No dia seguinte, fui surpreendido por uma notícia que me deixou confuso e, de certa forma, incomodado: Afonso havia pedido Rayssa em namoro naquela mesma noite, logo depois que eu fui embora. O mais estranho era que, pelo que soube, isso não aconteceu de forma tranquila. Ao que tudo indicava, tinha rolado uma treta entre Rayssa e Júlia logo após o pedido. Quando perguntei a Afonso sobre o que exatamente tinha acontecido, ele evitou entrar em detalhes. Seu tom de voz parecia despreocupado, mas algo em sua expressão me dizia que ele estava escondendo mais do que queria admitir. Era como se não quisesse que eu me envolvesse na confusão – ou talvez nem ele soubesse exatamente como lidar com aquilo.
Mais tarde, naquele mesmo dia, recebi uma mensagem de Júlia. Ela parecia ansiosa, quase aflita, e me perguntou se eu poderia ir até o condomínio dela para conversarmos. Pelo tom da mensagem, percebi que ela precisava realmente desabafar sobre algo importante. Apesar de querer ajudar, confesso que hesitei. Ir até lá sozinho me deixava desconfortável – não porque eu temesse Júlia, mas porque a situação parecia carregada de uma tensão que eu não conseguia explicar. Para aliviar esse peso, resolvi convidar Afonso para ir comigo. Afinal, ele era o centro de toda aquela história, e, de certa forma, sua presença poderia tornar as coisas menos complicadas.
Afonso concordou em ir, mas havia um problema que não tínhamos considerado: a casa de Rayssa ficava exatamente em frente ao condomínio de Júlia. Afonso, que sempre demonstrava uma confiança inabalável, parecia agora visivelmente desconfortável com a ideia de que Rayssa pudesse descobrir que ele estava indo comigo para se encontrar com Júlia. Era um contraste curioso – o mesmo cara que havia pedido Rayssa em namoro na noite anterior agora estava receoso de cruzar com ela. Ele justificava dizendo que não queria criar mais problemas, que a situação já estava suficientemente complicada. No fundo, eu sabia que ele estava tentando evitar uma nova briga, mas não pude deixar de perceber uma ponta de medo misturada com culpa em seu comportamento. Chegando perto do condomínio, vimos Rayssa distraída no celular, indo ao mercado. Por sorte, ela não nos notou. Ainda assim, Afonso ficou nervoso e decidiu segui-la para evitar problemas. Eu, por outro lado, segui meu caminho até o portão de Ana Júlia.
Quando ela abriu o portão e me abraçou, senti algo diferente. Não era um abraço comum; era um abraço que parecia dizer: "Você é meu refúgio."
Sentamos próximos ao portão e começamos a conversar. O tempo parecia parar, até que, inesperadamente, Rayssa entrou no condomínio e me viu. Tentei justificar, dizendo que precisava conversar com Ana Júlia, mas ela apenas passou por mim em silêncio, acompanhada de Afonso.
Ana Júlia ficou furiosa. Rayssa não era moradora do condomínio e, por isso, não poderia circular por ali. Ela foi falar com a mãe sobre o ocorrido, mas, para evitar confusão, a mãe permitiu que Rayssa ficasse. Decidimos, então, dar uma volta pelo condomínio, e foi nesse momento que conheci Vivi, uma amiga de Ana Júlia.
Vivi se apresentou como irmã de Rayssa. Logo percebi que ela era uma pessoa muito especial, divertida e cativante. Havia algo diferente nela: uma mistura de inocência e inteligência. Parecia carregar alguma dificuldade mental, mas nunca tive coragem de perguntar. Seguimos caminhando pelo condomínio, eu, Ana Júlia e Vivi, até que vimos Rayssa chorando, enquanto Afonso tentava consolá-la. Não entendi o motivo, mas também não quis me envolver.
Enquanto caminhávamos, Ana Júlia me contou mais sobre sua vida. Descobri que, quando sua mãe saía, ela ficava responsável por cuidar sozinha de sua irmã mais nova, Maria, que tinha apenas quatro anos. Achei aquilo absurdo — uma criança de dez anos cuidando de outra tão pequena —, mas não falei nada.
A conversa fluía tão bem que perdi a noção do tempo. Quando olhei no relógio, já eram 22h, e minha mãe estava me ligando, preocupada. Decidi ir para casa. Antes de partir, dei outro abraço em Ana Júlia. Era um abraço cheio de afeto, mas eu não sabia que, talvez, ele deveria ter durado mais tempo.
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Não me deixe cair
FanfictionUma historia de amor,superação e principalmente paternidade