CAPÍTULO 9 - Um problema

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LUÍS

Cecília era uma das pessoas mais legais que eu conheço, mesmo que nós conheçamos a mais de 3 anos nessa viagem foi a primeira vez que realmente conversamos, mesmo eu tentando a afastar ela continuava querendo ser próxima de mim, ela era engraçada e era gentil, apenas as vezes, ela tinha uma ótima habilidade de fluir sua personalidade para cada pessoa que conhecia, via que ela e Marcos brigavam e faziam piadas o tempo todo, já com Sam ela era descontraida e alguém que o ajudava a se enturmar nesse novo estilo de vida. Já comigo... Eu não entendia muito bem, ela entendia que não tínhamos um grande nível de intimidade e me dava espaço, eu gosto disso.

Não tenho intimidade com ninguém na verdade, eu afasto as pessoas, preciso afastar, eu sou só um problema, sou um perigo, uma bomba relógio pronta para explodir a qualquer momento, é o que minha mãe me disse durante toda minha vida, ela sempre diz que eu só trouxe desgraça para sua vida, bem, dizia, isso foi antes de me expulsa me de casa, eu não tenho mais notícias dela desde então, meu tio disse que podia ficar com ele, mas não quero colocar ele e meu primo em perigo.

A única pessoa que realmente me amava e que eu não tinha risco de machucar era meu pai, ele sempre falou comigo, de várias maneiras diferentes, desde criança ele fez questão de estar comigo, e aos sete anos quando minha mãe me expulsou ele que me levou até o acampamento, a única coisa que eu podia machucar era seu orgulho, por isso preciso ser o melhor, preciso mostrar que o tempo que ele investiu em mim está sendo recompensado.

- Luís? - Cecília me chama, estava novamente perdido em meus pensamentos.

- Ah desculpe, o que você disse? - Retomo a consciência.

- Perguntei se você gostou? - Ela estava com uma colar de estrela dourado.

- Ficou ótimo - Talvez eu devesse tentar ser mais gentil? Não, eu não posso.

- Você acha mesmo? Quer um também?

- Eu? Não, não precisa.

- Precisa sim - Ela pega um colar igual ao dela, mas prateado, antes que eu consiga impedir ela coloca o colar no meu pescoço - Ficou maravilhoso, combinou com você, agora temos colares combinando, mas ninguém precisa saber que somos amigos.

- Somos amigos?

- Claro que sim.

- Então não teria problema as pessoas saberem.

- Eu só imaginei que você todo emo solitário não gostaria de ter uma amiga como eu.

- Qual o problema com você? - O problema não era ela.

- Não tem problema nenhum comigo, é só que somos tão diferentes ia ser uma baita surpresa.

- Tem razão, as pessoas achariam estranho, não quer me ter como amigo, vai ser ruim para você.

- Eu não acho, somos dois esquisitos, quer saber, foda-se o que as pessoas pensam, somos amigos, e podem saber disso - Ela era demais.

- Se você diz, não tem problema para mim - Cecília pega um cartão e paga pelos colares.

- Como você tá sempre andando sozinho? - Começamos a caminhar - Você é tão descolado, estiloso e é muito bonito, não entendo como não tem um monte de garotas no seu pé - Fiquei me perguntando se contava a ela - Sabe Luís sou uma ótima conselheira e também guardo segredo muito bem, agora que somos amigos pode confiar em mim - Eu não sei o que essa garota tinha, mas eu estranhamente sentia que ela era alguém de confiança.

- Eu não gosto de garotas.

- Certo, então por que não tem um monte de garotos no seu pé? - Só isso, ela não vai me julgar.

- Ah, não sei, eu na maioria das vezes deixo bem claro que não quero proximidade.

- Acho que não deixou claro o suficiente para o Sam - Samuel, ele era diferente, não devia ser, por que ele é diferente? No que eu estou pensando?

- Eu acho que eu posso confiar em alguém que é mais forte que eu.

- Samuel? Mais forte que você?

- Ele é um filho de Tupã.

- E você é Luís Montana, você ganhou todos os jogos do acampamento no primeiro ano que chegou, sobreviveu na floresta sozinho com sete anos de idade e consegue manipular almas - Por que isso parecia ser tão especial quando outra pessoa estava falando? - Samuel ainda tem muito chão pela frente para ser metade do semideus que você é - Eu tive vontade de chorar, então respirei fundo e segurei esse sentimento - Olha milkshake, vamos comprar um.

Nós fazemos isso, assim que provei senti raiva da minha mãe por nunca ter me deixado beber um milkshake em toda minha vida.

- Por isso você é todo triste, nunca tomou milkshake, não gosta a de garotas, qual é a sua felicidade nessa vida? - Boa pergunta.

- Sei lá, meus livros?

- Eca, você é um nerd - Ela brinca.

- Luís, Cecília - Vejo Marcos e Sam se aproximando - Conseguimos um carro e o Sam sabe dirigir, pegamos as coisas na cabana, podemos sair agora.

- Isso é perfeito - Finalmente vamos continuar a missão - Vamos então - Pego minha mochila que estava com o Sam.

- Vocês estavam tomando milkshake? - Marc pergunta.

- Pode ficar com o meu - Cecília entrega com ele.

- Você quer? - Ofereço pro Sam.

- Eu sou intolerante a lactose, mas obrigado.

Samuel é simplesmente a melhor coisa que apareceu na minha vida em anos... Ele é sensível, divertido, corajoso e... Não vem ao caso, ele é ótimo, é alguém que eu sinto que posso ser próximo, ele corre os mesmos perigos que eu, vê o que eu vejo e somos igualmente perseguidos.

Nós vamos caminhando na direção do tal carro, era uma camionete vermelha meio velha.

- Eu gostei do colar - Samuel diz.

- Obrigado, Cecília me deu.

- Tudo fica ótimo em você - Me vejo corar tenho que me controlar.

- O que quer dizer com isso? - Ele finalmente se liga.

- Nada, esquece isso, não, não esquece não, o que eu disse é verdade, só não queria que tivesse saído tão estranho - Ele é fofo - Entra aí - Ele abre a porta do passageiro para mim e vai para a porta do motorista.

Vamos começar uma viagem de carro agora.

ACAMPAMENTO GUARANI - O RASTRO DE SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora