2. Coração de dragão

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A luz suave da manhã banhava as pedras da Fortaleza Vermelha com dedos de ouro, mas não tocava com a mesma suavidade a alma de Rhaenyra. Seus olhos estavam fixos no bordado diante dela, mas sua mente, como sempre, estava longe, perdida em pensamentos que a faziam sentir um peso imenso sobre seus ombros. Se alguém observasse sem muita atenção, notaria apenas a perfeição do dragão que ela estava bordando, com escamas douradas e amareladas, uma linda representação da amável dragão de sua muña. Mas se alguém prestasse atenção suficiente, veria os dedos de Rhaenyra levemente trêmulos, uma tremedeira que não conseguia ser disfarçada pela delicadeza dos seus gestos

As palavras da carta de Lorde Corlys estavam gravadas em sua mente como um punhal afiado. A Campina Ardente estava imersa em sangue, e a cada dia que passava, as forças do inimigo pareciam ganhar vantagem. Nem mesmo o poder de um dragão era suficiente para garantir vantagem em meio àquela batalha. O exército inimigo parecia crescer a cada instante, como uma maré interminável que engolia o campo, tornando cada vitória momentânea e cada avanço um esforço quase inútil. Os pouco soldados de Serpente marinha e seu tio estavam exaustos, quase sem recursos, lutavam por sobrevivência. E seu pai estava em um estado de completa indecisão. Ele se aferrava à velha esperança de que as palavras poderiam salvar o reino, mas ela sabia que as palavras não eram mais suficientes.

Ela olhou para Laena, sentada ao seu lado, com os olhos focados em seu próprio trabalho.  A Velaryon estava tão tranquila, tão serena, enquanto bordava, que parecia ser a antítese perfeita da tempestade interna que Rhaenyra enfrentava. Mas as palavras que ela acabara de dizer haviam chegado a um lugar dentro de Rhaenyra.

— Se continuar perdida em pensamentos, pode acabar espetando-se na agulha — a voz suave de Laena se fez ouvir, interrompendo seus devaneios. Seus olhos lilases encontraram os de Rhaenyra, não com repreensão, mas com uma gentileza que quase fez Rhaenyra relaxar.

Ela deu um pequeno sorriso e abaixou os olhos para as mãos, sentindo a tensão se dissolver um pouco. Mas as palavras de Laena continuavam a ecoar em sua mente. Ela não estava perdida em pensamentos. Estava perdida em um mar de preocupações, mas preferiu manter o foco no que tinha diante de si.

— Problemas precisam de soluções, e eu devo encontrar uma. É meu dever, minha obrigação — respondeu, sem olhar para Laena. Seus dedos continuaram a movimentar a agulha com precisão, mas sua mente estava a mil.

Laena, com seu olhar atento, ainda não desviava os olhos baixos da princesa. Ela sabia que havia algo mais por trás das palavras de Rhaenyra, algo interna que ela tentava esconder, mas que Laena já havia visto tantas vezes nos olhos de pessoas que estavam prestes a perder tudo. Era uma chama ardente de determinação, mas também uma angústia que crescia a cada dia.

— O dever tem seu preço, Rhaenyra. Muitas vezes, o preço é mais alto do que imaginamos — Laena falou com uma suavidade que tocava a alma, a voz levemente carregada de uma melancolia silenciosa.

Rhaenyra sentiu o peso dessas palavras, e, por um momento, as agulhas em suas mãos pareceram pesar toneladas. Mas ela manteve o foco, seu olhar agora determinado em direção a prima.

— Eu sei disso. — A voz dela era calma, mas havia uma força que era impossível de ignorar. — O dever exige sacrifícios. Herdar algo como o Trono de Ferro exige que você dê tudo o que tem, porque, a cada mero erro, os olhares de todos estão em você. E eles não perdoam. Eles farão tudo para ver seu fracasso. Eu sei disso melhor do que ninguém, principalmente por ser uma mulher. Mas eu não vou desistir. Não posso.

Laena não disse nada de imediato, mas o sorriso que ela deu, embora pequeno, estava carregado de admiração. Ela via algo mais na prima do que uma jovem princesa em busca de assegurar seu direito legítimo e estabilidade do reino. Viu a responsabilidade que Rhaenyra carregava, uma responsabilidade que poderia consumir até os mais fortes. Laena sabia que Rhaenyra enfrentava muito mais do que o peso da coroa, a probabilidade de mais uma perda daqueles que amava a assombrava a cada passo.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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