Primeiro Emprego

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— Eu não vou! — Mon declarou com firmeza, mas sua voz tremia levemente, traindo o turbilhão de emoções dentro dela. Um misto de medo, vergonha e ansiedade transbordava de seu olhar. O grito que levara do cliente no dia anterior ainda ecoava em sua mente, como se cada palavra tivesse ficado marcada em sua pele. Ela estava sentada na beira da cama, olhando para o vazio, como se o simples ato de enfrentar mais um dia fosse uma batalha impossível. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo impecável, exceto por duas mechas rebeldes que se recusavam a ficar no lugar, emoldurando o rosto jovem e inseguro.

A camisa branca que usava, com uma frase estampada em letras enormes, parecia mais um uniforme de coragem que ela ainda não tinha. A calça jeans e os tênis completavam o visual simples, mas nada disso conseguia esconder a hesitação estampada em cada gesto.

— Precisamos do dinheiro, Mon. Não podemos contar com o papai. — Nop, seu irmão mais velho, estava de pé diante dela, os braços cruzados em uma postura séria, mas o tom de sua voz carregava uma nota de desespero que ele tentava esconder. — O que ele manda só dá para pagar as contas. O que eu ganho mal dá pra gente comer.

Mon levantou o olhar para ele, as sobrancelhas franzidas.

— Um homem gritou comigo porque eu estava lenta demais — murmurou, cruzando os braços e fazendo um beicinho infantil, como se a injustiça ainda fosse algo novo em sua vida.

Nop suspirou, tentando conter a impaciência. Ele sabia que a irmã era sensível, talvez até demais para o mundo lá fora. Ainda assim, precisava que ela enfrentasse seus medos.

— Foi só o primeiro dia, Mon. Todo mundo é um pouco lento no começo. — Ele se inclinou para pegar a mochila, empilhando roupas e cadernos dentro dela sem muita organização. — Não desista, por favor.

Antes de sair, deu um leve toque no ombro da irmã, um gesto que carregava mais carinho do que ele ousava demonstrar em palavras.

Mon caminhou até o ponto de ônibus, o coração apertado enquanto observava o dia amanhecer ao seu redor. O ar estava fresco, mas ela mal notava o clima. Ao seu redor, pessoas iam e vinham, cada uma presa em suas próprias rotinas, cruzando o caminho dela sem nunca reparar na jovem de olhar perdido e passos vacilantes.

Ao descer na movimentada avenida que levava ao supermercado, Mon sentiu o estômago revirar. O trânsito intenso exigia atenção, mas sua mente estava ocupada demais revivendo os erros do dia anterior. Ao atravessar cuidadosamente, segurou a alça da bolsa com força, como se aquilo pudesse lhe dar a segurança que ela tanto precisava.

Cruzou o imenso corredor ao lado do prédio e chegou à porta dos fundos do depósito, onde as outras funcionárias a esperavam com olhares avaliadores. As veteranas pareciam seguras de si, confiantes em seus movimentos e carregadas de uma arrogância quase palpável. Mon, por outro lado, parecia deslocada, como uma planta frágil no meio de uma selva.

Seus traços delicados e sua timidez natural chamavam atenção, mas não da forma que ela gostaria. As garotas cochichavam entre si, lançando olhares de desdém que a faziam querer desaparecer.

No vestiário feminino, Mon se postou diante do enorme espelho, respirando fundo para afastar o desconforto que parecia lhe acompanhar como uma sombra. Ao seu lado, outras garotas ajustavam maquiagens sofisticadas e penteavam cabelos impecáveis, como se fossem a capa de uma revista de moda.

Mon puxou da bolsa um batom simples e um lápis de olho gasto, objetos que já haviam passado do prazo de validade, mas que eram tudo o que ela podia pagar. Tentou ignorar as bolsas de marca e os perfumes caros que exalavam ao seu redor, mas a vergonha a atingia como uma onda silenciosa.

A camisa branca com a palavra "TREINAMENTO" estampada em vermelho parecia gritar em seu peito, anunciando para o mundo que ela não pertencia ali. Cada cliente que lia aquela palavra fazia seu estômago revirar. Alguns eram impacientes, outros sequer respondiam ao seu "bom dia".

Mas Mon, determinada a ser educada e gentil, mantinha o sorriso forçado, ainda que seu coração estivesse pesado.

A hora do almoço era um raro momento de alívio. O buffet oferecia pratos que ela não comia desde que saíra da casa da mãe, pratos que pareciam pertencer a um mundo distante. Pegava os talheres com hesitação, observando os outros funcionários manejarem faca e garfo com uma destreza que ela ainda não dominava.

Crescendo em uma casa humilde, Mon havia aprendido a lidar com privações, e esses pequenos detalhes a faziam se sentir ainda mais deslocada.

As primeiras semanas foram duras. O cansaço se acumulava em seus ombros, e cada dia parecia mais exaustivo que o anterior. Mas, aos poucos, Mon foi encontrando um ritmo.

Embora o trabalho não fosse glamoroso, era um começo. E era naquele supermercado, em meio a olhares curiosos e palavras ásperas, que Mon encontraria alguém que mudaria sua vida para sempre. Uma garota cujo sorriso iluminaria até os cantos mais sombrios de sua alma.

Ainda que Mon não soubesse disso, o destino já estava em movimento. E ele guardava para ela uma história de amor que seria inesquecível.

Second Chance - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora