A manhã chegou silenciosa no esconderijo, com o ar pesado por uma mistura de cansaço e alívio após os eventos recentes. Os primeiros raios de sol se infiltraram pelas janelas cobertas por cortinas improvisadas, lançando sombras alongadas pelo ambiente. Apesar da calmaria aparente, havia uma tensão latente no ar. Talvez fosse o resquício dos dias difíceis ou a expectativa do que estava por vir.Eu fui o primeiro a acordar. Meu corpo ainda estava dolorido, reflexo não só das lutas físicas, mas também da batalha interna que parecia nunca ter fim. Meus pensamentos estavam embaralhados, um turbilhão desordenado de imagens e emoções da noite anterior. Quando olhei para Jungkook, dormindo no sofá, com os cabelos bagunçados e o rosto em paz, senti um nó na garganta. Ele parecia tão sereno, quase vulnerável, como se o peso do mundo não estivesse mais sobre seus ombros.
Um suspiro escapou dos meus lábios antes que eu pudesse segurar. Não era arrependimento. Eu sabia o que aquilo havia significado: um momento, uma fuga do caos, uma necessidade compartilhada de alívio. Nada além disso. Pelo menos era o que eu dizia a mim mesmo. Mas, por algum motivo, fiquei mais tempo olhando para ele do que deveria, como se procurasse algo que não sabia nomear.
Sem fazer barulho, me levantei e fui para o meu quarto. Precisava de distância, de tempo para organizar meus pensamentos. Cada passo que dava me parecia pesado, mas continuei. No quarto, tomei um banho longo, deixando que a água quente relaxasse meus músculos e, talvez, levasse embora a confusão em minha cabeça. Não funcionou.
Quando finalmente saí, o som de vozes ecoava pela cozinha. Namjoon, Tae e ARMY estavam reunidos, gesticulando intensamente enquanto discutiam o próximo passo do golpe. Era uma conversa estratégica, cheia de ideias e cenários hipotéticos. Do outro lado do esconderijo, Yoongi, Jin e J-Hope estavam sentados no chão, rindo de algo que Yoongi havia dito. O contraste entre os dois grupos me fez perceber como, mesmo em tempos de crise, momentos de leveza e conexão encontravam um jeito de surgir.
Eu passei por eles rapidamente, acenando de forma breve. Peguei algo para comer, mas minha fome era inexistente. Na verdade, minha cabeça estava tão vazia que parecia estar evitando qualquer tentativa de processar o que havia acontecido. Era como se meu cérebro estivesse em um estado de negação, e talvez fosse mais fácil assim.
Mas, com o passar do dia, comecei a perceber algo que me incomodava. Jungkook estava diferente. Ele mal falava e parecia evitar me encarar. Cada vez que passava por ele, a tensão no ar era palpável. Tive a sensação de que ele queria dizer algo, mas sempre recuava no último segundo. Eu tentei ignorar, dizendo a mim mesmo que ele precisava de espaço, mas aquilo só me fazia ficar ainda mais inquieto.
Quando a noite caiu, percebi que não dava para deixar as coisas daquele jeito. Não era apenas sobre nós dois; era sobre o grupo, sobre a confiança que precisávamos ter uns nos outros para o golpe. Qualquer mal-entendido podia nos prejudicar. Tomei coragem e fui procurá-lo.
Encontrei Jungkook na sala de treinamento. Ele estava socando o saco de pancadas com uma intensidade quase assustadora. O som dos golpes ecoava pelo ambiente vazio, cada soco carregado de força e frustração. Ele não percebeu minha presença de imediato, então fiquei observando por alguns segundos. A determinação em seu rosto era algo admirável, mas o olhar que ele carregava era pesado, quase sombrio.
— Jungkook — chamei, minha voz baixa, mas firme. Dei alguns passos à frente, tentando não invadir o espaço dele de forma abrupta. Ele parou, deixando as mãos caírem ao lado do corpo. Ainda de costas para mim, respirou fundo antes de falar.
— O que foi, Jimin? — perguntou, sua voz fria e cortante. Ele se virou devagar, e seus olhos encontraram os meus. Eles estavam ardendo, carregados de algo que eu não podia ignorar: raiva, mágoa, talvez ambos.
— A gente precisa conversar — disse, tentando manter minha postura tranquila, mesmo com meu coração acelerado.
Jungkook tirou as luvas com movimentos rápidos e as largou no chão, quase como se estivesse pronto para lutar. Ele cruzou os braços e me encarou.
— Conversar sobre o quê? Sobre como você saiu sem dizer nada? Ou sobre como, aparentemente, eu fui só mais um momento pra você esquecer os problemas?
A franqueza dele me pegou desprevenido. Suspirei, buscando as palavras certas para responder sem piorar as coisas.
— Não era minha intenção te magoar. Só... achei que a gente entendia o que aquilo significava. Foi só uma transa, Jungkook. Não precisa se sentir assim.
Ele arregalou os olhos por um instante, surpreso com minha resposta. Mas a surpresa logo deu lugar a uma expressão amarga. Ele riu, mas foi uma risada seca, cheia de ironia.
— Só uma transa? — ele repetiu, cada palavra carregada de sarcasmo. — Entendi agora...
Eu fiquei em silêncio, meu olhar fixo no chão. Não sabia o que falar. As palavras pareciam erradas, insuficientes.
— Eu devia saber — ele continuou, a voz baixa, quase um murmúrio. — Mas achei que você fosse, sei lá, pelo menos falar comigo depois.
— Eu não quis complicar as coisas — tentei explicar, mas minha voz soou fraca, quase uma desculpa.
Ele deu um passo à frente, sua frustração quase tangível.
— Complicar? — Sua voz subiu levemente, e seus olhos brilharam com uma intensidade que me fez recuar um pouco. — Jimin, eu não esperava que você fosse me amar ou algo assim. Mas você me deixou ali, como se... como se nada tivesse acontecido.
As palavras dele atingiram um ponto dentro de mim que eu preferia ignorar. Meu peito apertou, mas eu continuei calado, incapaz de oferecer algo que aliviasse o peso que ele carregava.
Jungkook balançou a cabeça, exausto, e começou a sair. No entanto, parou na porta e olhou para mim por cima do ombro. Seu olhar era firme, mas carregado de uma tristeza que eu não sabia como enfrentar.
— É... Você deixou bem claro que significou "nada" pra você.
Sua voz era fria, mas repleta de ressentimento. Sem esperar resposta, ele saiu, me deixando sozinho na sala de treinamento. O silêncio que ficou parecia esmagador, como se cada palavra dita ecoasse pelo ambiente, recusando-se a desaparecer.
A tensão entre nós não era mais uma questão implícita ou discreta. Era uma ferida aberta, e eu não fazia ideia de como — ou se — poderia consertar.
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À Beira do Caos
ФанфикSete especialistas. Um plano ambicioso: criar a própria fortuna com o crime perfeito. Liderados por uma mente misteriosa conhecida apenas como ARMY, o grupo entra em um jogo de traições, segredos e adrenalina onde qualquer passo em falso pode ser o...