𝟎𝟏: 𝐂𝐥𝐮𝐞𝐬 𝐚𝐧𝐝 𝐋𝐞𝐚𝐤𝐬

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Ravenna Roux~

Tenho saudades suas, mãe. Saudades que você não imagina. Do seu abraço, do beijo de boa noite, do seu carinho... da sua voz. Tenho saudades de tudo em você. Amanhã faz nove anos que você partiu. Nove anos que não tenho minha mãe, nove anos sem você por perto, nove anos sentindo sua falta.

Daqui a dois meses faço 18 anos. Você não estará aqui para ver sua filha crescer mais um ano. Não estará para comemorar. Tudo seria diferente se você estivesse aqui. Tudo. O papai já não é mais o mesmo. Mudou tanto que você nem reconheceria. Será que ele ainda seria gentil, amável e carinhoso se você estivesse conosco? Ou o homem que ele é agora já estava ali, escondido, esperando a oportunidade de surgir?

Se eu tivesse insistido mais, talvez nada disso teria acontecido. Aquele velório. Aquele dia chuvoso. O pior dia da minha vida. O dia em que perdi a pessoa que mais amava no mundo. Desde então, mãe, sinto um vazio dentro de mim. Um vazio tão profundo que só há escuridão.

Ainda me lembro do momento em que soube. Um dos médicos do hospital veio até mim, e, com poucas palavras, destruiu o que restava do meu mundo. Não consegui chorar, nem respirar. Só existia dor. Naquele dia, 27 de abril de 2014, algo em mim morreu com você. Não foi meu coração que parou, mas minha alma que se despedaçou.

Parei de chorar pela minha mãe quando tinha 11 anos, eu já tinha percebido que nada iria trazê-la de voltar à vida, aprendi que chorar não faz nada além de ser lágrimas com gosto de sal e que deixa o nosso rosto inchado. Quanto mais lagrimas mais sofrimento, coisas assim nos sufoca nessa vida, relembrar desses malditos dias que infernizaram a minha vida, isso é até entendermos que a porra da vida nunca será como desejou ou quis que fosse, porque sempre irá haver alguém ou alguma coisa para te fazer mal e eu tenho dois demonios comigo nesta vida então eu sei muito bem o que é viver na merda apesar de ter nascido em berço de ouro.

Não importa o quanto eu chore.

Nada irá trazê-la de volta, nada.

Estou no meu quarto, sentada na borda da cama, com a cabeça abaixada e com um lenço seu nas minhas mãos. Branco, com um pequeno bordado de rosas vermelhas. É uma das poucas coisas que tenho de você, mãe. Ainda tem seu cheiro, doce como flores recém-colhidas. Ao completar 9 anos, você me deu um colar que tanto significava para você. Agora, ele significa ainda mais para mim.

Que saudades

Enquanto acaricio o lenço, meus dedos instintivamente tocam o colar em meu pescoço. Uma pequena corrente com diamantes que cercam um rubi em forma de gota. É como se ele me conectasse a você. Mas meus pensamentos são interrompidos por batidas na porta. Apresso-me em esconder o lenço na cabeceira da cama. Quando me viro, vejo meu pai entrando.

Meu primeiro demônio.

Pai...

— O que você tava fazendo, garota? — Pergunta com uma voz grossa.

— Nada pai. — Digo me virando para si de cabeça baixa.

Ouço seus passos pesados e furiosos se aproximando. Ergo a cabeça para ver o que ele fará, e, quando ele está diante de mim, vejo a mão erguida. O meu rosto se vira com o impacto e a dor começa junto com a ardência na minha bochecha. Sinto minha cabeça virar com a força e o cabelo caindo sobre meus olhos.

Fico imóvel, com a cabeça virada, escondendo meu olhar por trás dos cabelos bagunçados. Tento não encará-lo, mas logo sinto um puxão violento no meu cabelo, forçando minha cabeça para trás.

— Não me faça perguntar de novo sua mentirosa imunda. — Sua voz é um rosnado enquanto seus olhos, cheios de fúria, me encaram.

Meu silêncio o irrita ainda mais. Respondo com o olhar, cheio de ódio, recusando-me a ceder. Quando ele ergue a mão novamente, pronto para outro tapa, uma batida na porta interrompe o momento, e então vejo Lucinda.

𝐑𝐈𝐕𝐀𝐋 𝐋𝐎𝐕𝐄𝐑𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora