Capítulo 4: O Despertar

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Elijah se sentava em sua mesa, os olhos fixos no monitor, enquanto a chuva batia contra a janela com uma suavidade rítmica. O som da água caindo parecia quase inofensivo, como um pano de fundo à medida que seu foco se intensificava. A mente dele estava distante, ocupada com as últimas descobertas do Nexus. O silêncio do quarto era absoluto, exceto pelos cliques ocasionais do teclado enquanto ele navegava pelas camadas complexas do sistema.

A experiência do dia anterior, com Takumi, ainda ecoava em sua mente. Aquela manipulação simples - fazê-lo ficar em silêncio durante a aula - tinha sido uma prova de conceito. Mas Elijah não podia negar que sentia algo mais em relação ao Nexus. Não era apenas uma ferramenta. Era uma chave. A chave para um poder além da compreensão. Ele estava começando a entender que o que estava em suas mãos não era apenas uma habilidade para manipular pequenos detalhes da vida das pessoas. Não. O Nexus era algo muito maior, algo que poderia afetar, de maneira fundamental, a estrutura do próprio mundo.

Com os dedos descansando sobre o teclado, Elijah voltou ao site, observando as informações codificadas no fundo da tela. O Nexus parecia aguardar por mais, como uma vasta extensão de possibilidades esperando para serem exploradas. Mas ele sabia que deveria ter cautela. Cada comando que ele inseria no sistema não era apenas uma manipulação - era uma interação com algo que estava além daquilo que ele poderia controlar completamente. E embora ele tivesse um controle impressionante sobre as pequenas ações, ele ainda sentia uma tensão, como se estivesse dançando à beira de um abismo sem saber o que o aguardava do outro lado.

Ele precisava de mais dados. Mais exemplos. Algo que fosse suficientemente significativo para testar os limites do Nexus, mas sem chamar a atenção, sem arriscar mais do que o necessário.

Naquela noite, uma ideia surgiu. Algo simples, mas potencialmente eficaz. Ele sabia que o evento político da cidade de Tóquio, programado para o dia seguinte, seria um espetáculo transmitido ao vivo, com milhares de espectadores, e o prefeito, conhecido por sua eloquência, faria um discurso crucial. Era o tipo de evento que atraía atenção, mas sem envolver figuras internacionais ou políticas de maior destaque. A oportunidade parecia ideal para um experimento mais audacioso.

Ele olhou para o relógio: faltavam apenas algumas horas para o evento. Havia pouco tempo para ajustar seus planos, mas sabia que a janela era curta. "Seja rápido. E discreto", ele se repetiu mentalmente.

Elijah, então, iniciou uma sequência de comandos cuidadosamente calculados. Ele sabia que não precisava de algo espetacular - não ainda. Algo que pudesse ser facilmente explicado como uma falha ou um erro. Com um leve toque nas teclas, ele escreveu a primeira linha de seu comando no Nexus: "O prefeito de Tóquio gaguejará durante sua fala no evento."

Era um pequeno ajuste. O tipo de falha que poderia ser ignorada facilmente se alguém não prestasse muita atenção. Elijah sabia que as pequenas falhas humanas, os momentos de hesitação, eram difíceis de controlar para a maioria das pessoas. Para ele, no entanto, isso era apenas o começo de um teste mais refinado. Ele queria ver como o Nexus poderia influenciar até mesmo os mais minuciosos aspectos da natureza humana. O comando estava dado, o experimento iniciado.

No dia seguinte, ao ligar a TV em seu quarto, Elijah se acomodou na cadeira, os dedos entrelaçados, os olhos fixos na tela. Ele assistia ao prefeito de Tóquio entrar no palco, o rosto determinado, a postura imponente. Ele parecia confiante, como sempre, e Elijah observava cada movimento com precisão. Sentia que estava jogando um jogo invisível, um jogo no qual ele era o único jogador e a cidade inteira era um tabuleiro.

Quando o prefeito começou seu discurso, sua voz era clara, projetada para impactar, para atrair atenção. Mas, conforme as palavras fluíam, algo começou a mudar. Um leve tropeço na frase. Outro. E então, o momento que Elijah esperava - o prefeito gaguejou, uma hesitação clara que fez seu discurso perder fluidez por um instante. O público não parecia entender o que estava acontecendo. Alguns olhavam confusos, outros murmuravam entre si. A cena parecia estranha, desconcertante, mas não alarmante.

Elijah observou a reação com um pequeno sorriso. O prefeito se recompôs rapidamente, mas não antes de deixar escapar uma falha momentânea que foi captada pelas câmeras. O erro fora pequeno, mas visível. Aquilo não era algo trivial. Aquela falha, aquela leve hesitação, era o primeiro sinal claro de que o Nexus estava começando a exercer um controle real sobre o ambiente ao seu redor. O tipo de controle que se escondia nas sombras, mas que, quando manipulado, tinha o poder de gerar pequenas, mas significativas distorções.

No entanto, Elijah sabia que aquilo ainda estava longe de ser o suficiente. Ele não queria manipular eventos de maneira tão óbvia, mas também sabia que precisava testar os limites do Nexus de forma mais agressiva. O poder que ele começava a sentir era intenso, mas ainda não era total. Ele queria mais. Ele queria testar a resistência do sistema. Queria ver o quanto poderia empurrar o Nexus antes que algo - ou alguém - se desse conta do que ele estava fazendo.

Naquela noite, depois que o evento terminou, Elijah voltou ao seu computador, as mãos inquietas. Ele sabia que havia começado um jogo perigoso, e que os próximos passos exigiriam mais cuidado. O que ele havia feito até agora era pequeno, quase insignificante, mas a ideia de ter manipulado um evento ao vivo de maneira tão sutil o deixou com um sabor amargo de expectativa. Ele estava começando a se habituar ao poder que o Nexus proporcionava.

Enquanto pensava no futuro, uma sensação desconfortável o invadiu. O que aconteceria se alguém começasse a investigar? Ou, mais importante, o que aconteceria se ele mesmo não tivesse o controle sobre o Nexus? Como qualquer jogador inteligente, ele sabia que havia sempre um risco. A cada comando, a cada manipulação, ele estava deixando rastros. E uma falha tão simples quanto a gagueira do prefeito poderia ser apenas o primeiro de muitos erros que ele não poderia controlar. Não ainda.

"Isso não é mais uma brincadeira", pensou, afastando-se da tela por um momento. "Isso é um teste."

Mas a verdade era que Elijah não sabia até onde estava disposto a ir. O poder era tentador demais para ser ignorado, e ele sabia que não havia mais volta. Se o Nexus fosse o jogo, ele não estava apenas jogando. Ele estava pronto para vencer.

Código SerafimOnde histórias criam vida. Descubra agora