02 - Um espírito

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Ela está com uma camisa branca, uma jaqueta preta e uma calça preta. Ela tem o cabelo acobreado num preto quase castanho. Ela tem aparência de dezoito anos. Ela esperou uma resposta ou outra reação minha.

Eu não podia escolher como reagir. Uma das várias opções e mais convidativa era correr pra bem longe e espalhar pra todo mundo que aquela sala era assombrada e se as pessoas não acreditassem iriam rir de mim e dizer que é uma ótima piada, mas não convencia. Porque sejamos coerentes, nem eu mesmo podia acreditar e eu presenciei a prova de que essa menina, ainda sem nome, surgiu na minha frente. No ar, sem esforço.

Passaram uns dois minutos aproximadamente com a gente se olhando. Eu de sobrancelhas franzidas, pensando em explicações lógicas ou na possibilidade dos meus olhos estarem me traindo ainda mais depois de todo o drama que passei, poderia ser uma reação. A menina ainda não apresentada, parecia se divertir um pouco com a situação, mas ao mesmo tempo estar tão curiosa quanto eu.

– Ei! – A menina falou alto demais, me fazendo encolher com a voz grossa dela. – Vai falar algo ou você é muda?

Eu arqueei as sobrancelhas de forma penosa, me perguntando se poderia ter me tornado muda depois de tamanha loucura. A única forma de sair dessa situação e entender melhor seria falando o óbvio. Eu pisquei algumas vezes, alternando o olhar da garota para o chão em que ainda estou sentada. Lubrifiquei os lábios com a língua como mania que tenho principalmente quando estou nervosa. Tentei falar algo, mas engatei no meio da ação. Limpei a garganta timidamente e tentei outra vez.

– Q-quem... – É um bom começo, beleza? Acabei de ver alguém invisível ou algo do tipo! – Você. – Saiu meio incoerente, fazendo a menina de olhos castanhos inclinar a cabeça levemente.

Balancei a cabeça fechando os olhos com força, tomando fôlego e dizendo com mais firmeza ao abrir os olhos novamente.

– Quem é você?

A garota acenou com a cabeça parecendo concordar comigo apesar de eu acabar de fazer uma pergunta e não afirmar algo. Eu estou muito insegura e quase preparada para correr caso necessário. Talvez tenha sido tudo um grande mal-entendido. Um mal-entendido bem-feito. Eu esperava que sim. A ideia de fantasmas ou pessoas com poderes invisíveis na vida real não é tão legal quanto nos filmes. Não mesmo.

– Então você pode falar. – A menina falou me despertando dos pensamentos. – Boa pergunta pra começar. Eu sou a Sam. – Ela respondeu. – Samanun Anuntrakul. – Complementou.

Então a coisa tem um nome afinal. De toda maneira eu não estou satisfeita, mas permaneci calada como se já tivesse sido o suficiente pra um diálogo. Mas Sam parece ser uma garota muito mais insistente e faladora, além de animada como se fosse normal ter aparecido dessa forma e fossemos grandes amigas.

– Não é justo eu falar meu nome, mas não saber o seu. – Sam cruzou os braços, fazendo um tipo de bico com os lábios, colocando o inferior pra fora de forma que seu rosto se tornou uma carranca tão assustadora quanto a de um filhote de cachorro.

Isso pareceu ser o suficiente pra sair mais uma palavra da minha parte, apesar de eu estar super confusa.

– Mon. – Eu disse quase num sussurro, não cogitando sequer a ideia de falar meu segundo nome, que a propósito é Phetphailin.

– Mon! – Sam desfez a expressão apontando pra mim com o tom de voz alto como da outra vez.

Tudo foi muito rápido e eu me encolhi com o barulho e arregalei os olhos pro dedo apontado pra mim, com medo de sair algum feitiço ou algo do tipo na minha direção. Não seria ridículo pensar isso depois de como Sam apareceu.

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