Nos primeiros dias em que comecei a conversar com Júlia pelas redes sociais, lembro-me vividamente de como ela parecia diferente. Não era mais aquela garota alegre e cheia de energia que eu conhecia; ao contrário, ela estava sempre triste, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Mesmo assim, a todo momento, eu estava ali para ela, tentando ser um ponto de apoio, mesmo que à distância. Sempre procurei lhe mostrar que ela não estava sozinha, que podia contar comigo, e que eu seria, para sempre, o seu porto seguro. Era meu jeito de fazê-la sentir que, em meio à tempestade que estava enfrentando, ela tinha um refúgio onde encontrar forças para continuar.
Quando Júlia foi matriculada em uma nova escola, foi um choque para ela. No início, tudo parecia estranho, desconfortável. Ela sentia que não pertencia àquele lugar, mas, com o passar dos dias, acabou se acostumando. Afinal, nem ela nem eu tínhamos o poder de mudar a realidade em que ela vivia. Era um processo difícil, mas necessário. Nossas conversas, que já eram constantes, se intensificaram ainda mais. Falávamos de tudo: dos problemas que ela enfrentava, das fofocas da escola, de suas dúvidas e angústias. Eu a ouvia atentamente, sem julgamentos, tentando ajudá-la da melhor maneira que podia. Contudo, minha ajuda era limitada. Não havia muito que eu pudesse fazer além de oferecer conselhos, dar orientação e, acima de tudo, transmitir o carinho e o amor que ela tanto precisava naquele momento.
Duas semanas se passaram desde que Júlia se mudou para o Rio. Nesse período, ela conseguiu fazer algumas amizades na escola, mas eram apenas colegas. Nenhum vínculo parecia profundo o suficiente para preencher o vazio que ela sentia. E, como sempre, eu estava ali. Todas as noites, Júlia me mandava áudios cheios de lágrimas e saudade, dizendo que queria voltar para Natal. Cada vez que ouvia sua voz embargada, meu coração apertava. E, embora eu desejasse fazer algo, não havia nada que pudesse realmente mudar aquela situação. Eu era apenas um amigo. Não podia decidir por ela, não podia resolver os problemas de sua família, e isso me deixava frustrado, impotente. A única coisa que eu podia fazer era estar presente, mesmo à distância.
Quando seus pais brigavam – algo que parecia acontecer com frequência –, Júlia me contava tudo. Ela dizia que aquelas discussões a deixavam ainda mais triste, como se a separassem do pouco que restava de sua estabilidade emocional. Ela já estava lidando com tantas mudanças: a nova cidade, a nova escola, a nova vida. Ter que testemunhar os conflitos dentro de sua própria casa tornava tudo ainda mais doloroso. Nesses momentos, eu me sentia responsável por cuidar dela, mesmo de longe. Ouvia suas preocupações, oferecia palavras de consolo e procurava dar-lhe esperança. Dizia que, um dia, tudo isso passaria, que aquele pesadelo teria fim e que, quem sabe, ela poderia voltar para Natal. No fundo, eu sabia que essa possibilidade era remota. Sua mãe enfrentava problemas sérios, e a mudança havia sido inevitável. Ainda assim, não tinha coragem de dizer isso a uma menina de apenas dez anos.
Eu sabia que mentiras piedosas não eram a melhor solução. Sempre ouvi dizer que a verdade, mesmo quando difícil, é necessária. Mas como dizer isso a uma criança que já estava tão fragilizada? Como arrancar a esperança que, por mais ilusória que fosse, parecia ser o único fio que a mantinha em pé? Assim, preferi manter vivo o sonho de que tudo ficaria bem. Não era fácil. Eu carregava comigo uma responsabilidade enorme: ser sua força, sua luz em meio à escuridão, mesmo de longe. Mesmo sem poder mudar a realidade, eu me esforçava para ser o alicerce de que ela precisava.
Minha missão era clara: lembrar a Júlia, todos os dias, de que ela não estava sozinha, de que, apesar das brigas dos pais, das saudades de Natal e da sensação de estar perdida, eu estaria ali. Sempre. Enquanto ela precisasse, enquanto eu pudesse, eu seria seu porto seguro.
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Não me deixe cair
FanfictionUma historia de amor,superação e principalmente paternidade