3. ELISA : VIAGEM A VENEZA

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De novo as lembranças bailando na memória. Deixou Hans no laboratório com suas experiências para retornar à vidinha de vadiagem, experimentada naqueles dias na propriedade do amigo. Após flanar pelos espaços verdes, refrescou-se na cachoeira. Em pé, nas margens, observou a piscina natural. Retornou.

Enquanto caminhava para a casa, os raios dourados de sol ainda aqueciam as pedras, ladeando o caminho até o casarão. Ficou observando o trabalho feito por Flor de Lis. Era uma bela e aconchegante casa.

Na caminhada, tentou recordar sua viagem com Elisa a Veneza, mas o cérebro teve um lapso. A memória ficou branca. Não entendeu. Lembrou-se apenas de Hans ter mencionado a união amorosa e gentil mantida com Flor de Lis.

Sacudiu a cabeça como a espantar algo dolorido e indefinível. Ao entrar na casa, notou que estava bem limpa. Tão diferente da velha toca imunda e cheia de papéis e poeira onde vivia. Pairava o abandono dentro do peito pelo fim melancólico de seu casamento. A mulher desistira dele. Elisa o amava no início, mas agora...

Elisa? Quem é Elisa? — vasculhava o cérebro, em busca de respostas. As lembranças se materializavam em filmes coloridos como bolhas de sabão, explodindo a cada cena, vindo à tona todo seu relacionamento. Aquilo tinha virado um poço sem fundo. Mas ainda não localizava quem era Elisa. Sua mente atormentada tentava fugir daquela figura.

Veneza. A memória trouxe de volta a imagem daquela cidade, merecedora de visita! Fez economias porque precisava levar Elisa para conhecer aquele lugar, onde recendia romantismo. Era o sonho dela. Depois se deu conta de haver gastado o dobro do dinheiro previsto.

Fazia sua primeira viagem para fora do Brasil.

Foram quatro dias em Veneza. Recordou-se do passeio na Piazza San Marco. Elisa encostava a cabeça no ombro dele e apertava sua mão. Era final de novembro, época de poucos turistas, por isso a cidade estava mais interessante. Lembrar aquele dia confrangeu seu peito. A beleza de Veneza evaporou por completo.

Novamente o cérebro trouxe imagens. A neblina cobria a cidade quando ele saiu para dar uma volta pela manhã. Encontrou um festival de guarda-chuvas, o frio entrava em seus ossos, apesar do casaco e do sobretudo.

Retornou ao hotel. Deparou-se com Elisa e o chefe dela na cama. Sua cama. Seu quarto. Tinham transado enquanto ele caminhava. Ela tentou explicar. Ele a empurrou e fugiu. Fez as malas e voltou sozinho pra casa. A cabeça estalava de dor. Os sentimentos se sobrepondo. Ora sentia raiva, depois ódio mortal, seguidos de decepção. Depois veio aquela amargura infinita.

Voltou a ouvir Hans.

— Sinto muito não conhecer algum pesquisador médico para me auxiliar. Preciso de um profissional da medicina com habilidade e perícia para operar o cérebro a ser mapeado. O laboratório não detém equipamentos necessários para fazê-lo. Com certeza conseguirei isso no futuro, agora preciso mostrar serviço, dar a minha contrapartida.

As palavras saíam arrastadas. Os olhos estavam arregalados e um tique repuxava a boca para o lado esquerdo. Era o medo de perder tudo.

Elisa novamente se impôs. A dor estalou na cabeça. Sua volta de Veneza. Várias rondas noturnas, barzinhos, mulheres. Tentava esquecer a dor da traição ou penetrava ainda mais fundo nela?

Numa daquelas noites boêmias, num dos barzinhos de esquina em Curitiba, conheceu Joseph Bidget. Um médico pesquisador sobre genoma humano. Talvez ele pudesse ajudar Hans no desenvolvimento daquele projeto. Unir os dois estudiosos seria a ajuda necessária a Hans, e descobertas incomuns certamente viriam à luz.

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⏰ Última atualização: Jun 24, 2016 ⏰

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