Código Serafim

Capítulo 2: Sombra Na Rede

Elijah sempre teve uma relação única com a internet. Para ele, navegar pela web não era apenas uma tarefa cotidiana, mas uma verdadeira obsessão. Ele passava horas explorando os labirintos de dados e informações, buscando respostas para tudo o que despertava sua curiosidade. Enquanto outros usavam a rede para passar o tempo com redes sociais ou vídeos de gatos, ele estava em uma busca constante por algo maior. O conhecimento parecia ser a única coisa que realmente preenchia os vazios do seu dia a dia.

Era uma segunda-feira nublada e chuvosa, típica de outono em Tóquio. A cidade estava mais quieta do que o habitual, as pessoas se apressando para chegar a seus destinos enquanto se protegiam da forte chuva sob guarda-chuvas e capas de chuva. Elijah, ao sair da escola, esqueceu seu guarda-chuva, como sempre, corria pelas ruas encharcadas. A água escorrendo pelas calçadas, os carros passando apressados, 

Ao chegar em casa, o alívio de escapar do clima gelado foi imediato. Sua madrasta estava na cozinha, preparando o almoço enquanto conversava com sua irmã mais nova, Riko, que brincava distraída com um livro. Elijah ignorou as conversas ao fundo, subindo as escadas rapidamente até seu quarto. Fechou a porta atrás de si, e com um suspiro de alívio, tirou a roupa molhada. A sensação do calor do chuveiro era como um contraste acolhedor com o frio de lá fora. Depois de se secar e trocar de roupa, Elijah se sentou à mesa, ligando o computador.

O que faria agora? Não estava realmente com vontade de estudar, mas sentia que deveria. Em vez disso, ele abriu seu navegador e ficou apenas navegando por sites aleatórios, como sempre fazia quando queria relaxar e desconectar-se por um momento. Passou alguns minutos buscando notícias, leu alguns artigos sobre tecnologia, mas nada parecia realmente chamar sua atenção. Foi então que, sem mais nem menos, algo chamou sua atenção.

Na barra de endereços, apareceu uma URL que ele nunca tinha visto antes:

"www.nexusus.com.jp"

"Isso é um erro de digitação ou algo novo?", pensou Elijah, seu dedo pairando sobre o mouse. Ele não sabia bem por que, mas algo naquele endereço parecia curioso. Era um site simples, com uma URL estranha e um tanto misteriosa. Talvez fosse mais um desses sites obscuros que tentam parecer importantes, mas não passam de uma tentativa de se destacar no mar de informações da internet.

Sem pensar muito, ele clicou. A página carregou lentamente, revelando uma tela simples com uma lista interminável de nomes, dispostos de maneira ordenada, em diferentes idiomas. Era como se fosse um banco de dados, mas sem nenhum contexto claro. Um grande número de nomes que Elijah nunca tinha ouvido falar. "Deve ser algum tipo de diretório", ele pensou, cético, mas ainda curioso.

Ele não conseguia entender direito o propósito daquele site. Nenhuma descrição, nenhum texto explicativo. Apenas a lista de nomes, sem mais nada. Clicou em um deles, apenas por curiosidade. A página se atualizou imediatamente, exibindo informações sobre a pessoa. Idade, endereço, onde trabalhava — tudo sobre ela. Mas no final da página, algo chamou ainda mais sua atenção: uma caixa de texto em branco com a inscrição "Digite aqui".

Elijah franziu a testa. "Isso é estranho", ele pensou. O que significava esse campo? De alguma forma, parecia importante. Ele tentou digitar algo simples, como "olá", apenas para ver o que aconteceria. Mas o computador não permitiu. Nada aconteceu, o campo ficou vazio, sem resposta.

Ele notou que, ao clicar em alguns nomes, certas informações piscavam na tela, como se o site estivesse processando algo. Apesar de parecer um glitch, isso despertou sua curiosidade. Ele passou alguns minutos clicando em outros nomes, anotando mentalmente qualquer padrão, mas tudo parecia aleatório. Até que, ao tentar interagir com a misteriosa caixa de texto, algo diferente aconteceu.

