apertei bem meu rosário, agradecendo a Deus por vê-la tão bem. O médico disse ainda faltar muito para a recuperação total, no entanto, seu estado estava melhorando consideravelmente.

Ela riu de uma coisa que havia se lembrado quando eu era criança. Nunca me senti tão feliz em ver minha mãe daquela maneira e se antes tinha ficado brava por terem feito eletrochoque nela, naquele momento me senti grata. Apesar dos pesares, o maldito padre conseguiu trazer de volta uma parte boa da mainha.

Nossa, aquele maldito padre havia ferrado meu psicológico e não parava de pensar na forma de falar comigo naquela noite de jogos; a voz sussurrada e do calor de seu corpo masculino celibatário. Aquele maldito parecia não entender o efeito apoteótico que causava e ele jurou ainda acabar comigo. Infelizmente não era no bom sentido da coisa.

— No que tanto está pensando, Fanniquita? — mainha perguntou, me tirando dos devaneios.

— Oi?! — lhe encarei com uma expressão boba, recebendo uma risada dela.

— Está no mundo da lua, querida e isso não é você. — Soltei um suspiro, segurando suas mãos magras e pálidas.

— Mainha, eu só quero vê-la saudável e pronta para desafiar esse mundo. — Respondi, então ela tocou meu rosto com ternura.

— Sinto tanto por ter te magoado, minha filhinha! — Meus olhos arderam com as lágrimas e chorar não era uma opção. — Deve ter sofrido tanto e a culpa é minha! Era meu dever cuidar de você, pra que estudasse e fosse, sei lá, uma médica, veterinária... qual era seu sonho?

— Eu queria ser estilista. — Respondi sincera.

— Novamente sinto muito por ter arruinado sua vida. — Sua voz estava embargada e não queria guardar mágoa de mainha por algo que a todo momento desejava esquecer.

— Nada disso importa, contando que a senhora melhore e para ficarmos juntas até o fim. — Ela assentiu tocando meu rosto novamente.

Aquele foi um dia muito agradável e até rezamos juntas. Mainha já foi uma mulher religiosa, sempre participava das missas em Flores e praticando caridade, no entanto, quando nossas vidas ficaram de ponta cabeça, aquela mulher havia morrido, restando apenas a casca vazia. Felizmente, ainda conseguia enxergar aquela mulher em seus olhos e a vontade de viver.

Mainha passou por muitas coisas e se perdeu pelo caminho, praticamente me abandonando, porém eu nunca desistiria dela, nem que fosse a última coisa a ser feita. Lutaria com todas as forças por sua saúde, para voltar ao seu antigo eu, ou simplesmente voltasse a ser minha mãe.

Ajudei as outras freiras a lhe dar seu almoço, então fui para a ala de traumas, onde o padre Do estava trabalhando. Me mantive a uma certa distância, pois desde nossa última conversa, estar em sua presença causava um formigamento. Ele havia prometido me destruir na primeira oportunidade e eu deveria sentir medo, mas algo dentro de mim se recusava a temer suas palavras.

Quanto mais o padre me ameaçava de qualquer coisa que fosse, meu lado rebelde o desafiava sem qualquer escrúpulos. Eu saí do inferno, era uma prostituta, vi a morte de perto várias vezes, então ser ameaçada por um padre, que claramente não era confiável, não parecia me abalar como deveria.

Padre_ Série: Desejo Profano livro 5 (D.O)Onde histórias criam vida. Descubra agora