No ponto...de ônibus.

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***

O ponto de ônibus estava vazio, iluminado apenas por um poste com uma luz trêmula que parecia à beira de apagar. Sam estava lá, deitada no banco de metal como se fosse a cama mais confortável do mundo. A mochila, desgastada e cheia de adesivos coloridos, servia de travesseiro improvisado. Ela parecia completamente despreocupada, como se o mundo pudesse acabar naquele instante e ela continuaria deitada com os braços cruzados atrás da cabeça.

Mon apareceu pouco depois, a passos apressados, segurando a bolsa contra o peito. Ela parou assim que viu Sam naquela posição, franzindo a testa.

— Isso é sério? — Mon perguntou, com o tom carregado de reprovação. — Você acha que está num hotel?

Sam abriu um olho e sorriu preguiçosamente, sem nem se mover.

— Relaxa, Madre Teresa. Aqui tem até vista pro céu estrelado... Bom, tinha, antes das nuvens chegarem.

— Você sabe que isso não é lugar pra ficar deitada, né?

Sam deu de ombros, ainda com aquele sorriso insolente.

— Sério? Achei que fosse uma suíte de luxo. Só falta o serviço de quarto. Vai me trazer um café, talvez?

Mon revirou os olhos e soltou um suspiro.

— Eu não sei como alguém consegue ser tão... tão... irresponsável!

Finalmente, Sam sentou-se devagar, esticando os braços como se tivesse acabado de acordar de um cochilo.

— E eu não sei como alguém consegue ser tão certinha. A gente tem que equilibrar as forças do universo, Mon.

— Você está esperando o ônibus ou só decidiu virar mendiga por uma noite? — Mon disparou, olhando para ela com desdém.

Sam riu baixo, sacudindo a cabeça.

— Esperando o último ônibus. Achei que ia ter a honra de me juntar a você, mas, pelo visto, você só aparece pra me julgar.

— Eu não estou julgando... só... — Mon fez uma pausa, olhando para o céu ao ouvir o som de um trovão distante. — Está começando a chover.

Sam levantou o rosto para as primeiras gotas que começaram a cair, um sorriso despreocupado se formou em seus lábios.

— Ótimo. Nada como um banho de chuva pra fechar o dia.

Mon arregalou os olhos, alarmada.

— Você só pode estar brincando! Vamos ficar encharcadas.

— Quem disse que isso é ruim? — Sam se levantou, deixando que a chuva a molhasse sem qualquer pressa. — Às vezes, é bom sentir a água lavando tudo, sabe? Meio poético, não acha?

Mon recuou um passo, tentando evitar as gotas que começavam a cair com mais força.

— Poético? Sam, eu não quero ficar gripada!

Sam deu de ombros, já com os cabelos úmidos.

— Ah, você vive muito no automático, Mon. Sempre tão preocupada com o que pode acontecer. Que tal só viver o momento?

— O momento? — Mon repetiu. — O momento é ficar seca e esperar o ônibus como pessoas normais.

— Quem quer ser normal? — Sam disse com um sorriso travesso. — É tão... previsível.

Mon segurou a bolsa com mais força, a era irritação evidente em seu rosto.

— Você é impossível, sabia?

Second Chance - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora