II

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A janela do quarto na torre oeste oferecia uma vista magnífica dos campos verdes que se estendiam até o horizonte e do povoado abaixo, cujas casas, feitas de pedra e madeira, estavam encobertas por uma neblina fina que se dissipava lentamente com o calor do sol. O céu azul celeste, sem nuvens, parecia imenso e infinito. Bandos de pássaros voavam em formação, criando uma sinfonia suave de cantos, como se comemorassem o novo dia, promissor e tranquilo.

Apesar do barulho dos pássaros e dos sons vindos de fora do castelo, dentro daquele quarto frio e silencioso, a princesa Astrid se movia com uma leveza quase inaudível. Caminhou nas pontas dos pés, deslizando como uma sombra até a porta de madeira maciça, que rangia a cada movimento. Ela tinha que ter cuidado, muito cuidado. Cada barulho parecia um trovão dentro daquele ambiente sagrado de privacidade, e a pressão de não ser descoberta era palpável. Com mãos trêmulas, abriu a porta devagar, amaldiçoando a madeira por sua tendência a protestar ao menor movimento.

O corredor largo se estendia diante dela, repleto de tapeçarias que ilustravam glórias passadas de sua linhagem, cenas de grandes batalhas e vitórias que seus ancestrais haviam conquistado. Mas hoje, o peso dessas histórias parecia distante, irrelevante, pois o que importava naquele momento era algo bem mais pessoal. Ao virar a esquina, viu Helga se aproximando. Apesar de ser apenas mais uma das centenas de servas no castelo, Helga era, sem dúvida, a amiga mais próxima de Astrid.

Ela carregava uma sacola preta, os olhos baixos, mas com um brilho de cumplicidade.

- Apresse-se. - Murmurou Astrid, seu tom urgente mal disfarçado pela quietude do lugar.

Helga entrou rapidamente no quarto, olhando para os lados antes de fechar a porta atrás de si. Deu um suspiro profundo, como se tivesse finalmente libertado a respiração que vinha segurando desde que saiu dos aposentos do castelo.

- Conseguiu? - A voz de Astrid tremia de expectativa.

- Claro, Alteza. - Helga se aproximou da cama, sua voz suave, mas com um traço de preocupação.

Retirou da sacola um vestido simples, de um tom azul profundo, feito de um tecido rústico e de segunda mão. Ele era simples, mas algo na delicadeza de suas linhas parecia comunicar algo mais: a generosidade do gesto, o carinho de uma amiga disposta a ajudar. Estendeu o vestido na cama, permitindo que a princesa o examinasse.

No entanto, o semblante de Helga estava carregado de uma sombra de vergonha. Ela não queria que Astrid visse a pobreza do presente, a falta de algo mais digno para uma princesa.

- Perdoe-me, princesa. - Helga abaixou a cabeça, seus cabelos escuros escondendo parcialmente o rosto. - É tudo o que posso oferecer.

Astrid sorriu de forma calorosa e acolhedora, pegando a mão de Helga e puxando-a para um abraço apertado. O calor do abraço transmitia uma força silenciosa entre as duas, um vínculo profundo forjado por anos de lealdade e amizade.

- Não seja boba, Helga. - Astrid disse suavemente. - É um vestido maravilhoso. Agora, me ajude a colocá-lo, por favor.

Helga hesitou, e a princesa percebeu o desconforto da amiga. Algo estava pesando em sua consciência.

- Minha Alteza, se me permite, - começou Helga com um tom de preocupação - eu não acho prudente que a senhorita vá sozinha à aldeia. É perigoso, especialmente para uma princesa.

Astrid olhou para Helga com um sorriso tranquilo, mas determinado.

- Primeiro, eu não irei sozinha. Você vai comigo. - A princesa disse com firmeza, mas a suavidade na voz mostrava a confiança que ela depositava na amiga.

A SOMBRA DA COROAOnde histórias criam vida. Descubra agora