Mútuo

Capítulo 2

Zoro pedia para o aluno segurar mais firme a shinai, enquanto ajeitava sua postura pra forma apropriada. Era no dojô que Zoro conseguia um salário para se sustentar na capital ao lado de Sanji, que por sua vez trabalhava num restaurante.

Os dois vieram do interior do estado para cursar seus respectivos cursos na universidade dali: Zoro em educação física e Sanji em gastronomia. Desde então, ambos arrumaram vários bicos para conseguir sobreviver ao novo estilo de vida, mas parece que Zoro se fixou no dojô como assistente e Sanji no restaurante. Isso era bom, porque trabalhar quase como freelancer era difícil e a dúvida do que fazer depois sempre os esgotava. Nesses momentos, agradecia ao seu pai que lhe ensinou a arte do kendô desde cedo.

Enquanto ajudava outro aluno, Zoro desviou sua atenção por um momento e encontrou um colega também assistente como ele. Era alto, tinha os cabelos negros bagunçados, olheiras sob seus olhos cinzas e tatuagens pelo corpo. Vestia um kimono igual ao de Zoro e ajudava uma garota, que provavelmente não tinha dúvida nenhuma, mas queria sua atenção porque, acima de tudo, era lindo.

O dojô ficava próximo aos templos budistas, sendo o lugar que mais remetia a sua casa por não estar cheio de arranha-céus e carros pelo caminho. Na verdade, era um lugar que fazia Zoro sentir sono por ser tão calmo e primaveril. Naquela época do ano, as cerejeiras estavam florescendo e o perfume que exalavam era agradável. Novamente, agradecia ao seu pai por lhe ter ensinado a arte do kendô para poder trabalhar num lugar tão agradável como esse.

Ele estava encostado no engawa — lugar que limpou antes dos alunos chegarem ao dojô — e seus olhos estavam fechados, mas não dormia. Apenas curtia o sol da manhã batendo fraco nele, porém, sentiu uma presença e olhou para o lado meio apreensivo. Se assustou ao ver o homem mais alto do que ele sorrindo, o tal assistente que atraía as alunas e até mesmo as professoras.

— Law?!

— Oi, Zoro, te assustei?

— Não...

Law carregava algo envolvido numa toalha de prato, fazendo Zoro se lembrar que naquela manhã Sanji se atrasou e não pôde fazer seu almoço. O rapaz alto resolveu se sentar ao seu lado.

— Sempre te vejo com uma marmita no intervalo, percebi que hoje não tem nada para comer e resolvi dividir meus onigiris. — Falava enquanto desembrulhava o seu potinho e mostrava seis onigiris ao Zoro depois de retirar a tampa. — Pode pegar três.

Zoro aceitou, estava faminto e amava onigiris, apesar de sentir um desconforto quando ficava ao lado de Law. Não entendia necessariamente o motivo, mas às vezes se lembrava de Sanji por ser mais racional e emotivo. O jeito que ele se mexia até para comer era muito parecido com o do sobrancelha enrolada. Ambos eram educados e organizados. Talvez Law seria a pessoa perfeita para Sanji.

Uma das alunas se aproximou dos dois e ofereceu um chocolate ao Law, que aceitou muito feliz. A garota estava nervosa e toda enrubescida, foi nesse momento que Zoro pensou se não seria o dia dos namorados.

— Você é bastante popular entre as garotas, né? — Falou depois da aluna se afastar.

— E você entre os garotos.

— C-como assim?

— Você é o mais forte de nós, muitos querem ter seu corpo quando chegarem na sua idade. — Esclareceu e viu Zoro se acalmar conforme a cor de sua pele voltava. — Você achou que eu estava te chamando de gay?

— É... — Law era bem direto ao ponto, esse era um dos motivos que levava Zoro nunca a puxar assunto com ele. — Na verdade, eu sou gay.

Law fingiu uma surpresa, mas ele já suspeitava disso. — Gosta de ser bem direto, né? Eu também sou gay.

— S-sério??

— Você está realmente surpreso, achei que todo mundo soubesse.

— Ninguém sabe!!

Um dos professores responsáveis pelo dojô os chamou de volta por ter dado a hora de lecionar. No entanto, enquanto se levantavam para seguir com a aula, Law fez uma pergunta:

— Você pode me passar seu número?

Ele era mesmo bem direto ao ponto...