• 𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑- 𝐈 •

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Jiyeon p.o.v


Eu estava à beira de um precipício.

Quer dizer, só estava na fila de uma agência de empregos temporários em Seul, mas parecia a mesma coisa.

A infância, a escola e a ilusão de que a vida era moleza tinham ficado pra trás. Agora, o futuro era uma grande parede de incertezas: faculdade, empregos chatos de verão pra pagar as contas e, provavelmente, uma vida meio solitária.

A fila avançava, lenta. Eu já estava ali há horas (ou parecia que estava), esperando minha vez pra tentar conseguir um trabalho.

Quando finalmente chegou minha vez, uma mulher com cara de tédio acenou pra eu me sentar. Ela estava no telefone e só me olhou depois que desligou.

- Nome? - perguntou, pegando meus papéis.

- Jiyeon. Kim Jiyeon.

- Idade?

- Dezessete. Vou fazer 18 daqui a pouco.

Ela carimbou os papéis.

- Já terminou o ensino médio?

- Já, me formei faz duas semanas.

- Nome dos pais?

- Chanwoo e Kim Yerin. Mas quem cuida de mim são Hyuna e Choi Yoonjae.

- Tutores?

Lá vamos nós de novo. Eu odiava explicar isso toda vez.

- Sim. Meus pais morreram num acidente de carro no meu primeiro ano do ensino médio.

A mulher anotou um monte de coisas, e eu fiquei ali, desconfortável, me perguntando o que tanto ela escrevia.

- Você gosta de animais?

- Gosto, claro... Sei alimentar e cuidar deles...

Pelo visto, o meu jeito desengonçado não ajudou, porque ela só levantou a sobrancelha e me deu um anúncio de emprego.

"PROCURA-SE TRABALHADOR TEMPORÁRIO (DUAS SEMANAS)
ATRIBUIÇÕES: VENDA DE INGRESSOS, ALIMENTAÇÃO DE ANIMAIS E LIMPEZA PÓS-APRESENTAÇÕES."

Embaixo, tinha uma observação que dizia que precisavam de alguém 24 horas no local e que ofereciam alojamento e refeições.

O emprego era no Circo Choi, aquele que tinha um cupom de desconto no mercado e que eu até pensei em levar as filhas da Hyuna pra ver. Só que perdi o cupom e deixei pra lá.

- E aí, vai querer ou não? - a mulher perguntou, meio impaciente.

- Um tigre, é? Parece interessante. Tem elefantes? Porque limpar cocô de elefante seria um pouco demais...

Eu ri, mas ela nem disfarçou o tédio. Sem muitas opções, aceitei. Ela me deu um cartão com o endereço e avisou que eu precisava estar lá às seis da manhã.

- Seis da manhã?

Ela nem respondeu, só gritou "Próximo!"

Saí dali com o peso de quem tinha acabado de se meter numa furada.

[…]

Em casa, Hyuna estava na cozinha, mexendo numa tigela com uma colher de pau.

- Preparando biscoitos veganos de novo? - perguntei, pegando um copo d'água.

- É pro lanche da escola da Yuki - respondeu ela, com concentração assassina na massa.

- Tem certeza que isso é comestível? Parece papel reciclado. Cadê o chocolate?

Ela me olhou com reprovação.

- Chocolate faz mal. Às vezes eu uso alfarroba.

- Alfarroba tem gosto de giz. Se é pra fazer biscoitos, faça algo bom, tipo com chocolate de verdade.

Hyuna suspirou.

- E você, o que fez hoje?

- Consegui um emprego. Vou cuidar de animais num circo. Começo amanhã de manhã.

- Parece interessante! Que animais?

- Cães, acho que tem um tigre também. Mas nada perigoso. Só vou alimentar e limpar as coisas deles.

- Bem, se precisar de algo, é só ligar.

Yoonjae chegou do trabalho enquanto Hyuna tirava uma travessa de couve-de-bruxelas do forno. Ele farejou e olhou desconfiado.

- Que cheiro é esse?

- Jantar vegano - respondi, com um sorriso malicioso.

Yoonjae me lançou um olhar cúmplice antes de ser arrastado por Hyuna pra arrumar a cozinha. Eu aproveitei a deixa e subi pro meu quarto.

Pois já estava ficando tarde e amanhã teria que acordar super cedo. Aff.

Tomei banho e me deitei apaguei a luz do pequeno abajur ao lado da minha cama e peguei no sono. Sonhei que corria por uma floresta e um tigre me perseguia. Quando olhei pra trás, eu ri antes de continuar correndo, sentindo suas patas acompanhando.

𝐀 𝐦𝐚𝐥𝐝𝐢çã𝐨 |• Lee Felix °Onde histórias criam vida. Descubra agora