Ouvir os gritos estridentes de meu pai e as tentativas de minha mãe para engolir o choro durante todo o percurso até a Califórnia parecia uma verdadeira tortura, o que eram apenas algumas horas, trouxe a impressão de ter passado quase dois dias plantada no carro, com as malas transbordando e quase me fazendo dissolver no banco. Eu não queria sair da minha casa, não queria deixar minha cidade e meus amigos, mas acho que uma das poucas coisas que poderia manter o casamento de meus pais salvo, é o novo emprego do papai.
Ele sempre foi um tipo de corretor de carros... Mas quebrou muito antes de ter sua própria concessionária, e agora, teria a chance de ser gerente em uma concessionária de luxo por aqui, trabalhando com Tom Cole, um nome que já muito vi em diversos comerciais na televisão. Confesso que o cara não é tão maneiro quanto aquele que "corta os preços" com seus golpes de karatê, mas meu pai vai ter o provável melhor salário de sua vida, então apenas vejo vantagens nisso.
— Já deixe as coisas no jeito, Lizzie — A voz cansada de minha mãe ressoou, tirando-me do transe enquanto eu observa a cidade através da janela —, estamos chegando.
Chegamos ao bairro, e eu não sabia bem o que sentir. Não era exatamente como minha antiga vizinhança, mas também não era um daqueles lugares que você vê nos filmes e fica com medo de andar sozinha. Era comum, simples. As ruas tinham calçadas largas, algumas árvores ainda jovens alinhavam o caminho, e as casas pareciam ter sido construídas no mesmo estilo nos anos 80, com pequenas variações, cores de tinta, um ou outro jardim mais cuidado, ou uma cerca de madeira pintada de branco que dava um toque acolhedor. Nada era novo, mas também nada estava caindo aos pedaços.
Quando estacionamos em frente à nova casa, uma mulher alta e sorridente, com cabelos cacheados presos em um coque desarrumado, acenou para nós de sua varanda ao lado. Ela tinha uma criança pequena nos braços e um cachorro que latia com animação ao redor dela, e seu latido parecia zunir em minha cabeça, ecoando de maneira irritante. Meu bairro antigo não parecia tão movimentado quanto esse, então teria de saber lidar com tantos barulhos recorrentes.
— Bem-vindos à vizinhança! — Ela chamou, e eu senti um breve alívio. Talvez as pessoas daqui fossem legais.
Minha mãe apenas abriu um sorriso nitidamente cansado e acenou. Mal descemos do carro e outro vizinho apareceu. Ele parecia estar na casa dos quarenta, com uma camiseta de uma banda de rock que meu pai provavelmente gostava. Com um sorriso simpático, ele se apresentou como Rick.
— Precisa de ajuda com as malas? — Ele perguntou, apontando para o porta-malas cheio. Antes mesmo que minha mãe pudesse responder, ele já estava segurando duas caixas grandes.
Enquanto Rick ajudava, eu comecei a tirar minha mala do banco traseiro. Apesar de grande, ela estava mais leve do que parecia. Meu pai e minha mãe conversavam com ele, agradecendo pela ajuda, enquanto eu olhava para a casa. Era menor do que a antiga, com um telhado inclinado e uma varanda pequena, onde eu já imaginava pendurar algumas luzes amarelas. Luzes amarelas... Minha cor favorita sempre me trazia uma sensação de conforto, como um abraço quente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐓𝐄𝐀𝐑𝐒 𝐅𝐎𝐑 𝐅𝐄𝐀𝐑 | Kenny Payne
FanfictionElizabeth Dankworth é uma adolescente de 16 anos que se vê arrancada de sua vida confortável em Seattle para uma nova realidade na pequena cidade de Marietta, na Califórnia. Seus pais, à beira do divórcio, enfrentam dificuldades financeiras e emocio...