– Mãe.
Ela abaixou o livro, os óculos aumentavam os olhos dela. Estava de camisola deitada na cama e a porta do quarto é de frente pra ela. Papai estava lá embaixo onde eu assistia TV com ele, quando resolvi subir. Também é outra que sabe da minha sexualidade e não teve problemas. Eu não cheguei a dizer pra ela, mas acho que mamãe sim.
– Lembra do meu piano? – Perguntei.
– Sim. – Ela cruzou os braços em cima da barriga, ainda segurando o livro aberto em uma delas.
– Pode concertar ele? Ou comprar um novo? – Pedi.
Ela fez cara de pensativa, entortando a boca num biquinho de um lado pro outro.
– Mãe? – Levantei as sobrancelhas.
– Hummmm.
– Mãe! – Falei de forma mimada.
Ela riu e fez sinal pra eu me aproximar. Eu soltei o ar pela boca, mas fui arrastando os pés até me lançar na cama do lado dela. Ela pegou meu rosto e me deu um beijo na testa, deixando o livro aberto na barriga.
– Claro, Mon. – Ela disse por fim e eu dei o maior sorrisão. – Eu ia fazer isso, mas esqueci e você também não me lembrou.
– É, eu sei. – Continuei sorrindo e coloquei meus braços ao redor dela. – Eu também não lembrava.
– Por que isso de repente então?
– Encontrei uma sala de música na escola. – Contei a verdade, mas não como e o que tinha lá além dos instrumentos. – Tem um piano de cauda lá.
– Você pode tocar? – Ela ficou curiosa.
– Digamos que sim. – Escondi o fato de que ainda seria inaugurada porque ela poderia mandar eu parar de ir, apesar de que iria mesmo assim.
– Certo, agora me deixa terminar esse livro. – Ela deu um tapinha na minha costa.
Eu me arrastei pra fora da cama, olhei pra ela com um último sorriso em agradecimento antes de sair do quarto. Desde hoje a tarde depois de falar um pouco mais com Sam sobre Nita e as outras, além de me despedir, eu fiquei pensando no piano de lá e de como ainda precisava pedir pra mamãe que ela concertasse o meu.
Desci outra vez pra pegar minha mochila que sempre deixo em cima do sofá. Papai olhou na minha direção rapidamente, dando um sorriso e voltando a atenção pra um jogo de futebol de um time qualquer desconhecido. Ao menos pra mim. Balancei a cabeça, rindo baixinho.
– Que é Mon? – Ele escutou e eu ri mais, subindo as escadas sem responder.
Fui pra última porta a direita do corredor. Meu quarto. O melhor lugar da casa, ganha até da cozinha. Como passo o dia na escola a maior parte do tempo em que estou em casa eu fico no meu quarto. Vez ou outra eu me sento por uns 15 minutos com meu pai na sala, só pra passar um tempo com ele. Hoje mamãe estava lendo, mas ela costuma estar na cozinha ou se juntar a gente.
Coloquei minha mochila em cima da escrivaninha branca embutida na parede. Eu já tinha tomado banho e trocado de roupa, só preciso fazer os deveres e começar a estudar, porque mesmo sendo o segundo dia de aula, já começa atarefado. Igual no 1 e 2 ano. Fui ao banheiro do meu quarto ajeitar meu cabelo olhando pro espelho agora que ele já está mais seco. Depois de sorrir pro meu reflexo e olhar mais uma vez a marca vermelha que tinha desaparecido do meu pescoço, voltei pro quarto e me sentei de frente pra escrivaninha. Tirei o que precisava da mochila e comecei a fazer alguns deveres. Li algumas coisas, mas depois de uma hora já estava me sentindo cansada. É cansativo ficar numa escola de manhã e de tarde. Eu estava quase dormindo com o rosto apoiado na mão quando mamãe deu um berro dizendo que o jantar estava pronto. Pisquei, balancei a cabeça e franzi as sobrancelhas.
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Alma Solitária
RomanceSam: Um acidente que lhe custou a vida. Mon: Um péssimo dia que lhe concedeu uma aparição. ''Eu pensei muita merda, mas a última delas foi o que realmente estava ali. Porque eu nunca acreditei nessas paradas, eu nunca pensei sério sobre o assunto...