PROFANO | Em Andamento

07 - "As Promessas de Sangue"

O café esfriava na xícara esquecida sobre a mesa enquanto Matthew encarava a fotografia desgastada. O brasão dos Bellini, gravado com detalhes sutis, parecia pulsar como uma ferida aberta. Ele havia olhado para aquela imagem inúmeras vezes ao longo dos anos, mas jamais com a intensidade de agora.

O silêncio do pequeno cômodo era quebrado apenas pelo som abafado dos sinos ao longe. Ele fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos que vinham em turbilhão. Sua mãe, Scarlett, nunca falara sobre os Bellini, mas o símbolo na foto era inconfundível. Era um elo direto entre ela e Dante Bellini, o homem que ele já começava a suspeitar ser o responsável por toda a dor que carregava.

Matthew levantou-se abruptamente, caminhando pelo aposento com passos lentos e calculados. A coincidência parecia grande demais. Dante não era apenas um homem poderoso e corrupto; ele era, agora, uma peça essencial no quebra-cabeça de sua vingança. A descoberta inflamava ainda mais sua determinação, mas ao mesmo tempo... havia ela.

Antonella.

Seu rosto voltou à sua mente, iluminado por aquele sorriso tímido. Havia algo nela que perturbava seu foco, algo que o fazia hesitar. Matthew odiava admitir isso, mas Antonella não era apenas um meio para um fim. Ela era um desvio perigoso.

Ele sabia que precisava encontrá-la novamente, continuar a aproximação. Ela era, afinal, a chave para destrancar os segredos dos Bellini. Mas cada interação com ela o deixava mais vulnerável, mais consciente de que havia linhas que ele não podia cruzar sem perder de vista o homem que ele prometera ser.

Com o punho cerrado, Matthew pegou a fotografia e a guardou novamente no fundo de sua gaveta. O próximo passo era claro: ele precisava desvendar os laços de Scarlett com Dante Bellini, e Antonella seria seu caminho mais rápido até a verdade.

Mas enquanto observava o crucifixo pendurado na parede, um peso novo caiu sobre seus ombros. A missão parecia estar se mesclando a algo que ele não sabia nomear. Um sentimento que tornava cada escolha mais complicada.

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O ambiente da igreja estava envolto em um silêncio denso, quebrado apenas pelo som suave das páginas de um livro sendo folheadas. Matthew estava sentado em um dos bancos próximos ao altar, com a Bíblia aberta à sua frente. Mas seus olhos, fixos na mesma passagem há vários minutos, não liam. Não podiam.

A fotografia de sua mãe, agora guardada em seu quarto, continuava a atormentá-lo. O brasão dos Bellini brilhava em sua mente como uma marca impossível de ignorar. Tudo indicava que Scarlett e Dante estavam conectados, mas o "como" e o "porquê" permaneciam fora de seu alcance.

E então, ela apareceu.

Antonella entrou pela porta lateral da igreja, segurando um pequeno caderno contra o peito. Seus passos eram hesitantes, como se não tivesse certeza de que deveria estar ali. Quando seus olhos encontraram os de Matthew, ela parou por um instante, surpresa.

— Espero não estar incomodando — disse ela, com a voz tão suave quanto o som das folhas do lado de fora.

Matthew a estudou em silêncio por um momento antes de balançar a cabeça. — Não. Está tudo bem. Precisa de algo?

Antonella hesitou antes de se aproximar lentamente. — Eu... só precisava de um lugar para escrever. Aqui é tranquilo.

Matthew indicou o banco ao lado dele com um gesto sutil. — É um bom lugar para pensar.

Ela sentou-se com cuidado, mantendo o caderno firmemente em suas mãos. Por alguns minutos, o silêncio os envolveu, mas não era desconfortável. Matthew observava Antonella pelo canto do olho, a forma como ela mordia levemente o lábio inferior enquanto pensava, o brilho suave de seus cabelos sob a luz do vitral.