capítulo 3 - poeiras

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Murillo agarrou a gola da camisa do rapaz que saía correndo, carregando uma sacola cheia das joias que roubara da loja. Com um movimento rápido, ele se jogou, derrubando o ladrão no chão, o prendendo sob seu peso.

A princesa, junto ao príncipe, corria atrás da dona do estabelecimento, que segurava uma vassoura numa mão e um sapato na outra, gritando com fúria:

— Ladrão maldito! Eu vou te matar! — berrava a senhora enquanto se atirava em cima de Murillo, tentando atingir o ladrão com golpes descoordenados.

— Senhora, por favor, acalme-se! — disse Camille, segurando os ombros da senhora com firmeza, tentando afastá-la do detetive.

Murillo soltou um suspiro resignado, a expressão de desconforto evidente em seu rosto. Enquanto segurava o ladrão no chão, ele se questionava, pela milésima vez em sua vida,  por que tinha escolhido tal profissão. Talvez, se tivesse seguido os conselhos de sua avó e se tornado um admirado doutor na França, sua vida teria sido mais tranquila. Certamente melhor do que ser soterrado por uma idosa enfurecida.

— Tudo bem, dona Alice, já o pegamos — disse o príncipe entre risos, tentando controlar a situação. — Ele vai pagar pelo que fez!

A senhora finalmente cedeu, respirando com dificuldade, mas ainda furiosa. — Essas pragas pensam que podem me roubar??? Mal sabem eles que eu tenho olhos de águia!

Murillo, finalmente livre do peso da senhora, se levantou e colocou as algemas no ladrão, que de forma invulgar não lutava contra. Ele deu uma última olhada para Camille, que lhe ofereceu um sorriso solidário.

— Acho que você merece um bom descanso depois dessa, você está trabalhando muito ultimamente — disse ela, tentando aliviar o clima.

— E um bom café — respondeu Murillo, sacudindo a poeira de suas roupas. — Mas só depois de resolver isso aqui.

— Não! Deixe que eu mesma cuido disso...Oliver! — Camille disse olhando para o comandante da cavalaria, que assistia a situação de longe junto a Rainha Jasmine.

Enquanto o ladrão era levado pela a cavalaria real, a dona do estabelecimento continuava a resmungar sobre a situação, enquanto Murillo, olhava o ladrão. Ele era jovem, muito jovem mesmo, talvez, segunda a análise do detetive o garoto estivesse na sua adolescência com apenas 16 anos. Um jovem magrinho, com roupas rasgadas, olhos escuros como a noite e um cabelo longo até os ombros. O que  um jovem como ele estaria fazendo ao roubar aquelas joias?

Já estava tarde, e quando Murillo percebeu, estava no calabouço do castelo junto ao menino.

—...vou morrer aqui? — o menino finalmente disse alguma coisa depois de beber um copo d'água que o detetive lhe ofereceu.

— não exagere — Murillo disse se sentando em seu lado. O menino voltou a ficar em silêncio, se afastando um pouco do homem em seu lado. — está com medo de mim? — Murillo disse.

O menino hesitou, seus olhos negros evitando os de Murillo, mas acabou balançando a cabeça, confirmando o que o detetive já suspeitava.

— Não vou te machucar — Murillo disse com um tom mais suave. — Só quero entender por que você fez isso.

O jovem, ainda desconfiado, olhou para as paredes de pedra úmidas do calabouço, respirando fundo antes de responder:

— Eu... eu precisava do dinheiro.

Murillo franziu o cenho. Era uma resposta previsível, mas algo no tom do garoto indicava que havia mais na história.

— Todos precisam de dinheiro, garoto. Mas roubar uma joalheria em plena luz do dia? Sabia que não iria longe assim.

O menino, agora com os olhos cheios de lágrimas, mordeu o lábio inferior, tentando manter a compostura. Ele não parecia um ladrão. Havia uma vulnerabilidade que tocava Murillo de uma maneira que ele não esperava.

— Um... — a voz do menino falhou por um momento antes de continuar. —...um homem pediu para que eu fizesse isso...ele pediu para que eu roubasse aquela joalheria, em troca, ele me ajudaria a cuidar da minha irmã. Minha irmã está muito doente, minha vó não tem condições para comprar o remédio dela...me desculpe senhor, mas eu precisava ajudar ela...

Murillo ouviu a confissão em silêncio, o peso da situação do garoto caindo sobre ele como uma forte onda. Ele conhecia essa realidade de perto — a necessidade, o desespero, o desejo de proteger aqueles que amamos.

— Qual é o nome dela? — perguntou Murillo, finalmente.

— Elora — respondeu o jovem, secando os olhos com a manga suja da camisa. — Ela tem só oito anos.

Murillo passou a mão pelos cabelos, pensativo. Sentiu uma empatia imediata pelo menino, mas sabia que a justiça teria que ser feita. No entanto, talvez houvesse outra solução.

— Olha, eu vou falar com Camille e o príncipe. Vamos ver o que podemos fazer por você e sua irmã. Mas roubar... isso nunca vai ser o caminho certo, entende?

O garoto assentiu, ainda desconfiado, mas com uma centelha de esperança nos olhos.

— Você... você vai mesmo me ajudar?

— Vou fazer o que puder — prometeu Murillo. — Mas você tem que prometer que vai tentar fazer o certo daqui em diante.

— Eu prometo — disse o garoto com firmeza, a primeira faísca de determinação surgindo em sua voz.

Murillo se levantou e deu um leve aceno antes de se dirigir para a porta do calabouço. Sabia que teria uma conversa difícil pela frente, ele sabia quem era o homem que pediu para o garoto roubar a joalheria, mas, no fundo, sentia que o garoto era a maior prioridade no momento.

Enquanto subia as escadas de pedra, seus pensamentos voltaram a Camille. Ela sempre teve um coração compassivo, e o detetive sabia que, com sua ajuda, talvez pudessem mudar o destino daquele jovem ladrão.

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⏰ Última atualização: Nov 15 ⏰

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UM SEGREDO EM PARIS - (Não Revisado).Onde histórias criam vida. Descubra agora