Indo contra sua natureza costumeira, Anita se entregava ao amanhecer na praia, focando sua visão nas ondas que iam e vinham em velocidade amena. Sua cabeça pesava um tanto pelo álcool em demasia, de fato havia passado de seus limites costumeiro para dias comuns, mas estava bem longe do limite que assumia em dias particularmente difíceis no escritório. Ali sentada em uma canga que nem mesmo sabia a quem pertencia, a mulher puxava sua bolsa para perto, retirando de dentro um maço de cigarros de sabor. Um fora aceso e então o cheiro de menta se misturara a cheiro de maresia.
Sua pose ali não valia de muito a quem quer que fosse, era apenas Anita a mãe e esposa, pelo menos na visão de terceiros. Longe de tudo, em meio ao lugar que tanto gostava, se sentia livre assumindo uma personalidade que quase nunca vinha a superfície. Se deixava levar, deixava que os limites fossem ultrapassados e por uma vez durante vários momentos se dispondo para os outros, ela se dispunha inteiramente para si.
A fumaça espessa lhe abraçava o pulmão, lhe trazendo calmaria que só a pressão baixa poderia conceder. O lábio inferior era mordido com calma, sendo solto devagar a medida em que sua memória rebobinava cenas da madrugada. As cartas espalhadas no tecido colorido faziam seu coração acelerar, se assemelhando ao primeiro dia que adentrara um tribunal sem muita experiência. Se fosse realmente parar para analisar se sentia sem experiência alguma quando Verônica estava perto, e por tal, sua mente sempre tão racional entrava em combustão.
Com os olhos colados na divisão não exata entre céu e mar, Anita se perdia em sua própria mente com graça e sem hora para voltar. Inexplicável era o que estava acontecendo entre ela e a menina de tão pouca idade, e se fosse realmente tão controlada como gostava de ser, não estaria pensando tanto naquilo. Os sorrisos e olhares trocados com tamanha intensidade povoam sua cabeça, sendo impossível não pensar em desvendar o que havia por trás de tudo aquilo. O corpo ficava elétrico, como se fosse possível sentir suas células a dançar ao deixar o pensamento vir.
Com Augusto era conhecido, como adentrar uma piscina onde se sabe que há um pequeno desnível que te leva para algo mais fundo, porém, ainda sim controlável. A situação com Verônica Torres era perigosa, descontrolada como entrar em mar aberto sem nada que possa lhe segurar, se jogar em água desconhecida sem saber se poderia e conseguiria pedir por socorro. A mente vagava em imagens, sons de voz e o cheiro do perfume doce vindo da menina.
O rosto negava sem muita veemência ao perceber que o cigarro queimara sem que ela de fato houvesse feito algo para que aquilo ocorresse. Estava tão perdida em si mesma que esquecera de aplacar as sensações que lhe consumiam de dentro para fora. Suspirara, fechando os olhos em um sorriso. Estava enlouquecendo, talvez fosse o álcool, maldito vinho que trazia a tona seu pior lado. Era apenas uma menina, brincando com seu lado de potencial sedutora e... E mexendo com sua cabeça.
Seu corpo se apoiara na areia para se levantar, vendo os resquícios do luau atrás de si a medida que começava a se distanciar do mar. Os pés andavam calmos pela praia, seguindo em direção a suntuosa casa que era toda sua. A porta da frente fora aberta com cuidado para não fazer barulho, e assim ela adentrara, seguindo para a cozinha. Dois de seus dedos coçavam sua nuca de maneira preguiçosa com os olhos fechados por segundos e assim que os abrira, dera de cara com Torres sentada em sua bancada.
A menina possuía um copo de leite com nesquik em uma das mãos, trajava apenas um regata branca colada ao seu corpo e uma calcinha preta. Seus pés se balançavam vagarosamente enquanto ela sorrira, fitando Anita com aquele olhar que só podia ser provindo dela.
