O despertador tocou, mas eu já estava acordada. A segunda-feira chegou mais rápido do que eu esperava, e com ela, uma mistura esquisita de ansiedade e receio. Meu peito parecia cheio de algo que não sabia se era medo ou apenas a expectativa do desconhecido. A luz que atravessava as frestas da cortina parecia mais fria do que acolhedora, me lembrando que aquele era um dia completamente novo, numa escola completamente nova, cheia de rostos completamente desconhecidos.
Levantei com preguiça, arrastando os pés no chão de madeira do quarto. Fiquei alguns minutos escolhendo uma roupa para o dia, optando por algo confortável: uma camiseta branca básica e jeans. Enquanto calçava meus tênis, olhei para o espelho pequeno apoiado na cômoda. Passei a mão pelo cabelo, prendendo-o em um rabo de cavalo simples, e respirei fundo, como se isso pudesse tirar o peso das minhas preocupações. Hoje é só o primeiro dia. Sobreviveu ao primeiro, sobrevive ao resto.
A casa estava estranhamente silenciosa, como se a discussão da noite anterior tivesse drenado toda a energia do lugar. Passei pela porta do meu quarto e caminhei até a cozinha, onde esperava encontrar pelo menos um café pronto, mas as bancadas estavam vazias. As únicas testemunhas do caos recente eram os copos sujos na pia e uma cadeira meio tombada na mesa.
Segui até a sala, e lá estava minha mãe, sentada no sofá, com a mesma expressão cansada que parecia não largar seu rosto nos últimos meses. Ela olhava para a televisão, mas seus olhos estavam desfocados, como se vissem algo muito além da tela.
— Mãe? — Chamei, hesitante, parando perto da porta.
Ela demorou a responder, mas virou o rosto em minha direção. Seus olhos pareciam fundos, exaustos, mas ela tentou sorrir, ainda que o gesto não tivesse força.
— Pega um achocolatado na geladeira ou... Uma maçã — Disse ela, com a voz baixa e arrastada.
Eu queria dizer algo para animá-la, mas as palavras não vieram. Caminhei até ela e a abracei levemente, tentando passar um pouco de carinho, mesmo que ela não conseguisse retribuir como antes.
— Vou indo. Te amo, mãe. — Disse, forçando um sorriso para ela.
— Te amo também, Lizzie — Ela murmurou, desviando o olhar.
Olhei ao redor rapidamente, mas meu pai não estava em casa. Suspirei, tentando não pensar muito nisso, e fui até a geladeira. Peguei uma maçã, a coloquei na boca e, com minha mochila jogada no ombro, segui para a frente da casa, onde minha bicicleta esperava.
Enquanto pedalava em direção à nova escola, o ar frio da manhã me atingiu, mas não era suficiente para aliviar o nó que apertava meu estômago. Vai dar tudo certo, pensei, repetindo como um mantra. O silêncio da casa ficava para trás, mas a incerteza de como seria o meu dia continuava comigo.
Pedalei lentamente até o final da rua, sentindo o vento fresco no rosto, mas minha mente ainda estava uma bagunça de pensamentos sobre o que me esperava na escola. Foi quando o vi, andando a poucos metros de distância, com a mochila jogada sobre um dos ombros e o olhar meio cabisbaixo, como se carregasse o peso do mundo junto com os livros. O garoto da loja de conveniência, pensei, reconhecendo-o instantaneamente.
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𝐓𝐄𝐀𝐑𝐒 𝐅𝐎𝐑 𝐅𝐄𝐀𝐑 | Kenny Payne
FanfictionElizabeth Dankworth é uma adolescente de 16 anos que se vê arrancada de sua vida confortável em Seattle para uma nova realidade na pequena cidade de Marietta, na Califórnia. Seus pais, à beira do divórcio, enfrentam dificuldades financeiras e emocio...