A casa de Agatha distoa da grande maioria. Sendo sincera, nunca vi uma residência como essa em nenhum canto de Los Angeles. As casas coloridas e com iluminação constante, piscinas e jardins extensos, isso é o que mais encontro nos arredores. Agatha trouxe um toque rústico para esse lugar, iluminação amarela e um sofá excêntrico e roxo. Foi a primeira coisa que me chamou atenção do lado de dentro. Ela parece paciente enquanto eu exploro o ambiente, suas obras de arte na parede e a infinidade de livros tomando uma parede inteira na sala. Uma lareira apagada que ela não faz nenhuma menção de acender. Não vai precisar mesmo.
Ao final do corredor, uma porta com uma inicial "N" escrita à mão. Evito ser intrusiva, mas Agatha está atrás de mim com a mão na minha cintura me encorajando a fazer isso. Cheiro de violetas, estrelas no teto e um quadro com esse rosto que encaro pela primeira vez, com seu nome. "Feito de amor e magia, Nicholas Harkness". Tudo aqui parece preservado e intocado, brinquedos, um coelho de pelúcia, varinhas de bruxa e um sino em cima da mesinha de cabeceira me deixa curiosa o bastante para não permitir que o silêncio torne o momento fúnebre.
- O que significa isso, exatamente? Ele gostava de sinos?
- Ah, Nicky costumava ficar no quintal cantarolando com este sino na mão, dizia que as bruxas iriam escutar. Passou pouco mais de um ano com essa fixação em histórias de bruxas, crianças são cheias de pequenas obsessões. Ainda me lembro do dia que ele ficou frustrado descobrindo que eu não sou uma, mas ele foi fiel à crença no meu "poder púrpura" até o fim.
- Poder púrpura?
- Ele dizia que cada bruxa emana um rastro de poderes de cores diferentes e a minha, segundo ele, era púrpura.
- De que cor seria a minha?
- Ele diria que você é uma bruxa verde.
- Por que diz isso?
- Pelas coisas que só você é capaz de fazer. Me trazer de volta à vida é uma delas.
Tento disfarçar como me deixou ouvir isso, mas meu sorriso não colabora e acredito ser possível ouvir meu coração batendo de qualquer outro cômodo da casa. Estamos sentadas na cama de Nicky e eu só penso no quão especial tudo isso é, tudo que ela me permite acessar.
- Ele gostaria da minha mãe. Se chama Lilia, é uma cartomante.
- Certamente gostaria. Isso faz dela uma bruxa de verdade. Você não costuma falar dela, não é?
- Tenho uma ótima relação com ela, apesar de não concordar com algumas coisas, é a mulher mais incrível que eu conheço.
- Com o que você não concorda?
- Quando eu era pequena, meu pai foi pego a traindo. Sendo direta, eu peguei. Não consegui calar minha boca, na verdade, nem tentei. Ela ficou mal por tudo isso, mas ainda assim não o fez sair de casa e conseguiu perdoá-lo. Ela não era cartomante na época, mas sempre teve uma intuição muito forte e sonhos bem nítidos. Quando eu já tinha idade para um maior entendimento, a rebeldia era minha única linguagem. Não perdoar o que aconteceu me fez começar a atacar minha mãe como se o perdão dela fosse pior que a traição dele.
- Vocês conseguiram mudar isso?
- Sim. Na primeira vez em que ela abriu um jogo pra mim, eu a confrontei dizendo que as cartas e as visões dela não significavam nada pra mim porque não previniram o que aconteceu com ela. E ela me disse que sabia que ia acontecer, sabia que estava acontecendo, mas que saber não iria impedir meu pai de fazer o que ele queria fazer. Que ele precisava lidar com isso. E, de fato, isso o torturou. Mesmo depois de terem reatado, eu escutava meu pai chorando no andar de baixo de madrugada. O remorso o destruiu. Até que o "esquecimento" começou. Já fazem cinco anos que o alzhaimer começou a dar as caras e, é claro, minha mãe já sabia que aconteceria. Uma das únicas coisas que meu pai nunca se esquece é de que a ama, mas foi o amor dela que me ensinou tudo que eu sei sobre isso.
- Rio, eu sinto muito. Para uma criança e para uma mulher, tudo isso é muito doloroso e afeta tantas áreas da sua vida. Imagino que até hoje você não queira saber de casamento nem de jogo.
- Bem, ela abre o jogo pra mim de vez em quando e é claro que eu jogo piadinhas ácidas sobre isso e o passado, mas acredito nela. E agora devo acreditar em casamento mais do que você acredita.
- Casamento de verdade é novidade para mim. Uma mulher como você também é.
