1. SÉRGIO: A VERTIGEM DO TEMPO

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Acordou num sobressalto. Corpo lavado de suor.

Resfolegante em busca de uma explicação. Por que daquele pesadelo?

Levantou—se com dificuldade e caminhou até o armário. Sentia—se fraco, não encontrou uma única peça de roupa sua. Eram roupas de outros corpos. Onde estava?

Uma calça e camisa serviram.

Desceria para tomar o café da manhã.

Parou diante do espelho, queria ver se pelo menos a cara ainda continuava a mesma. Gritou.

Ouviu passos. Era Suzana.

— Por que desse grito?

— ...dói muito!

— Mas você não deveria estar de pé. Ainda está fraco. Deve ficar deitado até se recuperar.

— Preciso me esforçar, senão vou ficar cada dia mais fraco.

— Quer ajuda para descer? Vamos comer juntos, vem.

Desceu a escada com dificuldade, enquanto a moça o amparava. Mordeu os lábios com força, tentando se livrar daquela dor na cabeça.

No andar de baixo deram com dois homens. A cabeça latejou.

— Quem são vocês?

Os homens se apresentaram.

Hans era o grandalhão, típico alemão. Suas bochechas vermelhas brilhavam sobre a tez muito branca e os cabelos loiros estavam desgrenhados. Bidget tinha certa aura de elegância. Era um homem de estatura mediana, com a careca brilhante e os cabelos pretos apenas ladeando de orelha a orelha até a nuca. Os olhos observadores se fixavam nele. Sentiu a invasão.

— Está melhor, meu caro? — Bidget questionou, tentando parecer tranquilo, mas com uma névoa de dor nos olhos.

— Podem explicar esta situação?

— Não se lembra...? — Hans, cauteloso.

— Lembro apenas das rajadas de metralhadoras sobre mim... — falou de forma mansa.

Os homens olharam-se intrigados.

De repente tudo girou. Desfaleceu.

Sua mente esfumaçada divagava entre banalidades. Lembranças boiando na superfície daquela consciência.

Flor de Lis. O nome saltou—lhe num flash. A mulher se delineou à sua frente. Aparentava uns quarenta anos. Percebia, por trás do aspecto desgastado, traços de beleza. Quem era aquela mulher?

A figura de Suzana se sobrepôs àquela imagem. Foi quem o ajudou a descer a escada. Bem mais jovem, mas a semelhança entre as duas era visível.

Percebia nela uma mestiça, brasileira descendente de índios, negros e alemães. Os cabelos eram lisos, de um castanho indefinido. Possuíam brilho indescritível. Mas o embevecia o corpo forte, esculpido de curvas, sob o rosto de menina. Os olhos verde—esmeralda compunham uma harmonia com o nariz bem feito e a boca pequena e carnuda, sempre úmida. Era alta. Talvez chegasse perto de 1,80m. Tinha a morenice de Flor de Lis. A curva da cintura se alongava até o seio ereto, quase desafiando o olhar masculino mais guloso.

O bumbum. Ah! O bumbum. Eram dois montes arredondados, dirigindo-se com perfeição àquela junção. Raiz de toda natureza. Deixava qualquer membro em estado de alerta —o pensamento dele bailou, envolvendo toda aquela imagem.

Suzana mexia com todos os nervos de seu corpo. Ele não conseguia resistir à atração e à excitação daquela garota.

Aquele monumento de mulher parecia divertir—se à custa dos dois homens.

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