1. Não fale o nome dela.

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O som de vozes abafadas e passos apressados ecoava pelo terminal do aeroporto, mas Irene estava mais focada em outra coisa — ou melhor, em alguém.

— Karina, preste atenção! — Irene exclamou, a voz levemente elevada, mas ainda controlada. Ela gesticulou com a mão, tentando capturar a atenção da filha.

Karina, que estava sentada em uma das cadeiras de espera, mal ergueu os olhos do jogo em seu aparelho. Seus dedos ágeis percorriam a tela, completamente imersa no mundo virtual. Ela fez um leve aceno com a cabeça, como se estivesse ouvindo, mas era óbvio que sua mente estava longe.

— Karina! — Irene repetiu, agora com mais firmeza. — Eu estou falando sério, isso não pode esperar. Pare de mexer nesse jogo e ouça o que eu tenho a dizer.

Karina finalmente suspirou, ainda sem desviar o olhar da tela, e murmurou de forma quase inaudível:

— Só mais um segundo, mamãe... já estou quase terminando essa fase.

Irene bufou, frustrada. Ela se inclinou para a frente, arrancando o aparelho das mãos da filha com um movimento rápido. Karina finalmente ergueu os olhos, surpresa e um pouco irritada.

— Ei! O que foi isso? — Karina protestou, os olhos escuros agora fixos em Irene com um brilho de irritação adolescente.

— O que foi isso? — Irene repetiu, cruzando os braços enquanto segurava o aparelho firmemente. — Isso foi eu tentando fazer você entender que a vida real é mais importante que qualquer jogo. Nós estamos prestes a embarcar para um país novo, onde você vai morar em uma casa nova, frequentar uma escola nova... e tudo que você consegue pensar é nesse maldito jogo?

Karina olhou para Irene por um momento, processando as palavras, mas ainda sem ceder totalmente. Ela suspirou, resignada, e recostou-se na cadeira, cruzando os braços também.

— Tá, tá... O que você quer que eu faça, então? — respondeu Karina, o tom desafiador, mas com uma ponta de curiosidade.

Irene esfregou a têmpora, tentando manter a calma.

— Quero que você ouça sobre o plano para hoje — disse Irene, baixando o tom, mas mantendo a firmeza. — Nós vamos pegar esse voo para Seoul e, assim que chegarmos, vamos direto para a nova casa. Eu preciso que você colabore, que entenda que essa mudança é importante para nós.

Karina desviou o olhar, claramente ainda incomodada por ter o jogo interrompido, mas sabia que não tinha outra opção a não ser ouvir.

— E quando vamos conhecer minha escola nova? — perguntou Karina, finalmente mostrando algum interesse.

— Em alguns dias, depois que nos estabelecermos — respondeu Irene, tentando oferecer um sorriso tranquilizador. — Mas antes disso, preciso que você se prepare para outra coisa. Nós vamos encontrar algumas pessoas importantes para mim, e quero que você seja educada e se comporte, entendeu?

Karina fez um gesto vago com a cabeça, ainda não totalmente convencida, mas começando a ceder.

— Tá bom, vou me comportar — murmurou Karina, o tom ainda meio relutante.

Irene soltou um suspiro, aliviada por ter conseguido pelo menos parte da atenção da filha. Ela devolveu o aparelho para Karina, mas não antes de acrescentar:

— Mas agora, sem mais jogos. Só depois que estivermos na casa nova, entendeu?

Karina fez uma careta, mas assentiu.

— Entendi, mãe.

O aviso de embarque ecoou pelo terminal, cortando o breve silêncio que se formou entre elas. Irene se levantou, estendendo a mão para Karina.

Yours | SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora