Capítulo 4

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Ela puxou a fruta, tirando-a do morangueiro. Olhou fixamente para a fruta por alguns segundos, depois sorriu e a entregou para mim. Vermelha e madura.

— Como? — perguntei perplexa.

— Os elfos são seres de luz, lembra de que lhe contei? Nós levamos luz aonde há sombras e trevas.

Eu fiquei olhando o morango, ainda sentada no chão, sem entender muita coisa, a única coisa que eu sabia era que não ia mais chegar perto deles.

— Vamos voltar para dentro. — Ela me ajudou a levantar.

Antes de partirmos, pude ver Aodh me observando. Ele estava com o ar preocupado, com um vinco formado em meio a sua testa e uma das mãos no punho de sua espada.

Passei o restante do dia em meu quarto com a minha mãe de companhia. Nem Absalom veio me ver. Acreditei que aquilo deveria ser um mau sinal, já que ele se mostrava tão curioso e agora, quando algo finalmente aconteceu, não apareceu para perguntar nada.

— Mãe, você acha que vão me mandar de volta para casa? — questionei, olhando pela janela. Em meu peito havia esperanças e medo. Porque eu queria voltar, mas ao mesmo tempo queria ficar.

— Não creio nisso, querida — respondeu, mas seus pensamentos não estavam comigo, ali naquele quarto. Parecia distante enquanto olhava as crianças brincando lá embaixo.

Ela me deixou logo que Jaclyn, uma elfa muito simpática, trouxe meu jantar. Diferentemente dos outros dias, minha mãe não me acompanhou e aquilo me chateou um pouco, estava acostumada a tê-la ao meu lado sempre e ficar sozinha não me era agradável, mas tratei logo de tirar os pensamentos ruins de minha cabeça, afinal, ela também estava em um ambiente estranho, tinha suas angústias, preocupações e devia estar sofrendo grande pressão com a história de herdeira de reino élfico. Contudo, estar com ela, naquele momento, fazia eu me sentir mais real, menos perdida e sozinha.

Além disso, eu não tinha parado para pensar ou perguntado como estava a preparação para receber os tais elfos que chegariam. Não tinha imaginado o que ela sentia sendo considerada a herdeira deles. Minha mãe também estava sob pressão.

Passei as mãos em meu peito e senti a cicatriz de Agatha posicionada em cima de meu coração. Não tinha entendido como ela ficara ali. A das costas também era visível. Pareciam cortes recentes, como se tivessem sido feitos há uma semana, mas não doíam.

Aquilo tudo era muito confuso e nada parecia fazer sentido para mim. Pensei em procurar Absalom no dia seguinte e pedir que fosse sincero comigo, falando o que se passava em sua mente. O que ele achava sobre aquilo tudo. Adormeci tentando lembrar das cenas que Agatha havia me mostrado.

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— Gostaria de tentar algo novo nessa manhã — Absalom soltou, sentando-se no banco.

Assim que ele entrou no quarto, pedi que fosse sincero comigo. Estava angustiada por não entender o que se passava. Eu me ajeitei na cama, puxando a barra do vestido para baixo, que insistia em se enroscar em tudo quanto é lugar, fazendo-me parecer a pessoa mais desajeitada do universo.

— O quê? — perguntei, curiosa.

— Além do morango, já tentou fazer outro feitiço? — Cruzou os dedos das mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos.

Eu fiquei olhando para ele por algum tempo, tentando assimilar sua pergunta.

— Feitiço? Eu? — Sacudi a cabeça. — Não faço ideia de como fazer.

Ele olhou em volta e levantou-se, indo em direção a uma tocha que estava no canto do quarto. Como era de dia, ela estava apagada.

— Vou lhe mostrar — disse, e indicou que eu me aproximasse. Então se concentrou na ponta e ela se incendiou.

As Faces da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora