03: O abraço da solidão.

4 1 0
                                    


O tecido da toalha áspero e velho me abraça, mas não me conforta

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

O tecido da toalha áspero e velho me abraça, mas não me conforta. O cheiro de mofo e cloro me invade, lembrando-me da humidade do banheiro, do meu refúgio. A escuridão me acolhe, mas não me aquece. As lágrimas, quentes e salgadas, escorrem pelo meu rosto, mas não me aliviam.

Cada soluço é um grito silencioso, um grito de dor, de angústia, de um vazio que me consome. A solidão, uma companheira constante, me aperta o peito, me sufocando.

Queria sentir o calor da sua mão na minha cabeça, ouvir a sua voz me dizendo que tudo vai ficar bem. Mas ela está longe, ocupada com a sua vida, com os seus problemas, com a sua própria dor.

Será que eu só queria chamar atenção? Ou será que eu só queria sentir o calor da minha mãe? A verdade é que a linha tênue entre essas duas necessidades se perdeu em meio à nossa relação, em meio às brigas, às palavras duras, aos silêncios que gritam mais alto que qualquer discussão.

A porta range, o som me faz tremer. Os seus passos se aproximam, pesados e implacáveis.

"O que você está fazendo aí?" A sua voz, fria e distante, me corta como um fio de navalha.

"Nada." Minha voz sai quase inaudível, engolida pela dor.

"Saia daí. Pare de fazer drama." Ela me olha com desdém, como se eu fosse um incômodo, uma sombra que ela precisa afastar.

"Mãe..." A palavra morre na minha garganta, engasgada pela frustração, pela raiva, pela tristeza.

Ela se afasta, sem olhar para trás. O seu perfume, um aroma que antes me trazia conforto, agora me causa repulsa.

"Não me chame de mãe." A sua voz, carregada de desprezo, ecoa no corredor, me deixando sozinha, mais uma vez, na escuridão do meu refúgio, na solidão do meu sofrimento.

E quando a manhã chega, o sol da esperança não surge no horizonte. O vazio permanece, a dor se intensifica, a solidão me sufoca.

A relação entre nós, mãe e filha, se resume a um nó apertado, a um fio que se esgarça a cada dia, a um amor que se esvai, deixando apenas a lembrança de um calor que nunca senti, de um abraço que nunca recebi.

Às vezes, o abraço mais quente que você pode receber é o abraço da solidão, porque ele é o único que não te deixa com a sensação de que você está sendo enganada.

Em busca do calor que nunca encontrei, Lua.

SOBER TIES?Where stories live. Discover now