Desde os filósofos medievais, não houve um filósofo tão importante quanto Descartes, filósofo francês do século XVII, que acabou por moldar o pensamento ocidental em trilhos da indagação e da desconfiança hiperbólica. O seu método baseia-se em questionar a totalidade daquilo que detém a possibilidade de ser questionado e, além disso, faz com que o indivíduo pense por si mesmo, este último sendo o objetivo primário de toda filosofia que se leve a sério. É imprescindível compreender as suas ideias, pelo fato de que, adotando um senso crítico em relação às coisas que lhe são apresentadas, tornar-se-á um sujeito mais intelectual.O mal do homem contemporâneo é confundir a liberdade com a libertinagem: a primeira diz respeito ao ato de poder gozar do livre-arbítrio que lhe foi concedido por Deus, o segundo é o efeito da má vontade. Os relativistas lançam vitupérios disfarçados de argumentos coerentes, contudo, com somente um raciocínio breve, o seu sistema lógico acaba desmoronando. Dizem eles: “A religião me limita, ela subjuga a minha liberdade e me obriga a viver de um jeito restrito! A religião, nada mais é, do que o ópio da sociedade” - como Descartes já disse: “é melhor analisar cada questão separadamente e com minúcia, ou seja, de modo que possamos compreender o todo com maior facilidade.
Pensemos nas leis dos homens: Será que seria bom o homem viver em anarquia? O conceito de bem e mal é relativo? Se a resposta for sim, posso roubar alguém e, posteriormente, não ser punido pelo meu crime, somente por conta que, na minha visão, o que fiz não é algo que ofende o meu código moral? Digamos que um legislador extravagante decrete que, a partir de hoje, todos aqueles que forem flagrados correndo na calçada serão presos, por conta que ele se sente taciturno ao ver que há pessoas que possuem um estilo de vida mais saudável que o dele. Isso seria absurdo, não? E, se um caso tão exótico ocorresse em um Estado, poderia se declarar que aquele local já não era mormente um Estado, efetivamente, seria uma anarquia regida por seres incapacitados para governarem a si mesmos ou, em uma definição mais precisa: desprovidos de suas faculdades mentais. Logo, como a moral não é algo relativo, isto é, não se pauta pelas opiniões dos tais sapientíssimos, conclui-se que há alicerces firmes e regras para serem acatadas para que, desta forma, os homens possam conviver em harmonia na sociedade. Portanto, a religião oferece as regras de convivência básica na sociedade dos homens e, sem essa ética, os indivíduos estariam estregues a sua própria sorte, todos iriam batalhar entre si para a obtenção de recursos de subsistência e o mais forte racionalmente dominaria o mais desesperado e frágil. Isso que haveria de ocorrer, porque essa é a “arché” (essência) do gênero humano, a saber: matar, dominar e destruir.
Agora, mostrarei o motivo de a proposição “a religião limita a minha liberdade” ser, no mínimo, desprovida de Intelectualismo.
Primeiramente, conceituarei a liberdade; liberdade é a possibilidade de deliberar sobre tudo que a esfera humana alcança e poder gozar de direitos necessários ao ser humano, exemplos ímpares são o direito a educação, à moradia, aos recursos básicos de sobrevivência (água sem impurezas e uma alimentação saudável) e dentre outros exemplos. A antítese da liberdade é a escravidão, escravidão só é possível por meio da suspensão da deliberação, e, se um sujeito se sujeita aos dogmas da moral cristã, ele não perdeu o livre-arbítrio, mas, verdadeiramente, obteve a vida, porque o único que liberta o homem de seus cativeiros pessoais é o Cristo e, se alguém opta por dar ouvidos à sua má vontade, não está se autogovernando, mas sim, se transformando em um escravo de seus vícios de alma. Aquele que se rege pela própria soberba não é um sábio ou um intelectual, sem embargo, não passa de um organismo desesperado e doutrinado pela Vontade do mundo.
Descartes entende Deus como “uma ideia inata”, isto é, um saber que já está no bojo do gênero humano desde os seus primórdios. De onde vêm as nossas características boas e negativas? As primeiras, porventura, não advêm de um criador benigno que, fazendo a humanidade à sua imagem, fez com que os homens detivessem virtudes admiráveis? E as segundas, hipoteticamente, não seriam um produto do momento em que os genitores da humanidade, Adão e Eva, pecaram e afrontaram a autoridade divina? Somente um ser benigno, justo e perfeito conseguiria construir um mundo perfeito e tão minuciosamente magnificente.
Descartes é um exemplo do que é ser um intelectual: nunca deixar de ter espírito filosófico, ter o conhecimento como foco de vida, obter a mediania na vida, ter ética e saber que o Cristo é aquele que testifica, legitima e eleva o homem a um estado de existência além-homem.

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René Descartes e a razão humana - Gomes
Short StoryUm estudo em relação ao método cartesiano, o homem intelectual e o decaimento do homem contemporâneo.