Preciso de uma bebida. Agatha me leva até a cozinha e a quantidade garrafas de bebidas me surpreende. Nunca pensei no quão solitária ela é, mas agora consigo visualizar essa cena. No sofá roxo, Agatha, sua bebida, a música clássica e seus livros. Ainda estou aprendendo a me inserir nesses cenários e desejando mesmo que ela também me visualize neles.
Sentada no balcão, meu vestido sobe um pouco mais e eu não conserto isso. Ela deve ter se perguntado o que faz uma mulher que sai pra discutir as coisas usar um vestido como esse, mas quero que ela saiba que eu sei o que estou fazendo e sempre tenho uma carta na manga. Vindo na minha direção sem tirar os olhos de mim, me entregando a taça e enchendo de vinho enquanto fita minha boca, tenho certeza de que ela também sabe o que está encontrando. Agatha está de pé diante de mim e eu a aproximo com as pernas, a prendendo aqui ao cruzá-las. O rubor em sua pele justifica ela tirar a jaqueta tão rápido. Me inclino em sua direção e ela segura meu pescoço enquanto me beija. Talvez pense que será ela quem vai apontar as regras outra vez, mas eu viro o script com facilidade.
Arranco a camisa de Agatha em uma fração de segundos, revelando um sutiã preto de renda. Parece que eu não era a única mal intencionada aqui. Suas mãos estão adentrando meu vestido e tocando minhas pernas, encontrando minha calcinha e ameaçando tirá-la. Agatha esboça um sorriso sórdito.
- Isso também é novidade pra mim. Não sabia mesmo que usava.
- Se disser mais uma palavra, não vai mais poder tirá-la. Não estava esperando uma visita naquele dia.
- Por que me deixou entrar?
- Não esperar não significa não querer. Quero você dentro de mim desde a primeira vez que nos vimos.
Agatha tira meu vestido lentamente, mas não me permite nem tirar o cabelo do rosto. Ela me arruma sussurrando "Esses olhos, esses olhos precedem o que você tem guardado... um paraíso escondido" e se aproveita do fato de eu não estar usando sutiã. Ouvir meu gemido a faz me segurar com mais força e eu tomo conhecimento de que eu vou acordar com seus rastros amanhã. Pressionando meu corpo, ela me encosta na parede. Não consegui me atentar em quantos míseros segundos eu já estava sem calcinha, mas não consigo pensar em nada enquanto a mão dela está no meio das minhas pernas me estimulando enquanto eu imploro pra ela me foder. Ela faz esse joguinho enquanto puxa meu cabelo e eu não tenho escolha a não ser continuar pedindo e chamando seu nome.
Tento não fazer um escândalo enquanto ela faz isso mais forte e mais rápido e sua boca está em meu pescoço, mas ela toma meu corpo inteiro pra si numa fatalidade física. Eu só permito. Minha visão fica turva e minhas pernas tremem, Agatha sabe o que está fazendo e espera ter que dar descanço ao meu corpo, mas desço do balcão a surpreendendo e tirando essa calça sem desviar os meus olhos dos olhos dela e me ajoelho. Confesso que saber que meus olhos provocam ela está me fazendo jogar sujo. E ela não consegue disfarçar. Até que me tira do chão e me leva até seu quarto. A Agatha que eu conheci não parecia aceitar uma mulher mais nova estando no controle, mas estamos cruzando alguns limites desde que nos conhecemos. Tenho a certeza disso com ela em cima de mim, seu corpo em movimento e a pele tomada por arrepios. E mais ainda com o sorriso de quem se deu por vencida que ela solta depois de me ouvir dizer "Quero você em cima de mim, mas de costas".
É inegável o quanto nos rendemos à isso. Não só ao que nossos corpos pedem, mas abrir espaço para o que está acontecendo dentro de nós. Agatha me escolheu duas vezes. Uma para um papel tão importante e outra para entrar na vida dela assim, permitindo que isso pudesse nascer de nós duas. Estou deitada em sua cama enquanto ela está de pé, fumando e olhando o céu pela janela. Me levanto e ela percebe que a fumaça não me incomoda. A abraço por trás e reposiciono sua cabeça.
- O que está fazendo, meu amor?
- Você olha pra frente. Precisa olhar pra cima para ver as estrelas.
- Não acredito que os ventos me trouxeram você, Vidal.
- Porque não foram os ventos. Provavelmente a estrela mais brilhante que você vai encontrar na sua vista. Foi ele, lembra?
A felicidade em sua síntese, é só isso que ela expressa. É o que faz tudo valer. É o que me faz começar a acreditar em magia também.
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In My Veins • Agathario
FanficRio Vidal é uma atriz reconhecida por seus papéis enigmáticos e cômicos, até o salto mais esperado em sua carreira dar início. Seu primeiro papel como protagonista em um filme de drama psicológico, interpretando uma mãe que perdeu seu filho recentem...