Bruna 💎
Sábado de manhã. O cheiro de laranja fresca invadiu minha cozinha enquanto eu cortava as frutas para o suco. Nada de mais, uma rotina simples, mas que eu sabia ser essencial para começar o dia com o pé direito. Gosto dessa calmaria das manhãs. A casa está silenciosa, o som do liquidificador é quase uma música suave. O apartamento não é grande, mas é meu. Sinto-me bem aqui. O sofá marrom na sala está sempre coberto de almofadas coloridas, um caos organizado que só eu entendo. Na parede, tem um monte de fotos, umas de viagens, outras com as minhas amigas, momentos descontraídos, de risadas e histórias que só quem viveu sabe. Aquelas fotos falam mais do que qualquer legenda. Aqui, eu sou eu, sem pressa de ser outra coisa.
Estou em paz, mas a verdade é que hoje eu queria mais. Não sei explicar, mas parece que alguma coisa dentro de mim pede por uma mudança. Por algo que me tire dessa rotina de sempre. Sabe quando você sente que a vida pede uma novidade? Eu tô assim, tipo uma inquietação interna que não me deixa quieta.
Tirei o suco pronto do liquidificador e me sentei à mesa da cozinha. A luz suave da manhã entrou pela janela, e eu pude ver meu reflexo no vidro. A franjinha estava bagunçada, um pouco pra fora do lugar, mas até isso tinha seu charme. Eu sempre fui assim: tranquila, mas com uma confiança que vem de dentro, de saber que, mesmo nos dias mais simples, tem algo especial em ser quem sou. A vida não precisa ser um espetáculo todo dia, mas sempre é possível encontrar beleza no ordinário.
Peguei o celular só pra dar uma olhada no que estava rolando. Não sou de ficar muito tempo nas redes sociais, mas gosto de ver o que a galera anda fazendo. Não sou obcecada por likes ou seguidores, mas tem algo divertido em ver o que o mundo tá postando. Dava pra perceber que todo mundo estava aproveitando a liberdade do fim de semana, mas eu ainda me sentia... perdida. Não era sobre o que as pessoas faziam, era sobre o que eu queria fazer. Uma vontade de sair, de viver algo diferente. O problema é que, por mais que eu me sentisse cheia de energia, não sabia bem o que fazer com ela. E às vezes, essa dúvida é mais irritante do que parece.
Foi aí que minha mãe apareceu. Ela não fazia barulho ao entrar na cozinha, mas com o olhar dela, já sabia que sabia o que eu estava pensando. Essa mulher tinha uma capacidade incrível de ler as minhas entrelinhas, mesmo quando eu não queria que ela soubesse. Ela estava de avental, com o rosto sério, mas com aquele tom que só ela sabe usar, meio debochado e acolhedor ao mesmo tempo.
— Eu sabia que você ia ficar nesse clima de "ah, não sei o que fazer da vida" no fim de semana. — Ela falou, se recostando na porta da cozinha e cruzando os braços.
Sorri, um pouco envergonhada. É engraçado como a minha mãe sempre parece estar um passo à frente. Era como se ela soubesse que, por mais que eu tentasse fugir de um rumo fixo, eu estava sempre buscando algo que desse mais sentido ao que eu fazia. E, de alguma forma, ela estava certa. A questão era o que eu queria.
— Ah, mãe, você não entende... — Eu respirei fundo, jogando a frutinha da laranja na boca enquanto pensava. — Eu só... Preciso de algo diferente. Tipo uma mudança. Não que eu ache que vai resolver alguma coisa, mas... Eu preciso fazer algo que mexa comigo, entendeu?
Ela me olhou com uma expressão meio irônica, mas sem aquela cara de quem tá se metendo na sua vida. Eu acho que ela sabia que eu ia falar algo assim.
— Sabia que você ia sair com uma dessas. — Ela riu baixinho. — Você é sempre a aventureira, né? A única que vai pra balada com a ideia de que vai encontrar a "grande mudança" da vida. Mas aí acaba ficando na mesma, reclamando da rotina e tentando inventar uma história.
Ela não estava errada. A verdade é que eu vivia buscando algo novo, algo que fosse mais emocionante. Não que minha vida fosse chata, pelo contrário, mas eu sentia que algo dentro de mim pedia mais, como se houvesse algo esperando pra ser vivido, e eu só não sabia ainda o quê.
— É que... — Dei um gole no suco e deixei o copo na mesa, me encostando na cadeira. — Eu não sou do tipo que espera as coisas acontecerem, mãe. Se eu não fizer por mim mesma, vai ficar tudo sempre no mesmo lugar. Eu preciso de um empurrão.
Minha mãe suspirou, mas não parecia brava. Ela se aproximou da mesa e se sentou do meu lado, olhando diretamente pra mim, como se quisesse entender o que eu estava realmente dizendo.
— Bruna, não é sobre fazer algo grande o tempo todo. Às vezes, as mudanças mais profundas acontecem quando a gente menos espera. Só que, tem muita gente que fica esperando você dar esse empurrão, viu? Não pode se esquecer disso.
As palavras dela me pegaram de surpresa, e por um momento, senti como se estivesse sendo observada mais do que imaginava. Eu não tinha pensado sobre isso. Será que, de alguma forma, eu estava tentando me reinventar pra impressionar outras pessoas? O que ela queria dizer com "muita gente esperando"? Isso me fez pensar... Eu estava tão preocupada em mudar minha rotina, mas será que estava deixando de lado o que realmente importava?
— Tá, mãe... Eu vou tentar pensar nisso. — Respondi, mais por falar do que por realmente ter as respostas.
Ela sorriu, com aquela expressão de quem sabia que acabara de plantar uma sementinha. Se tem uma coisa que minha mãe sabe fazer bem é isso: soltar uma frase que fica ecoando na minha cabeça por horas. Ela se levantou, foi até o armário, pegou uma xícara e, antes de sair da cozinha, disse:
— Só não esquece que mudanças grandes vêm dos pequenos passos. E que você tem que estar pronta pra seguir esses passos, mesmo sem saber onde vão te levar.
E ela foi embora. Eu fiquei ali, com a sensação de que aquela conversa tinha mais significado do que eu queria admitir. Mas, no fundo, a única coisa que eu sabia era que algo precisava mudar, e essa mudança estava mais perto do que eu imaginava. Talvez a vida já estivesse me preparando para algo que eu não entendia ainda, mas que logo ficaria claro.
Depois de um tempo, terminei o suco, peguei o celular e comecei a pensar no que eu poderia fazer diferente hoje. Não sabia bem o que, mas sabia que, se eu não fizesse nada, a mudança nunca aconteceria. E lá fora, o dia estava só começando.
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No Ritmo do Imprevisível
RomanceEm uma história marcada pela sutileza dos gestos e pela intensidade do que não é dito, Bruna e Carlos se encontram em um jogo de olhares e pequenos sinais. Enquanto Carlos se mantém distante, com seu jeito de esconder sentimentos, Bruna sente uma co...