Pela luz dos olhos teus

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Amaury caminhava pela praia, o vento do fim de tarde agitando seus cachos. A luz alaranjada pintava o céu e o mar, tornando tudo calmo, envolvente. Ele gostava de observar a linha do horizonte naquele horário, mas naquela tarde sentia algo diferente, uma inquietação suave, como se o mar lhe escondesse algo. Foi então que sentiu o impacto.

Olhou para frente e o viu: um rapaz de cabelos ruivos curtos, ondulados, como se fossem pintados pelo próprio pôr do sol. Algo como uma pintura de Da Vinci ou Botticelli. Ele tinha barba baixa, ruiva, como o cabelo, e sardinhas espalhadas pelo rosto e ombros, que a luz dourada acentuava de um jeito encantador. Os olhos do desconhecido eram de um castanho claro, cor de mel, e pareciam brilhar, como se guardassem um segredo ou um convite. Amaury sentiu um calor inesperado, e os versos de uma música ecoaram na sua mente: “Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar…”.

Foi instintivo. Amaury sorriu, tentando esconder a surpresa e a leveza daquele encontro. Ele não era de se perder facilmente, mas aqueles olhos ambarinos o desarmaram. O rapaz, um pouco atrapalhado, tentava dizer algo, mas Amaury viu que ele também estava encantado. Riu, oferecendo-lhe a mão como se o conhecesse há anos. E, para sua surpresa, o ruivo aceitou sem hesitar.

À medida que se afastavam das pessoas, o silêncio entre eles ganhava um peso gostoso, como uma tensão leve que dançava no ar. Ele observava Diego de soslaio, notando os detalhes que raramente percebia em alguém. Os cabelos ruivos e levemente bagunçados se destacavam contra a pele clara; as sardas, ainda mais evidentes sob a luz do pôr do sol, davam ao rosto dele uma aparência ao mesmo tempo jovem e marcante. Amaury reparou nas nuances daquele olhar, que, apesar da cor quente, guardava uma timidez desconcertante, como se Diego hesitasse em deixar alguém vê-lo além da superfície.

“Ai, que bom que isso é, meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar…” pensou Amaury, sorrindo sozinho. Ele sabia que aquele frio, aquele arrepio que corria pela espinha, era algo raro. Não conseguia parar de pensar que tudo isso não passava de coincidência, mas cada detalhe — o cheiro do mar, o som das ondas, os silêncios de Diego — fazia com que esse encontro parecesse o início de algo precioso.

Conversaram sobre coisas simples: Amaury contava sobre as tardes que passava naquela praia e sobre como a rotina da cidade o empurrava a buscar esses momentos de paz. Diego falava sobre o trabalho, os amigos, e, quando mencionava a família, seus olhos ganhavam uma doçura que tocava Amaury. Entre uma palavra e outra, ele se pegava olhando os movimentos de Diego: o jeito quase despretensioso de passar a mão pelo cabelo, os olhos fixos no horizonte, o leve riso que surgia de tempos em tempos. Era como se, de alguma forma, Amaury já conhecesse Diego há muito tempo e, ao mesmo tempo, estivesse sendo apresentado a ele pela primeira vez.

Amaury não conseguia se desligar da música que lhe rodava na mente. “Mas se a luz dos olhos teus resiste aos olhos meus só pra me provocar…” Porque era assim que ele sentia cada segundo ao lado de Diego, um encontro de olhares que provocava, desafiava, como se estivesse pedindo para que se deixassem perder um no outro.

Em determinado momento, pararam para admirar o horizonte, e Amaury observava Diego mais do que o pôr do sol. A luz dourada caía delicadamente sobre ele, destacando as sardas do rosto, o castanho mel dos olhos, e o reflexo quente que seu cabelo ruivo parecia absorver do sol. Amaury não sabia o que fazer com o desejo súbito que tinha de passar a mão pelo rosto de Diego, de sentir a pele queimada de sol e as sardas entre seus dedos. Ele se perguntou como seria tocar aquele rosto de perto, acompanhar o traço suave das bochechas com a ponta dos dedos.

“Você vem sempre aqui?” Amaury arriscou, com uma ironia leve na voz, quase como um convite a algo mais. Diego sorriu, e Amaury percebeu que, naquele instante, ele também estava sentindo tudo com a mesma intensidade.

“Venho… mas acho que nunca tinha reparado como o fim de tarde é bonito por aqui.” O tom de Diego era suave, quase sussurrado, e Amaury sorriu ao perceber que Diego olhava para ele, não para o céu ou para o mar.

O silêncio que se seguiu foi diferente de todos os outros — carregado de expectativa, de um entendimento que não precisava de palavras. Amaury não se conteve e deu um passo à frente, aproximando-se, o coração acelerado, como se estivesse caminhando ao encontro de algo inevitável. Sentiu o peso de cada segundo, o som do mar desaparecendo ao redor deles, restando apenas o leve roçar de suas respirações. Diego não se afastou; pelo contrário, se aproximou também, o olhar fixo no dele, sem hesitar.

“Meu amor, juro por Deus, Que a luz dos olhos meus já não pode esperar…” Era isso que Amaury sentia, cada vez mais forte. Com um gesto hesitante, mas cheio de desejo, ele encurtou a distância entre eles. Então, Diego também se inclinou, e logo Amaury sentiu o calor suave dos lábios dele, um toque que começou como um sussurro, mas se tornou profundo, intenso, como se ambos estivessem se entregando ao desconhecido.

O beijo tinha o gosto do mar, do sol, da areia. Amaury sentiu que, de algum modo, estava desvendando todos os segredos que Diego guardava no olhar. Fechou os olhos, entregando-se completamente ao momento, e o mundo ao redor pareceu se desvanecer. Era só o calor daquele toque, o som de suas respirações, o ritmo acelerado dos corações batendo em sincronia.

Quando o beijo terminou, Amaury abriu os olhos, e a última luz do entardecer tingia o rosto de Diego de um dourado suave, quase celestial. Ele sorria, e Amaury sabia que naquele sorriso havia uma promessa. Sentiu o coração aquecer, uma alegria calma o invadir, e soube que aquele instante, aquele beijo, e aquele sorriso ficariam gravados nele para sempre.

No silêncio final, como uma prece, Amaury sussurrou, ainda com o gosto do beijo nos lábios: “Eu só sei que os olhos teus têm que ser só dos meus.”

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⏰ Última atualização: Nov 13 ⏰

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