Ele digitou “olá”, como antes, e novamente não funcionou. Mas, desta vez, após a tentativa fracassada, uma nova mensagem apareceu no topo da tela, em letras pequenas e vermelhas:

"O que você deseja que esta pessoa faça?"

Elijah ficou desconfiado. Aquilo parecia parte de um jogo ou algo experimental. Seu primeiro pensamento foi que o site poderia ser algum tipo de projeto interativo ou até um ARG (jogo de realidade alternativa). No entanto, a natureza enigmática do site o deixava desconfiado. Ainda assim, o texto o instigava a continuar.

Ele hesitou, mas decidiu escrever algo simples e sem consequências. “Sorria ao ver algo azul”, digitou, quase rindo de si mesmo. Para sua surpresa, a mensagem foi aceita, e a página recarregou com as informações atualizadas: "Estado atual: sorriu ao ver algo azul". A simplicidade daquela resposta deixou Elijah frustrado. "Isso é tudo? Algum tipo de piada automática?", ele pensou.

De repente, um ícone de ajuda apareceu no canto inferior direito. Curioso, clicou, e foi levado a uma tela cheia de pequenos fragmentos de texto em várias línguas. Alguns eram frases incompletas; outros, instruções que pareciam mal traduzidas, mas uma delas chamou sua atenção:

“Para ativar o comando, o rosto do sujeito deve ser conhecido.”

Elijah ficou intrigado. O rosto do sujeito? Por que isso seria relevante? Seria algum tipo de tecnologia de reconhecimento facial? Não fazia sentido... até que algo mais aconteceu. Na página principal, um nome foi destacado automaticamente, como se o site estivesse sugerindo algo. Era o nome de um funcionário de uma loja de conveniência local, alguém que Elijah já havia visto algumas vezes, mas nunca prestou muita atenção.

Curioso, ele abriu o perfil do homem e viu sua foto anexada às informações. “Talvez seja assim que funciona… preciso testar isso com algo mais direto.” Dessa vez, ele digitou um comando mais ousado: "Fique de pé e diga ‘eu amo balões’ às 17h30."

A mensagem foi aceita. Elijah olhou para o relógio. Eram 17h15, e ele sabia que havia uma loja de conveniência não muito longe de sua casa, por desencargo de consciência, resolveu verificar. Pegou seu casaco e correu até lá, ignorando a chuva que caía sem trégua. Chegando à loja, se posicionou perto da entrada, fingindo procurar algo enquanto observava o funcionário no balcão.

O tempo parecia arrastar-se, mas exatamente às 17h30, o homem parou o que estava fazendo, levantou-se e disse em voz alta, quase mecanicamente: “Eu amo balões.” Algumas pessoas olharam para ele com estranheza, mas logo voltaram às suas compras, achando que era algum tipo de brincadeira.

Elijah ficou paralisado. Seu coração disparava. Ele não sabia o que pensar ou sentir. "Eu fiz isso?", ele se perguntava, enquanto o choque tomava conta de seu corpo. Ele saiu da loja sem comprar nada, sem olhar para trás. Tudo parecia surreal.

Ao chegar em casa, molhado e confuso, sentou-se diante do computador novamente. Ele encarava a tela, tentando organizar os pensamentos. Se aquele site era o que ele começava a suspeitar, então ele tinha nas mãos algo mais poderoso do que qualquer um poderia imaginar.

Ele tentou procurar por uma página de ajuda, na esperança de encontrar alguma explicação para o que estava vendo, mas nada. Não havia um único detalhe a mais sobre o que o site oferecia ou como ele funcionava. Nenhuma instrução, nenhum guia.

Ele estava tão absorvido no que acabara de descobrir que não percebeu quanto tempo havia se passado. Agora ele estava mais curioso do que nunca, querendo testar mais, querendo entender. A questão era: o que ele realmente estava testando? O que mais poderia mudar se ele tentasse? Ele precisava descobrir.