────Oi tia. ────Aquela pequena frase fazia os pelos do braço de Anita Berlinger se arrepiarem por completo. ────Eu estava com insônia, desci para tomar alguma coisa para me ajudar a voltar a dormir... Onde você estava? ────Descalço e com o corpo leve, Berlinger passava a caminhar pela cozinha, em um determinado momento passando perto da menina, que a puxara com as pernas para perto de si. ────Estava namorando o mar? Sei que gosta de fazer isso. ────Os olhos verdes piscavam vagarosamente, a olhando com a respiração pesada.
────Você é... Verônica, você não deveria estar fazendo isso! Eu tenho idade para ser sua mãe. ────Antes que pudesse se afastar, Verônica repousara sua mão na lateral de seu rosto, a puxando para si. ────Verô...
────Ainda bem que eu já tenho uma mãe! ────A menina sorrira um tanto, mordendo seu lábio inferior enquanto fitava descaradamente a boca da mulher. ────Quero uma mulher. ────Torres deixava seu corpo se curvar para frente aos poucos, ao que Berlinger se afastara de súbito, lhe arrancando uma risada. ────Tem medo de mulher, tia?
────Mulher? ────Aos poucos o corpo da loira ia para trás mininamente, como consequência do álcool. ────Você é só uma menina... E eu... Eu sou... ────Verônica lhe puxava um tanto mais com as pernas, colocando o copo que segurava para o lado.
────Você é o quê? Quem eu... Quero tanto? ────A menina sorrira, acariciando a bochecha da outra mulher. ────Não sei se tem dúvidas... Mas se tiver, saiba que te quero. ────Os pés de unhas pintadas de branco faziam força para se afastar, subindo sua mão para apontar seu dedo.
────Verônica... Eu tenho marido... E a minha idade! Isso é errado! ────A mais nova lhe sorrira de maneira travessa, virando o restante do líquido rosa em sua boca.
────Eu gosto de mulheres mais velhas, não é um problema, eu ainda quero você do mesmo jeito. ────Ela dera de ombros, balançando os pés enquanto fitava a feição de Anita totalmente confusa, saindo dali as pressas. ────Seu marido também não vai ser um problema... Não vai mesmo. ────Sua boca pronunciava baixinho, ao que ela descia da bancada, se encaminhando até a pia para deixar o copo sujo.
Já nas escadas, a passos lentos e sem certeza de para onde ia, Anita levava sua mão até a testa, negando para si mesma. Preferia atrelar toda a cena ao álcool em demasia em seu sistema, seria bem melhor e uma melhor resposta para si mesma quando levantasse horas depois. Seus pensamentos anteriores se confirmavam de uma forma ou de outra, porém, a mulher naquele momento não queria acreditar ou dar tempo a tais para aprimorarem a cena e as falas. Não podia e não iria fazer isso de maneira alguma, afinal, não queria alimentar nada.
Aos poucos, seus pés lhe encaminhavam para o quarto de porta meia aberta, ao que ela não prestara muita atenção onde estava entrando. Havia uma cama de solteiro intacta, lhe chamando de maneira convidativa para se deitar e assim ela o fizera. Se aninhara em meio as cobertas, apenas estendendo a mão para fechar a perciana afim de impedir que a luz lhe tocasse o rosto. Quando o quarto se fizera escuro, a mulher relaxara seu corpo na cama de tecido gelado, apenas sentindo mãos a lhe envolverem a cintura com tranquilidade minutos depois, como quem deitava ali com ela.
Não se opusera em momento algum, ainda que soubesse que todos menos ela e uma pessoa não dormiam. As mãos eram de alguém específico, Anita bem sabia.
Deixara o corpo relaxar ao sentir sua cintura ser apertada e seu pescoço tocado por um nariz quente, suspirando profundamente ao sentir o álcool no fundo da garganta enquanto os olhos se entregavam ao sono.
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Vermelho Carmesin | veronita fanfic
FanfictionAnita Berlinger se perguntava o quanto sua vida estável poderia ser remexida após fixar seus olhos em algo e não mais conseguir parar. O proibido de fato nunca lhe atraira, talvez pela postura sempre tão incorruptível, porém, Verônica Torres desper...